“CINEMATOGRAFIA – CINEMATOGRAFIA #2”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
Como em 2013, este ano a programação cinematográfica do Festival Temps d’Images, gira à volta do próprio cinema, e foi concebida por Pierre-Marie Goulet, Teresa Garcia, Ricardo Matos Cabo, Bernard Eisenschitz, com contribuições de Marcos Uzal, CyrilNeyrat e a colaboração da Cinemateca.
E como é costume nesta programação, cada sessão aproxima filmes de épocas, e eventualmente de estilos, muito diferentes, estabelecendo paralelos, evidentes ou secretos. Poderemos assim rever grandes clássicos de Dreyer, Christensen, Stiller, Sjöström, Hitchcock, Sternberg, Mamoulian, Epstein, Vigo, Keaton, ao lado de obras de grandes nomes da vanguarda, de momentos dos primórdios do cinema, de filmes feitos diretamente sobre o cinema (sobre Abel Gance, Eric Rohmer ou Henri Alekan) e de trabalhos de autores tão diferentes quanto Pierre Creton e Rita Azevedo Gomes, num panorama que vem lembrar ao espectador que um filme nunca é uma obra inteiramente isolada, existe sempre em relação a outros filmes.
PROGRAMA
Sala Félix Ribeiro – 4 de Novembro, 21h30 – Sessão apresentada por Bernard Einsenschitz e Miguel Marias
LE COEUR ET L’ARGENT | Louis Feuillade e Léonce Perret
com Suzanne Grandais, Renée Carl, Raymond Lyon
França, 1912, 15 minutos, mudo, intertítulos em francês, traduzidos eletronicamente em português
DOROGOY CENOY (O Cavalo que Chora) | Mark Donskoi
com Vera Donskaya, Yuri Dedovich, Ivan Tverdokhlkeb
URSS, 1957, 98 minutos, legendado eletronicamente em português
Ao lado de QUANDO PASSAM AS CEGONHAS, de Mikhail Kalatozov, O CAVALO QUE CHORA foi um dos filmes marcantes do “degelo” soviético da era Khrushchev. Realizado por Mark Donskoi, que se fizera notar sobretudo pela chamada “Trilogia de Gorki” nos finais dos anos 30. O CAVALO QUE CHORA é um drama romântico situado em 1830: dois servos ucranianos que se amam são separados pelo seu senhor, que casa a mulher com outro homem e manda o seu amado para a tropa. Mas ela foge e o par esconde-se, com a ajuda de um grupo de ciganos. A abrir a sessão, um breve e poderoso melodrama correalizado por Louis Feuillade e Léonce Perret, duas das mais fortes personalidades do cinema francês do período, com destaque para o uso, então insólito, da tela dividida ao meio (split screen).
Sala Félix Ribeiro – 5 de Novembro, 19h – Sessão apresentada por Marcos Uzal
HÄXAN O HÄXAN (A Feitiçaria Através dos Tempos) | Benjamin Christensen
com Benjamin Christensen, Emmy Schönfeld, Alice Fredericksen
Suécia, 1921, 106 minutos, mudo, intertítulos em sueco, traduzidos eletronicamente em português, M/12
Depois de realizar melodramas e filmes policiais no seu país natal, o dinamarquês Benjamin Christensen realizou na Suécia este filme que garantiu a perenidade do seu nome na História do Cinema. Ilustrando diversos casos de feitiçaria (uma mulher frustrada que tem relações sexuais com o demónio, uma velha acusada de feitiçaria) e inspirando-se nos mestres da pintura alemã e flamenga do século XVI, Christensen assinou uma extraordinária obra-prima, que também pode ser vista como um requisitório contra o puritanismo e a intolerância. Um dos pontos altos do cinema mudo.
Sala Félix Ribeiro – 5 de Novembro, 21h30
LA CROISSANCE DES VÉGÉTAUX | Jean Comandon
França, 1929, 12 minutos
JEKYLL AND MR. HYDE (O Médico e o Monstro) | Rouben Mamoulian
com Fredric March, Miriam Hopkins, Rose Hobart
Estados Unidos, 1932, 82 minutos, legendado em português
Duração total da sessão: 94 minutos, M/12
Esta versão de DR. JEKYLL AND MR. HYDE é um importante momento da história do cinema, pelo que revela da maestria de Mamoulian e dos seus contributos para a linguagem cinematográfica nos anos de adaptação ao som, representando a súmula das experiências feitas nos seus filmes anteriores. Por muitos tido como a melhor das adaptações do romance de Robert Louis Stevenson, destaca-se também pela carga erótica que o percorre, com Miriam Hopkins no papel da prostituta. A abrir a sessão, um filme científico de Jean Comandon, médico francês que inventou a microfotografia e foi um dos primeiros a utilizar o cinema com objetivos científicos.
