FUSO 2025 – 26 a 31 de Agosto
28 Agosto, 22h00
MNAC (Rua do Capelo/Museu da Polícia)
SOB A AREIA
Manuela Marques
Os seis vídeos apresentados neste programa, que pertencem à coleção do Centre National des Arts Plastiques (CNAP) ou foram apoiados por esta instituição, apostam na diversidade formal e deslizam entre diversos modos operatórios: ficção, performance e documentário. Como as facetas de um caleidoscópio, exploram diferentes enfoques plásticos, à volta de um denominador comum.
O eixo que os une é a areia, como espaço físico e mental. A areia que vai do deserto de Atacama até às margens do oceano, passando por Saqqarah, no Egito, forma paisagens distintas, metáforas do desaparecimento dos mundos, do nosso mundo e dos seus objetos. Estas paisagens são depositárias silenciosas de uma catástrofe iminente que nos espreita (Laurent Grasso). Mas, em contraponto, também enviam um sinal forte: a possibilidade, no meio do caos do nosso mundo, de desvendar tesouros escondidos (Laure Prouvost), provocar o encontro entre contrários através de um esboço do infinito, como no vídeo de Paz Corona, despertar a memória de desastres passados e restituir, pela revelação da imagem, a memória ocultada (Bani Khoshnoudi) ou ainda evocar a indomável persistência daquilo que é vivo (Abdessamad El Montassir).
Esses filmes trazem mais perguntas do que respostas e abrem portas para paisagens sensíveis, que oscilam entre o visível e o invisível.
Como mostrar aquilo que escapa ao olhar? Como escutar aquilo que só pode ser murmurado? O que acontece às memórias bloqueadas, confiscadas? Que forma dar ao esquecimento? Estas obras despertam estas interrogações, convidando-nos a uma contemplação convexa, entre a ausência e a revelação. (Manuela Marques)
Atacama – Paz Corona
Paz Corona mostra, em Atacama, uma performance realizada após o seu regresso ao Chile. A uma altitude de 4.700 metros e ao longo de 4 horas, Paz Corona traça na areia do Deserto de Atacama, com sal do oceano Pacífico, uma imensa faixa de Möbius.
Aïn Diab – Ilias El Faris
É madrugada em Aïn Diab, a corniche de Casablanca, a avenida costeira ao longo do Oceano Atlântico. Com um detetor de metais, um homem vagueia sozinho pela praia. Na alvorada ele cava buracos na areia, mas nada encontra. Com a luz chegam os joggers e os donos com os seus cães domesticados. O homem vê a praia transformar-se num espaço de lazer onde apenas os cães vadios se parecem com ele.
Cynopolis – Camille Henrot
A câmera acompanha uma matilha de cães vadios que tomou conta de Saqqara, o local da primeira pirâmide do Egito. A montagem justapõe estas imagens com imagens de arquivo de escavações arqueológicas. Em Cynopolis a artista foca-se nos gestos dos trabalhadores que estão a restaurar a pirâmide. Em paralelo veem-se cenas de mulheres que separam sacos de plástico num aterro no Cairo.
El Chinero – um monte fantasmagórico – Bani Khoshnooudi
El Chinero é um monte situado 140 km a sul de Mexicali, na Baixa Califórnia,
o estado que faz fronteira a norte com a Califórnia.
Desconhece-se quando foi dado esse nome a este lugar, mas conta-se que ali ocorreu um episódio trágico em 1916. Ou talvez seja uma tragédia recorrente? Alguns anos após a Revolução Mexicana de 1910, a expulsão e perseguição de chineses e outros asiáticos que viviam no México há várias décadas provocaram um êxodo significativo.
Apesar da escassez de documentos e material de arquivo, acredita-se que cerca de cem migrantes chineses tenham ali morrido ao atravessar o deserto. Mito e identidade, realidade e ficção, fantasmas e memória. El Chinero é de certa forma, mas sem o ser oficialmente, um monumento a essas pessoas esquecidas e anónimas. Um lugar de tragédia sem vestígios ou traços do que aconteceu. Como preencher esse vazio com artefactos e imagens, criando um arquivo onde não existe nenhum?
Galb’Echaouf – Abdessamad El Montassir
Durante a investigação que estava a levar a cabo sobre um acontecimento que alterou profundamente a paisagem do Saara, no Sul de Marrocos, El Montassir deparou-se com o silêncio das gerações anteriores, que continuam assombradas por uma história que não conseguem contar.
