“PING”
Vasco Mendonça, Sandro Aguilar
Ping, um dos mais fascinantes textos crepusculares de Samuel Beckett, é um objeto enigmático, que desafia mecanismos habituais de compreensão
Setenta frases sem verbos e com poucas palavras; processos combinatórios de de(re)composição da linguagem; um narrador/consciência narrativa encarcerado num espaço de clausura nunca nomeado, nunca descrito, apenas medido: “one yard by two”. Som e espaço, mecanismo e consciência: são estes os referenciais de um mapa poético de navegação no território secreto e fortificado de Beckett. Jamais coordenadas. Por essa razão, a peça Ping – para recitante, 5 instrumentos e vídeo – não pretende ser uma chave de interpretação do texto Ping: a fixação de um significado seria a sabotagem do laborioso esforço de dissimulação de Beckett, e uma subversão da urgência e do risco do seu teatro. Em Ping, a revelação é necessariamente parcial – como a de uma sonda, que o progredir no interior de um organismo, revela alterações, perigos, falhas. Será porventura esta a ideia do texto Ping que mais agressivamente contamina a peça Ping: o processo de depuração da existência humana como um mecanismo de revelação poética.
Ficha técnica
Texto Samuel Beckett
Música Vasco Mendonça
Vídeo Sandro Aguilar
Interpretação Joana Manuel (voz), ORCHESTRUTOPICA
Produção VH Produções
Coprodução DuplaCena/Festival Temps d’Images
“PING”
Vasco Mendonça, Sandro Aguilar
Ping, one of Samuel Beckett’s most fascinating twilight texts, is an enigmatic object that defies usual understanding mechanisms
Seventy sentences without verbs and with few words; combinatorial processes of language (re)composition; a narrator/narrative consciousness imprisoned in an unnamed enclosed space, never described, just measured: “one yard by two”. Sound and space, mechanism and consciousness: these are the references of a poetic map of navigation in the secret and fortified territory of Beckett. There are no coordinates. For that reason, the Ping show – with a reciter, 5 instruments and video – is not meant to be a key to the interpretation of the Ping text: the fixing of a meaning would be the sabotage of Beckett’s laborious effort of dissimulation, and a subversion of urgency and risk of his theater. In Ping, revelation is necessarily partial – like that of a probe, which its progress inside of an organism reveals changes, dangers, failures. Is it perhaps the idea of the Ping text that most aggressively contaminates the Ping show: the process of debugging human existence as a mechanism of poetic revelation.
Credits
Text Samuel Beckett
Soundtrack Vasco Mendonça
Video Sandro Aguilar
Performers Joana Manuel (voice), ORCHESTRUTOPICA
Production VH Produções
Co-production DuplaCena/Festival Temps d’Images