Sala Félix Ribeiro – 6 de Novembro, 19h – Sessão apresentada por Florent Guézengar
COEUR FIDÈLE | Jean Epstein
com Léon Mathot, Gina Manès, Edmon van Daële
França, 1923, 85 minutos, mudo, intertítulos em francês, traduzidos eletronicamente em português, M/12
Ligado ao documentário e à vanguarda dos anos 20, autor de brilhantes textos teóricos, Jean Epstein (1897-1953) foi uma das personalidades mais singulares e talentosas da sua geração no cinema francês. COEUR FIDÈLE, a sua segunda longa-metragem, é considerada uma das suas obras-primas. A trama narrativa mostra a rivalidade, nos meios populares de Marselha, entre um honesto trabalhador e um mauvais garçon, interessados pela mesma mulher. A montagem, o sentido do ritmo cinematográfico, faz deste filme um dos pontos culminantes do que à época se chamou o impressionismo no cinema, a capacidade de narrar de forma oblíqua, num verdadeiro contraponto de imagens.
Sala Félix Ribeiro – 6 de Novembro, 21h30 – Sessão apresentada por Rita Azevedo Gomes
A VINGANÇA DE UMA MULHER | Rita Azevedo Gomes
com Rita Durão, Fernando Rodrigues, Hugo Tourita
Portugal, 2012, 100 minutos, M/12
Sétimo filme e quarta longa-metragem de ficção de Rita Azevedo Gomes, apresentado em vários festivais (Edimburgo, Viennale, Buenos Aires, entre outros), A VINGANÇA DE UMA MULHER adapta o conto homónimo de Barbey d’Aurevilly, no qual uma mulher decide vingar-se do seu marido, que matara o seu amante. Esta vingança terá uma forma terrível, da qual ela própria será vítima. Com fotografia de Acácio de Almeida e magnífico desempenho de Rita Durão no papel principal, A VINGANÇA DE UMA MULHER tem uma mise-en-scène rigorosa e totalmente dominada.
Sala Félix Ribeiro – 7 de Novembro, 19h – Sessão apresentada por Florent Guézengar
HAND HELD DAY | Gary Beydler
Estados Unidos, 1974, 6 minutos, sem diálogos
VAMPYR | Carl Th. Dreyer
Com Julian West, Maurice Schultz, Sybille Schmitz
França, Alemanha, 1930, 65 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 71 minutos, M/12
Longe das mitologias habituais dos filmes de vampiros, VAMPYR é “um filme de terror banhado numa claridade puríssima. Um filme sonoro que reinventa a noção de cinema mudo”, como escreveu Edgardo Cozarinsky sobre esta obra-prima de Carl Th. Dreyer, poema de morte e ressurreição pela luz do cinema, inspirado na novela Carmilla de Sheridan Le Fanu. VAMPYR é um dos pontos culminantes da arte de um dos maiores realizadores de sempre. A abrir a sessão, HAND HELD DAY, de Gary Beydler, feito num plano único durante 14 horas, numa estrada do Arizona, da alvorada ao crepúsculo.
Sala Félix Ribeiro – 7 de Novembro, 21h30 – Sessão apresentada por Cyril Neyrat
LA VIE APRÈS LA MORT | Pierre Creton
França, 2002, 23 minutos, legendado eletronicamente em português
L’HEURE DU BERGER | Pierre Creton
França, 2008, 40 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 63 minutos, M/12
Formado pela Escola de Belas-Artes do Havre e trabalhador agrícola, Pierre Creton é autor de uma obra extremamente coerente. Os dois filmes que apresentamos formam um díptico à volta da figura de Jean Lambert, um amigo do realizador, muito mais velho do que ele. Em LA VIE APRÈS LA MORT vemos os dois amigos que leem em voz alta trechos de livros, ouvem discos e esperam uma coisa: a morte de Lambert. Em L’HEURE DU BERGER, realizado alguns anos depois desta morte, Creton retoma o material do primeiro filme, num trabalho de luto, que também é uma meditação: “um certo tipo de vida quotidiana (horas fixas, as mesmas pessoas, formas e lugares da piedade) fazia nascer pensamentos sobrenaturais.”