Em Galb’Echaouf, o artista dirige a nossa atenção para paisagens e plantas, e para a poesia, em busca de indícios que pudessem ajudar na reconstrução desta amnésia para o passar de narrativas.
Sans titre (Sem título) – Laurent Grasso
O vídeo mostra uma rua que está a ser engolida por uma neblina cerrada.
FUSO 2025 – August 26th to 31st
August 28th, 10pm
MNAC (Rua do Capelo/Museu da Polícia)
UNDER THE SAND
Manuela Marques
The six videos selected for this program belong to the collection of the Centre National des Arts Plastiques (CNAP) or were funded by the institution. They embrace formal diversity and navigate across different operative modes: fiction, performance and documentary. Like the reflective surfaces of a kaleidoscope, they explore varied visual approaches, all revolving around a common denominator.
Sand acts as the pivotal element connecting the physical and mental dimensions of the works in this selection. The sand that stretches from the Atacama Desert to the shores of the ocean, passing through Saqqara in Egypt, shapes distinct landscapes which are metaphors for the disappearance of worlds, of our world and its objects. These landscapes are silent repositories of an impending catastrophe that looms over us (Laurent Grasso).
But, in contrast, they also send a powerful signal: the possibility, amid the chaos of our world, of uncovering hidden treasures (Laure Prouvost); of triggering encounters between opposites offering a glimpse of the infinite, as in Paz Corona’s video; of awakening the memory of past disasters and restoring suppressed memories revealed by images (Bani Khoshnoudi). Or even of evoking the untamed persistence of what is alive (Abdessamad El Montassir).
These films pose more questions than give answers, but they open doors to sensitive landscapes which oscillate between the visible and the invisible.
How can we show what eludes the gaze?
How can we hear what can only be whispered?
What becomes of blocked or confiscated memories?
What form can be given to forgetfulness?
These works put forth such questions, inviting us to a reflective contemplation that bridges absence and revelation. (Manuela Marques)
Atacama – Paz Corona
Atacama retraces the performance that Paz Corona carried out upon her arrival in Chile by tracing, for four hours, on the ground of the Atacama Desert, at an altitude of 4,700 meters, a massive Möbius strip using salt from the Pacific.
Aïn Diab – Ilias El Faris
It is dawn on Aïn Diab, Casablanca’s corniche. With a metal detector, a man walks the beach alone. He digs holes in the sand, without success, while the sun rises. With the light, the joggers, the owners and their domesticated dogs arrive. The man sees the beach transform into a recreation where only stray dogs resemble him.
Cynopolis – Camille Henrot
The camera follows a pack of stray dogs that have taken over Saqqara, the site of Egypt’s first pyramid. The editing juxtaposes these images with footage of archaeological excavations, highlighting the gestures of workers restoring the pyramid, alongside scenes of women sorting plastic bags in a Cairo landfill.
El Chinero – a phantasmal hill – Bani Khoshnooudi
El Chinero is a hill located 140 km south of Mexicali, in the Baja California region of Mexico. No one knows how long the site has had this name, but many people speak of a tragic episode that took place there in 1916… Or perhaps it’s a recurring tragedy? A few years after the Mexican Revolution of 1910, the expulsion and hunting of Chinese and other Asians who had been living in Mexico for several decades caused a significant exodus. Despite the lack of documents and archives on this subject, it is believed that around one hundred Chinese migrants died here while crossing the desert. Myth and identity, reality and fiction, ghosts and memory. El Chinero is, in a way, a monument to these forgotten and anonymous people, albeit not being one officially. A place of tragedy without vestiges or traces, without imprints of what happened. How can we fill this memory void with artifacts and images, creating an archive where none exists?
Galb’Echaouf – Abdessamad El Montassir
While investigating an event that profoundly changed the landscape of the Sahara in the south of Morocco, El Montassir was faced with the silence of previous generations who remain haunted by a history that they are unable to tell.
With “Galb’Echaouf”, the artist focuses our attention on landscapes, plants and poetry, in search of answers or elements that could participate in the reconstruction of this amnesia and the transmission of the narratives.
Sans titre – Laurent Grasso
The video depicts a street being engulfed by a mass of fog.