FUSO 2024 – 27 de Agosto a 1 de Setembro
30 Agosto, 22h00
Palácio Sinel de Cordes – Trienal de Arquitetura de Lisboa
A mera possibilidade de um futuro
Laila Hida
Das paisagens húmidas e secas – mares, rios, desertos e cidades – vêm contos de desaparecimento e ressurgimento que revelam a duradoura relação dos seres humanos com o seu meio ambiente. A água, nas suas diversas formas, e sendo um dos mais importantes elementos para a sobrevivência das espécies, há muito fascina cientistas, filósofos, contadores de histórias, historiadores e escritores, que procuram dar-lhe um nome, uma consistência, uma forma, para compreender o seu simbolismo. De acordo com inesgotáveis evidências científicas, e quando abordada de uma perspetiva antropocêntrica, a água está no centro das crises ambientais e dos mais significativos conflitos políticos contemporâneos.
Neste programa, as imagens compiladas das cisternas de Alexandria narram sonhos coletivos no Egito, que nunca se concretizaram. Também do Egito surge outra reconstituição histórica que retrata a grande inundação do delta do Nilo, de acordo com as profecias bíblicas de Nabi Daniel. Enquanto isso, numa cidade desconhecida desprovida de vida humana, uma planta tem sonhos recorrentes sobre ‘o último observador.’ Mais longe, no deserto marroquino, um homem escava a terra incessantemente para restaurar antigos sistemas de água, enfatizando a importância das técnicas ancestrais para a sobrevivência da sua comunidade.
Numa tapeçaria de narrativas, surge um fio condutor comum: a intrincada ligação entre mitos e destinos. As histórias espelham a resiliência, adaptabilidade e a luta da humanidade pela sobrevivência, entre desafios naturais, sociais e políticos. As obras falam sobre eventos que ocorreram em diferentes tempos e diferentes lugares, desvendando as modalidades de transmissão e mitificação da história através da tradição oral ou projetada nos écrãs dos media modernos.
Este programa apresenta, através de vários géneros e formatos, o emaranhamento da história e dos mitos, usando material de arquivo, found footage, imagens reconstruídas e narrativas, como forma de gerar novas mitologias e imagens sobre a água e sua representação política e poética.
(Laila Hida)
Driss Aroussi – Borj El Mechkouk
Este filme resulta de uma encomenda de uma aldeia num oásis. Um homem vai para o deserto para estudar, e eventualmente restaurar, um sistema de galerias subterrâneas por onde corre a água, chamado Khettara. Seguimos a sua jornada em Borj el Mechkouk, durante a qual ele trabalha e vive nesta zona árida. Que será que vai descobrir?
Marianne Fahmy – Magic Carpet Land
Inspirado nos diários escritos durante a década de 1930 por um oceanógrafo egípcio — que tentava conciliar o seu fascínio pelo Ocidente com o seu orgulho na sua formação Oriental — que embarcou numa expedição científica britânica realizada no primeiro navio de pesquisa científica ao Egito. A narrativa reflete os seus pensamentos sobre a colaboração com cientistas ingleses e a sua relação cada vez mais estreita com o mar. Ao longo da jornada, ele evoca eventos históricos e memórias que refletem as lutas sociais e políticas da época, levantando questões de nacionalismo e identidade.
O vídeo aborda este conflito de identidade estabelecendo um paralelo uma terra nómada que o navio representa.
Sara Mounia Kachiri – On the river, we celebrated
Duas irmãs, Khaddouj e Nejma Batta, relembram sua infância em Tahannaout, no Vale do Ourika, no sopé das Montanhas Atlas, por onde serpenteiam as águas cristalinas e jardins verdejantes do Rio Ourika.
Na sua aldeia acreditava-se que uma nascente perto de uma Alfarrobeira conferia longos e brilhantes cabelos negros àqueles que dela bebiam, atraindo vizinhos em busca dos seus reputados benefícios.
Elas vagueiam pelas suas memórias, entrelaçadas pela vida e pelas crenças em torno da nascente.
Créditos
Arquivos fotográficos, canções e histórias: Khaddouj e Nejma Batta
Realização e edição: Sarah Mounia Kachiri
Este filme foi feito no âmbito do workshop ‘Rivering Together’ de Manar Al Moursi, parte das Oficinas Coletivas da Fundação Dar Bellarj.
Agradecimentos: Maha El Madi, Rania Berrada, Manar Al Moursi, Francesca Masoero e Rim Mejdi
Islam Shabana – The Geomorphosis Cycle
The Geomorphosis Cycle (O Ciclo Geomórfico) é uma antologia que aborda a interseção entre as Tecnologias da Água e as mitologias à volta deste elemento, através de simulação, da ficção científica e da poesia. No Mediterrâneo, as cidades costeiras estão cada vez mais ameaçadas de serem engolidas pela subida das águas do mar, enquanto as cidades do interior enfrentam o risco de se afogarem sob as ondas de areia de um deserto em expansão. Entre as narrativas polarizadas de “submersão e seca”, os governos da região estão a começar a usar as tecnologias mais recentes e modelos verticais de governança para a construção de uma ‘cidade futurista’. afogarem
Filmado entre Alexandria e Marrakech, The Geomorphosis Cycle debruça-se sobre a política das crises de água provocadas pelo homem nestas regiões, enquanto especula sobre as transformações urbanas num mundo pós-antropoceno e ‘para além do humano’. Envolvidos por sons aleatórios de ventania e mares tempestuosos, os dois vídeos combinam as imagens dissonantes de inundações na costa egípcia de Alexandria, com a seca crescente nos terrenos de tamareiras de Marrakech.