Sala Félix Ribeiro – 8 de Novembro, 15h30
HERR ARNES PENGAR (O Tesouro de Arne) | Mauritz Stiller
Com Mary Johnson, Richard Lund, Hjamer Selander
Suécia, 1919, 100 minutos, mudo, intertítulos em sueco, traduzidos em português, M/12
Uma obra-prima, baseada num conto de Selma Lagerlöff, que mostra a que nível artístico o cinema chegara na década de 10. O TESOURO DE ARNE tem por cenário a Suécia na Idade Média, contando a história de três evadidos que matam um fazendeiro para se apoderarem de um tesouro e ficam com a fuga cortada pela neve. Inesquecível presença feminina de Mary Johnson e imagens deslumbrantes onde se destacam as cenas do desfile fúnebre final.
Sala Félix Ribeiro – 8 de Novembro, 19h
DISHONORED (Fatalidade) | Josef von Sternberg
Com Marlene Dietrich, Victor McLaglen, Lew Cody, Warner Oland, Gustav von Seyffertitz
Estados Unidos, 1931, 91 minutos, legendado em português, M/12
No “duelo” que as duas divas dos anos 30, Marlene e Greta Garbo, travaram por imposição dos estúdios (Paramount e MGM, respetivamente), DISHONORED é uma resposta a MATA HARI, interpretada pela segunda. E é imensamente superior, não só pela qualidade da encenação de Sternberg, naquele que talvez seja o seu filme mais venenoso e fetichista, como pela imagem transmitida por Marlene Dietrich, de um erotismo inultrapassável, na figura de uma espia (Agente X27) que se deixa matar por amor durante a primeira grande guerra. A cena do fuzilamento é uma das mais provocantes do cinema americano antes do código da censura.
Sala Luís de Pina – 8 de Novembro, 19h30 – Sessão apresentada por Bernard Eisenschitz
CONEY ISLAND AT NIGHT | Edwin S. Porter
Estados Unidos, 1905, 4 minutos, sem intertítulos
ROMANCE OF RADIUM | Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1937, 10 minutos, legendado eletronicamente em português
7 FAUX RACCORDS | Raul Ruiz
com Henri Alekan, Olímpia Carisi, Raul Ruiz
França, 1984, 60 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 74 minutos, M/12
Este programa, que vai dos primórdios do cinema aos anos 80, é organizado à volta da luz. CONEY ISLAND AT NIGHT, do pioneiro Edwin S. Porter (realizador do celebérrimo THE GREAT TRAIN ROBBERY) está resumido no seu título. Realizado para a conhecida e ambiciosa séria da televisão francesa CINÉMA CINÉMAS, o filme de Raul Ruiz consiste numa aula sobre a luz no cinema, dada pela grande diretor de fotografia Henri Alekan, a quem Ruiz pediu que fizesse sete cenas com uma atriz. Entremeado neste programa, uma curta-metragem didática de Jacques Tourneur sobre a descoberta do rádio por Pierre e Marie Curie.
Sala Félix Ribeiro – 8 de Novembro, 21h30 – Sessão apresentada por Bernard Eisenschitz
L’ATALANTE (O Atalante) | Jean Vigo
Com Jean Dasté, Dita Parlo, Michel Simon
França, 1934, 89 minutos, legendado em português, M/12
A única longa-metragem de Jean Vigo. Um filme libérrimo, que sintetizou todas as buscas estéticas do cinema francês de começos da década de 30, segundo palavras de Henri Langlois. Doente, Vigo não pôde controlar a montagem e o filme foi massacrado pela Gaumont, sendo distribuído como LE CHALAND QUI PASSE (título de uma canção de sucesso, que foi inserida arbitrariamente no filme). Só nos anos 90 se chegou a uma versão (contestadíssima) de L’ATALANTE de que se disse seguir as intenções do cineasta. Jean Dasté, Dita Parlo e Michel Simon conquistam a eternidade cinematográfica nesta obra incomparável.
Sala Luís de Pina – 8 de Novembro, 22h – Sessão apresentada por Bernard Eisenschitz e Marcos Uzal
DEMOLISHING AND BUILDING UP THE STAR THEATRE | Frederick Armitage
Estados Unidos, 1902, 3 minutos
QUELQUES REMARQUES SUR LA RÉALISATION ET LA PRODUCTION DU FILM SAUVE QUI PEUT (LA VIE) | Jean-Luc Godard
Suíça, 1979, 10 minutos, legendado eletronicamente em português
KÖRKARLEN (O Carro Fantasma) | Victor Sjöström
Com Victor Sjöström, Hilda Borgstrom, Tore Svenberg, Astrid Hohn
Suécia, 1921, 106 minutos, mudo, intertítulos em sueco, traduzidos eletronicamente em português
Duração total da sessão: 119 minutos, M/16
Adaptação do famoso romance de Selma Lagerloff, KÖRKARLEN é um dos filmes mais famosos de Victor Sjöström (principalmente pelos efeitos especiais), incursão no fantástico sobre a lenda da “carroça da Morte” e do seu condutor: o ser que morre à última badalada da noite de São Silvestre. A obra-prima de Sjöström é um dos grandes clássicos do mudo. A abrir a sessão, DEMOLISHING AND BUILDING UP THE STAR THEATRE capta a demolição de um cinema nas suas diversas etapas, seguido de um trabalho em que Jean-Luc Godard reflete sobre o filme que o trouxe de volta ao circuito comercial do cinema, SAUVE QUI PEUT (LA VIE).
