“CINEMATOGRAFIA – MUSICALIDADE #2”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
Se nas edições anteriores a ideia de coreografia no cinema não se reduzia às comédias musicais ou às cenas dançadas, nem a teatralidade no cinema à representação do teatro ou à presença visível do teatro dentro do filme, trata-se agora de abordar, pela segunda vez, a musicalidade como ela se revela nos diferentes aspetos da mise-en-scène dos filmes. Isso leva-nos a abordar a musicalidade no cinema não apenas pela utilização que pode ser feita da música nos filmes mas também, e sobretudo, pelo tratamento cinematográfico do tempo, quer seja pela montagem, o movimento, o contraponto imagem-som, as ruturas cronológicas, o ritmo, o leitmotiv, a alternância das luzes, etc.
Desde os primórdios do cinema que os realizadores reivindicaram uma forma cinematográfica mais próxima da musicalidade do que da narrativa.
Foi nomeadamente o caso das avant-garde francesas, mas também das alemãs dos anos 20, ainda na época do cinema mudo, que procuravam libertar o cinema das reproduções teatrais ou literárias. Desconstrução da narrativa pela fragmentação, o estilhaçar do tempo, a procura de um ritmo fora de um contexto narrativo.
Mas a musicalidade no cinema não se esgota evidentemente com o fim das suas pesquisas formais. Com a chegada do cinema sonoro, a banda sonora, vai participar nisso muito fortemente: a relação entre ruídos e sons naturais, a textura das vozes, os silêncios…
Esta segunda edição dedicada às relações cinematografia-musicalidade abre pistas, daí a grande variedade de filmes propostos, desde os filmes do início do cinema sonoro – período tão rico no trabalho da relação do som e da imagem e tão pouco conhecido, aos filmes contemporâneos, passando por filmes de animação, por filmes conhecidos ou desconhecidos.
Esta programação procura, desde a sua primeira edição, levar o espectador a abordar os filmes – mesmo aqueles que já conhece – com um novo olhar (e um novo ouvido) e a redescobri-los graças à simples alteração do ponto de vista, desta vez através da musicalidade. Mas procura ainda propor filmes pouco vistos (e pouco conhecidos) em Portugal.
São assim apresentados em 2012 filmes de Sadao Yamanaka, Jean Grémillon, Otto Preminger, Jean Renoir, Mani Kaul, P. P. Pasolini mas também filmes de George Kuchar, Dudley Murphy, Humphrey Jennings, Peter Nestler, Jean-Marie Straub, Pedro Costa, Rita Azevedo Gomes, etc.
Como acontece desde a sua primeira edição, é a relação entre os filmes escolhidos, o catálogo, constituído por textos em grande parte originais, e o encontro com os autores dos textos, realizadores, críticos, escritores, encenadores, atores, etc., o que constitui a base e a matéria que determina este programa.
Para além da equipa de coordenação que formamos com Ricardo Matos Cabo, participou ativamente neste programa, Bernard Eisenschitz, Pierre Léon, Renaud Legrand, Cyril Neyrat, Stéfani de Loppinot, Marcos Uzal, Florent Guézenguar, Luís Miguel Oliveira, com quem temos vindo a criar um diálogo em torno das relações entre o cinema e as outras artes. Para além dos nomes já citados e que estarão connosco contamos ainda com a presença de outros cineastas e autores quer de textos originais para este catálogo ou que virão apresentar e dialogar sobre os filmes, como Alberto Seixas Santos, Carlos de Pontes Leça, Diogo Dória, que escreveram textos originais sobre alguns dos filmes deste programa.
Pierre-Marie Goulet e Teresa Garcia
“CINEMATOGRAFIA – MUSICALIDADE #2”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
If in the previous editions the idea of choreography in the cinema was not limited to musical comedies or dance scenes, nor the theatricality in cinema to the representation of the theater or to the theater’s visible presence within the film, it is time to address, for the second time, the musicality as it unfolds in the different aspects of the films’ mise-en-scène. This leads us to approach musicality in the cinema not only by the use that can be made of music in films but also, and above all, by the cinematographic treatment of time, whether by the editing, the movement, the counterpoint between image and sound, the chronological ruptures, the rhythm, the leitmotiv, the alternating of lights, etc.
Since the beginning of cinema, filmmakers have claimed a cinematic form closer to musicality than narrative.
This was notably the case of the French avant-garde, but also of the German one in the 1920s, still in the silent film era, who sought to liberate cinema from theatrical or literary reproductions. The narrative deconstruction by fragmentation, the shattering of time, the search for a rhythm outside a narrative context.
But the musicality in cinema is not exhausted with the end of its formal investigations, evidently. With the arrival of sound cinema, the soundtrack will be very preponderant: the relationship between noise and natural sounds, the texture of voices, silences…
This second edition, dedicated to the relationship between cinematography and musicality brings us other proposals, from the early films of the sound cinema – a period so rich in the work of the relationship between sound and image and so less known – to the contemporary films, passing through animated films, through the known and the unknown ones.
Since its first edition, this program has sought to get the viewer to approach the films – even those who already know them – with a new look (and a new ear) and to rediscover them by the simple change of point of view, this time through musicality. But it also seeks to propose lesser-known films in Portugal.
This year we are presenting films by Sadao Yamanaka, Jean Grémillon, Otto Preminger, Jean Renoir, Mani Kaul, P. P. Pasolini and also films by George Kuchar, Dudley Murphy, Humphrey Jennings, Peter Nestler, Jean-Marie Straub, Pedro Costa, Rita Azevedo Gomes, etc.
As it happens since its first edition, it is the relationship between the chosen films, the catalog, consisting of largely original texts, and the encounter with the authors of the texts, filmmakers, critics, writers, theater directors, actors, musicians, which forms the basis and subject matter of this program.
In addition to the coordination team we have formed with Ricardo Matos Cabo, also actively participated in this program Bernard Eisenschitz, Cyril Neyrat, Stéfani de Loppinot, Marcos Uzal, Florent Guézenguar and Luís Miguel Oliveira, with whom we have been creating a discussion around the relationship between cinema and other arts. Furthermore, we also count on the presence of other filmmakers and authors who will come to present and dialogue about the films, such as Alberto Seixas Santos, Carlos de Pontes Leça, Diogo Dória, who wrote original texts about some of the films in this program.
Pierre-Marie Goulet and Teresa Garcia