As passagens bíblicas do Livro de Daniel para as sequências gravadas em Alexandria cruzam-se com a poesia do livro de Ibrahim Al-Koni “The Land And The Sea’’.
Lina Laraki – The last observer
Quando a vida humana na terra desapareceu de vez, uma intuição artificial entediada coneta-se com a vida não-humana. Uma planta tem um sonho recorrente sobre um ‘último observador’. Uma narrativa distópica ambientada num futuro especulativo tenta reconetar-nos a possíveis afetos perdidos. Todos os componentes do filme transportam-nos numa viagem através do tempo. A combinação das imagens de um futuro especulativo filmadas em Super 8, um formato do passado, cria um ambiente contemplativo e bastante cativante que nos lança diretamente em reflexões sobre inteligência artificial, antropocentrismo e autoprojeções.
FUSO 2024 – August 27th to September 1st
August 30th, 10pm
Palácio Sinel de Cordes – Trienal de Arquitetura de Lisboa
The mere possibility of a future
Laila Hida
From the wet and dry landscapes – deserts, seas, rivers, and cities – tales of disappearance and appearance reveal the enduring relation of humans to their environment. Water in its diverse forms as the most important element for the survival of different living species, has long fascinated scientists, philosophers, storytellers, historians, writers who sought to give it a name, a consistency, a shape, to grasp its symbolism. Despite the fact, according to scientific evidence to be inexhaustible, it remains inevitably at the heart of the most significant contemporary environmental crises and political conflicts when approached from the anthropocentric perspective.
Here, some compiled images of Alexandria’s cisterns narrate collective dreams in Egypt that never came to fruition. There, another historical re-composition depicts the great flooding of the delta through the biblical prophecies of Nabi Daniel. Meanwhile, in an unfamiliar city devoid of human life, a plant experiences recurring dreams about a ‘last observer.’ Further away, in the Moroccan desert, a man tirelessly excavates the earth to revive ancient water systems, emphasizing the significance of ancestral technologies for the community’s survival.
In a tapestry of narratives, a common thread surfaces: the intricate bond between myths and fates. The stories mirror humanity’s resilience, adaptability and struggle in navigating survival amidst natural, social, and political challenges.They speak about events that took place in different times and places, perhaps simultaneously, uncovering the modalities of transmission and mythification of history passed down through oral tradition or projected on the screens of modern media.
The selection here presents, across various genres, the entanglement of history and myths, using archive material, found footage, recomposed images, and storytelling to generate new mythologies and imagery on water and its political and poetical representation.
(Laila Hida)
Driss Aroussi – Borj El Mechkouk
Commissioned by his oasis village, a man goes into the desert to observe and eventually restore a system of underground water galleries called Khettara. We will follow his journey to the Borj el Mechkouk, during which he will work and live in this arid zone.
What will he discover?
Marianne Fahmy – Magic Carpet Land
Inspired by the diaries of an Egyptian oceanographer in the 1930s torn between his fascination with the West and his pride in his Oriental background, he was part of a British scientific expedition that took place on the first scientific research vessel in Egypt. The narrative imagines his thoughts regarding the collaboration with English scientists and his evolving relationship with the sea. Throughout the oceanographer’s journey, he recalls historical events and memories reflecting the social and political struggles of that time, raising questions of nationalism and identity.
The video addresses the conflict of identity and envisions the dream of a nomadic land that the vessel resembles.
Sara Mounia Kachiri – On the river, we celebrated
Khaddouj and Nejma Batta, two sisters, reminisce about their childhood in Tahannaout, at the foot of the Ourika Valley, renowned for its flowing waters and verdant gardens.
In their village, a spring near the Carob tree was believed to bestow long, lustrous black hair upon those who drank from it, attracting neighbours seeking its rumored benefits.
They wander through their memories, intertwined by life and beliefs around the source.
Credits:
Photographic archives, songs and stories: Khaddouj and Nejma Batta
Directing and Editing: Sarah Mounia Kachiri
This film was made as part of the workshop ‘Rivering Together’ By Manar Al Moursi, part of the Collective Workshops of the Dar Bellarj Foundation.
Thanks to Maha El Madi, Rania Berrada, Manar Al Moursi, Francesca Masoero and Rim Mejdi
Islam Shabana – The Geomorphosis Cycle
The Geomorphosis Cycle is an anthology looking into the intersection between water technologies and mythologies through simulation, science-fiction and poetry. In the Mediterranean, coastal cities are increasingly threatened by being swallowed by a rising sea, while inland ones face the risk of drowning under the waves of sand of an expanding desert. Between the polarised narratives of “submergence and drought”, governments in the region are beginning to use the latest technologies and top-down modes of governance for a ‘futuristic city’.
Spanning from Alexandria to Marrakech, The Geomorphosis Cycle explores the politics of human-made water crises in the region, while speculating about urban transformations in a post-anthropocene and more-than-human world. Surrounded by randomised sounds of wrestling winds and tempestuous seas, the two videos respectively combine the dissonant footage of flooding on the Egyptian coastline of Alexandria, with conditions of increasing drought in the in-lands terrains of the Marrakech palmgrove.
Biblical passages from Daniel for Alexandria’s sequences respond to the poetic verses by Ibrahim Al-Koni from his book “The Land And The Sea’’.
Lina Laraki – The last observer
After all human life disappeared from earth, a bored artificial intuition connects to non-human life. A plant is having a recurrent dream about a ‘last observer’. A dystopian narrative set in a speculative future tries to reconnect us to possible lost affects. All the components of the film take us on a journey through time. The pairing of the images of a speculative future shot with Super 8, a format from the past, creates a contemplative and rather endearing environment that throws us directly into reflections around artificial intelligence, anthropocentrism, and self projections.