Sala Félix Ribeiro – 10 de Novembro, 19h – Sessão apresentada por Florent Guézengar
SABOTEUR (Sabotagem) | Alfred Hitchcock
Com Robert Cummings, PriscillaLane, Otto Kruger
Estados Unidos, 1942, 100 minutos, legendado eletronicamente em português, M/12
Realizado em plena Segunda Guerra Mundial, SABOTEUR é um filme de espionagem, em que um trabalhador de uma fábrica de armamento é falsamente acusado de ser responsável por um incêndio e acaba às voltas com uma organização que trabalha para a Alemanha nazi. Toda a mestria de Hitchcock se encontra neste filme que antecipa NORTH BY NORTHWEST: o suspense, o MacGuffin e uma espetacular sequência no desenlace, na Estátua da Liberdade. Por incrível que pareça, a ultra-hitchcockiana Cinemateca Portuguesa não programava este filme há mais de trinta anos!
Sala Félix Ribeiro –10 de Novembro, 21h30 – Sessão apresentada por FlorentGuézengar
LE RÊVE DU RADJAH OU LA FORÊT ENCHANTÉE | Georges Méliès
França, 1900, 3 min, sem intertítulos
SHERLOCK JR. (Sherlock Holmes Jr.) | Buster Keaton
Com Buster Keaton, Kathryn McGuire, Ward Crane
Estados Unidos, 1924, 50 minutos, mudo, intertítulos em inglês, traduzidos em espanhol
Duração total da sessão: 53 minutos, M/12
SHERLOCK JR. é um dos momentos maiores da obra do cómico impassível, Buster Keaton, na figura de um candidato a detetive inspirado nas aventuras do popular herói criado por Conan Doyle. Mas este genial filme burlesco é também uma reflexão sobre a magia do cinema, com a personagem de Keaton sofrendo, numa tela, todos os «acidentes» provocados pelas mudanças de planos. A abrir a sessão, uma das mais conhecidas féeries de Georges Méliès, em que um sultão luta com uma árvore, que se transforma num demónio, até que ele percebe que estava a sonhar.
Sala Luís de Pina – 11 de Novembro, 19h30
RAINBOW DANCE | Len Lye
Grã-Bretanha, 1936, 4 minutos, sem intertítulos
HALLELUJAH, THE HILLS! | Adolfas Mekas
Com Peter Beard, Martin Greenbaum, Sheila Finn, Peggy Steffans
Estados Unidos, 1963, 85 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 89 minutos, M/12
HALLELUJAH THE HILLS! é uma comédia e um clássico do cinema nova-iorquino de inícios dos anos 60. Dois amigos, diferentes em tudo, decidem ir para as florestas do Vermont, numa tentativa de aplacar a obsessão que sentem pela mesma mulher (personificada por duas atrizes diferentes), que os deixou. Segue-se uma série de situações extravagantes, num tom que oscila entre o nonsense do cinema americano burlesco e a rapidez de certos filmes da Nouvelle Vague. A abrir a sessão, RAINBOW DANCE, filme de publicidade sobre as cadernetas de poupança dos correios, um dos clássicos de Len Lye, que foi o primeiro cineasta de animação a desenhar diretamente sobre a película.
Sala Luís de Pina – 11 de Novembro, 22h – Sessão apresentada por Marcos Uzal
AUTOUR DE LA FIN DU MONDE | Eugène Deslaw
Com Abel Gance
França, 1930, 15 minutos, legendado eletronicamente em português
LA FABRIQUE DE CONTE D’ÉTÉ | Jean-André Fieschi e Françoise Etchegarray
Com Eric Rohmer, Melvil Poupaud, Amanda Langlet
França, 2005, 93 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão:108 minutos, M/12
Um programa com dois filmes sobre o cinema, mais exatamente sobre dois filmes específicos de dois cineastas franceses que tudo separa: o enfático e ingénuo Abel Gance, o refinado e ultracerebral Eric Rohmer. Eugène Deslaw capta, como diz o título, o que está à volta de LA FIN DU MONDE, obra de ficção científica de Gance, na qual antes que um cometa venha destruir a Terra um cientista consegue proclamar uma República Universal… Jean-André Fieschi, que foi uma das grandes assinaturas dos Cahiers du Cinéma nos anos 60 e realizou o clássico PASOLINI L’ENRAGÉ, aborda o trabalho de Rohmer no terceiro dos seus CONTOS DAS QUATRO ESTAÇÕES, num período em que o realizador mostrava personagens cada vez menos sofisticadas, através de um sistema de cinema extremamente elaborado e pessoal, ultrassofisticado sob a sua aparente simplicidade.
Sala Félix Ribeiro – 12 de Novembro, 19h – Sessão apresentada por Marcos Uzal
REMAINS | Pierre Léon
França, 2014, 20 minutos, legendado eletronicamente em português
EL SUR | Victor Erice
Com Omero Antonutti, Sonsoles Aranguren, Iciar Bollain, Lola Cardona, Rafaela Aparicio
Espanha, França, 1983, 95 minutos, legendado eletronicamente em português
Duração total da sessão: 115 minutos, M/12
EL SUR é a segunda das três longas-metragens realizadas até hoje por Victor Erice. O filme é visto através do olhar de uma menina que se defronta com os mistérios da vida que vai descobrindo e se lhe vão revelando até ser uma adolescente e deixar o espaço em que quase sempre permaneceu, partindo para o Sul. Sul que já não veremos, porque Erice viu-se impossibilitado de concluir o filme como desejaria por problemas de produção. O filme mais “clássico” do mais “cinéfilo” dos cineastas espanhóis modernos. A abrir a sessão, o filme mais recente de Pierre Léon, inspirado em Fritz Lang e Richard Wagner, segundo o realizador, um devaneio que nos leva a um mundo subterrâneo, com deuses e monstros.
“CINEMATOGRAFIA – CINEMATOGRAFIA #2”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
As in 2013, this year’s film program of Temps d’Images Festival revolves around cinema itself, curated by Pierre-Marie Goulet, Teresa Garcia, Ricardo Matos Cabo, Bernard Eisenschitz, with the support of Marcos Uzal, Cyril Neyrat and the Portuguese Cinematheque.
And as usual in this line-up, each session brings together films of very different times, and eventually styles, establishing parallels, obvious or hidden ones. Here we can review great classics by Dreyer, Christensen, Stiller, Sjöström, Hitchcock, Sternberg, Mamoulian, Epstein, Vigo, Keaton, alongside works by great names of the vanguard, from the early days of cinema, films made directly onto cinema itself (about Abel Gance, Eric Rohmer or Henri Alekan) and works by authors as distinct as Pierre Creton and Rita Azevedo Gomes, in a panorama which reminds the viewer that a film is never a completely isolated work, it always exists in relation to other films.
PROGRAM
Auditorium Félix Ribeiro – November 4, 9:30pm – Session presented by Bernard Einsenschitz and Miguel Marias
LE COEUR ET L’ARGENT | Louis Feuillade and Léonce Perret
With Suzanne Grandais, Renée Carl, Raymond Lyon
France, 1912, 15 minutes, no sound, intertitles in french, electronically subtitled into Portuguese
DOROGOY CENOY | Mark Donskoi
With Vera Donskaya, Yuri Dedovich, Ivan Tverdokhlkeb
USSR, 1957, 98 minutes, electronically subtitles in Portuguese
Next to Mikhail Kalatozov’s THE CRANES ARE FLYING, DOROGOY CENOY was one of the notable films of the Soviet “thaw” of the Khrushchev era. It was directed by Mark Donskoi, who was noted above all by the so-called “Gorky Trilogy” in the late 30s. DOROGOY CENOY is a romantic drama set in 1830: two Ukrainian servants who love each other are separated by their master, who marries the woman with another man and sends her beloved to the army. But she runs away and the couple hides, with the help of a group of gypsies. Opening the session, a brief and powerful melodrama co-directed by Louis Feuillade and Léonce Perret, two of the strongest personalities of French cinema of that period, highlighting the use of split screen, unusual back then.
Auditorium Félix Ribeiro – November 5, 7pm – Session presented by Marcos Uzal
HÄXAN O HÄXAN | Benjamin Christensen
With Benjamin Christensen, Emmy Schönfeld, Alice Fredericksen
Sweden, 1921, 106 minutes, no sound, intertitles in Swedish, electronically subtitled into Portuguese, M/12
After directing melodrama and police films in his home country, the Danish filmmaker Benjamin Christensen directed in Sweden this film which guaranteed the perennially of his name in the History of Cinema. Depicting several cases of witchcraft (a frustrated woman who has sex with the devil, an old woman accused of witchcraft) and drawing inspiration from the masters of 16th-century German and Flemish painting, Christensen signed an extraordinary masterpiece, which can also be seen as an indictment against Puritanism and intolerance. One of the highlights of the silent film era.
Auditorium Félix Ribeiro – November 5, 9:30pm
LA CROISSANCE DES VÉGÉTAUX | Jean Comandon
France, 1929, 12 minutes
- JEKYLL AND MR. HYDE | Rouben Mamoulian
With Fredric March, Miriam Hopkins, Rose Hobart
United States, 1932, 82 minutes, subtitled in Portuguese
Session length: 94 minutes, M/12
This version of DR. JEKYLL AND MR. HYDE is an important moment in the history of cinema, revealing Mamoulian’s mastery and his contributions to the cinematographic language in the time of the adaptation to sound, representing the summary of the experiences made in his previous films. Considered by many as the best of Robert Louis Stevenson’s novel adaptations, it is also noted for its erotic charge, with Miriam Hopkins as the prostitute. Opening the session, a scientific film by Jean Comandon, a French doctor who invented microphotography and was one of the first to use cinema for scientific purposes.
Auditorium Félix Ribeiro – November 6, 7pm – Session presented by Florent Guézengar
COEUR FIDÈLE | Jean Epstein
With Léon Mathot, Gina Manès, Edmon van Daële
France, 1923, 85 minutes, no sound, intertitles in French, electronically subtitled into Portuguese, M/12
Linked to the documentary and the vanguard of the 1920s, author of brilliant theoretical texts, Jean Epstein (1897-1953) was one of the most unique and talented personalities of his generation in French cinema. COEUR FIDÈLE, his second feature film, is considered one of his masterpieces. The plot shows the rivalry, in the popular circles of Marseilles, between an honest worker and a mauvais garçon, interested in the same woman. The editing, the sense of cinematographic rhythm, makes this film one of the highlights of what at the time was called impressionism in cinema, the ability to narrate obliquely, in a true counterpoint of images.
Auditorium Félix Ribeiro – November 6, 9:30pm – Session presented by Rita Azevedo Gomes
A VINGANÇA DE UMA MULHER | Rita Azevedo Gomes
With Rita Durão, Fernando Rodrigues, Hugo Tourita
Portugal, 2012, 100 minutes, M/12
The seventh film and fourth feature one by Rita Azevedo Gomes, screened in several festivals (Edinburgh, Viennale, Buenos Aires, among others), THE REVENGE OF A WOMAN adapts the eponymous tale of Barbey d’Aurevilly, in which a woman decides to take revenge on her husband, who had killed her lover. This revenge will happen in a terrible way, of which she herself will be a victim. With the cinematography by Acácio de Almeida and the magnificent performance of Rita Durão in the leading role, THE REVENGE OF A WOMAN has a rigorous and totally mastered mise-en-scène.
Auditorium Félix Ribeiro – November 7, 7pm – Session presented by Florent Guézengar
HAND HELD DAY | Gary Beydler
United States, 1974, 6 minutes, no dialogues
VAMPYR | Carl Th. Dreyer
With Julian West, Maurice Schultz, Sybille Schmitz
France, Germany, 1930, 65 minutes, electronically subtitled intoPortuguese
Session length: 71 minutes, M/12
Far from the usual mythologies of vampire films, VAMPYR is “a horror film bathed in pure clarity. A sound film which reinvents the notion of silent film”, as Edgardo Cozarinsky wrote about this masterpiece by Carl Th. Dreyer, a poem of death and resurrection in the light of cinema, inspired by the novel Carmilla by Sheridan Le Fanu. VAMPYR is one of the highlights of one of the greatest filmmakers ever. Opening the session, Gary Beydler’s HAND HELD DAY, made on a 14-hour single shot, by an Arizona road from dawn to dusk.
Auditorium Félix Ribeiro – November 7, 9:30pm – Session presented by Cyril Neyrat
LA VIE APRÈS LA MORT | Pierre Creton
France, 2002, 23 minutes, electronically subtitled into Portuguese
L’HEURE DU BERGER | Pierre Creton
France, 2008, 40 minutes, electronically subtitled into Portuguese
Session length: 63 minutes, M/12
Graduated from the School of Fine Arts of Havre and a farmer, Pierre Creton is the author of an extremely coherent work. The two films we present create a diptych around the figure of Jean Lambert, a friend of the director, much older than him. In LA VIE APRÈS LA MORT we see the two friends reading aloud excerpts from books, listening to records and waiting for one thing: Lambert’s death. In L’HEURE DU BERGER, concluded a few years after his death, Creton takes up the material from the first film in a work of mourning, as it is a meditation: “a certain type of daily life (strict schedule, the same people, places of piety) gave rise to supernatural thoughts.”
Auditorium Félix Ribeiro – November 8, 3:30pm
HERR ARNES PENGAR | Mauritz Stiller
With Mary Johnson, Richard Lund, Hjamer Selander
Sweden, 1919, 100 minutes, no sound, intertitles in Swedish, translated into Portuguese, M/12
A masterpiece, based on a tale by Selma Lagerlöff, which shows the artistic level the cinema reached in the 1910s. HERR ARNES PENGAR is set in Middle-Age Sweden, telling the story of three evaders who kill a farmer to seize a treasure but their escape is cut off by the snow. With Mary Johnson’s unforgettable female presence and breathtaking images highlighting the scenes from the final funeral parade.
Auditorium Félix Ribeiro – November 8, 7pm
DISHONORED | Josef von Sternberg
With Marlene Dietrich, Victor McLaglen, Lew Cody, Warner Oland, Gustav von Seyffertitz
United States, 1931, 91 minutes, subtitled in Portuguese, M/12
In the “duel” the two 1930’s divas, Marlene and Greta Garbo, fought by the studios’ imposition (Paramount and MGM, respectively), DISHONORED is a response to MATA HARI, performed by the second. And it is immensely superior, not only for the quality of Sternberg’s staging, which may be his most venomous and fetishistic film, as for the image channeled by Marlene Dietrich, of an unsurpassed eroticism, in the role of a spy (Agent X27) who lets herself be killed for love during the first great war. This scene is one of the most provocative of American cinema before Pre-Code Hollywood.
Auditorium Luís de Pina – November 8, 7:30pm – Session presented by Bernard Eisenschitz
CONEY ISLAND AT NIGHT | Edwin S. Porter
United States, 1905, 4 minutes, no intertitles
ROMANCE OF RADIUM | Jacques Tourneur
United States, 1937, 10 minutes, electronically subtitled into Portuguese
7 FAUX RACCORDS | Raul Ruiz
With Henri Alekan, Olímpia Carisi, Raul Ruiz
France, 1984, 60 minutes, electronically subtitled into Portuguese
Session length: 74 minutes, M/12
This program, which goes from the beginnings of cinema to the 80s, is thought around the light. CONEY ISLAND AT NIGHT, by the pioneer Edwin S. Porter (director of the celebrated THE GREAT TRAIN ROBBERY) is summarized in its title. Conceived for the French television’s well-known and ambitious series CINÉMA CINÉMAS, this film by Raul Ruiz consists of a lecture about light in cinema, given by the great director of photography Henri Alekan, whom Ruiz asked to do seven scenes with an actress. Within this program, a didactic short film by Jacques Tourneur on the discovery of Radium by Pierre and Marie Curie.
Auditorium Félix Ribeiro – November 8, 9:30pm – Session presented by Bernard Eisenschitz
L’ATALANTE | Jean Vigo
With Jean Dasté, Dita Parlo, Michel Simon
France, 1934, 89 minutes, subtitled in Portuguese, M/12
The only feature film by Jean Vigo. A loose film, which synthesized all the aesthetic pursuits of French cinema in the early 1930s, in the words of Henri Langlois. While sick, Vigo was unable to take control of the editing and the film was almost teared apart by Gaumont, being distributed as LE CHALAND QUI PASSE (the same title of a hit song, which was inserted arbitrarily onto the film). It was only in the 90’s that a version (much discussed) of L’ATALANTE surfaced, said to truly follow the filmmaker’s intentions. Jean Dasté, Dita Parlo and Michel Simon conquer the cinematographic eternity in this incomparable work of art.
Auditorium Luís de Pina – November 8, 10pm – Session presented by Bernard Eisenschitz and Marcos Uzal
DEMOLISHING AND BUILDING UP THE STAR THEATRE | Frederick Armitage
United States, 1902, 3 minutes
QUELQUES REMARQUES SUR LA RÉALISATION ET LA PRODUCTION DU FILM SAUVE QUI PEUT (LA VIE) | Jean-Luc Godard
Switzerland, 1979, 10 minutes, electronically subtitled into Portuguese
KÖRKARLEN | Victor Sjöström
With Victor Sjöström, Hilda Borgstrom, Tore Svenberg, Astrid Hohn
Sweden, 1921, 106 minutes, no sound, intertitles in Swedish, electronically subtitled into Portuguese
Session length: 119 minutes, M/16
Adapted from Selma Lagerloff’s famous novel, KÖRKARLEN is one of Victor Sjöström’s most famous films (especially for its special effects), a journey into the whimsical about the “Death Wagon” legend and its driver: the being who dies in the last night of Saint Sylvester. Sjöström’s masterpiece is one of the greatest classics of the silent film era. Opening the session, DEMOLISHING AND BUILDING UP THE STAR THEATRE captures the demolishing of a cinema theatre in its various stages, followed by a work in which Jean-Luc Godard descants about the film which brought him back to the commercial circuit, SAUVE QUI PEUT (LA VIE).
Auditorium Félix Ribeiro – November 10, 7pm – Session presented by Florent Guézengar
SABOTEUR | Alfred Hitchcock
With Robert Cummings, Priscilla Lane, Otto Kruger
United States, 1942, 100 minutes, electronically subtitled into Portuguese, M/12
Auditorium Félix Ribeiro – November 10, 9:30pm – Session presented by Florent Guézengar
LE RÊVE DU RADJAH OU LA FORÊT ENCHANTÉE | Georges Méliès
France, 1900, 3 minutes, no intertitles
SHERLOCK JR. | Buster Keaton
With Buster Keaton, Kathryn McGuire, Ward Crane
United States, 1924, 50 minutes, no sound, intertitles in English, translated into Spanish
Session length: 53 minutes, M/12
SHERLOCK JR. é um dos momentos maiores da obra do cómico impassível, Buster Keaton, na figura de um candidato a detetive inspirado nas aventuras do popular herói criado por Conan Doyle. Mas este genial filme burlesco é também uma reflexão sobre a magia do cinema, com a personagem de Keaton sofrendo, numa tela, todos os «acidentes» provocados pelas mudanças de planos. A abrir a sessão, uma das mais conhecidas féeries de Georges Méliès, em que um sultão luta com uma árvore, que se transforma num demónio, até que ele percebe que estava a sonhar.
Auditorium Luís de Pina – November 11, 7:30pm
RAINBOW DANCE | Len Lye
Great Britain, 1936, 4 minutes, no intertitles
HALLELUJAH, THE HILLS! | Adolfas Mekas
With Peter Beard, Martin Greenbaum, Sheila Finn, Peggy Steffans
United States, 1963, 85 minutes, electronically subtitled in Portuguese
Session length: 89 minutes, M/12
HALLELUJAH THE HILLS! is a comedy and a New York film classic from the early 1960s. Two friends, not much alike, decide to go to the Vermont forests in an attempt to quell the obsession they have for the same woman (personified by two different actresses), who have left them. It follows a series of extravagant situations, in a tone oscillating between the nonsense of American cinema burlesque and the accelerated pace of Nouvelle Vague films. Opening the session, RAINBOW DANCE, an advertising film on the postal savings books, one of the classics of Len Lye, who was the first animation filmmaker to draw directly onto the film.
Auditorium Luís de Pina – November 11,10pm – Session presented by Marcos Uzal
AUTOUR DE LA FIN DU MONDE | Eugène Deslaw
With Abel Gance
France, 1930, 15 minutes, electronically subtitled in Portuguese
LA FABRIQUE DE CONTE D’ÉTÉ | Jean-André Fieschi and Françoise Etchegarray
With Eric Rohmer, Melvil Poupaud, Amanda Langlet
France, 2005, 93 minutes, electronically subtitled in Portuguese
Session length: 108 minutes, M/12
A line-up with two films about cinema itself, more specifically in the scope of two films by two French filmmakers, thus taking everything apart: the emphatic and naive Abel Gance, the refined and ultracerebral Eric Rohmer. Eugène Deslaw captures, as the title says, what is around LA FIN DU MONDE, Gance’s science fiction work in which, before a comet arrives to destroy the Earth, a scientist manages to proclaim a Universal Republic… Jean-André Fieschi, who was one of the greatest signatures of Cahiers du Cinéma in the 60s and made the classic PASOLINI L’ENRAGÉ, addresses the work of Rohmer in the third of his TALES OF THE FOUR SEASONS, during a period in which the director portrayed characters less and less sophisticated, by an extremely elaborate and personal cinema system, ultra-sophisticated in its seeming simplicity.
Auditorium Félix Ribeiro – November 12, 7pm – Session presented by Marcos Uzal
REMAINS | Pierre Léon
France, 2014, 20 minutes, electronically subtitled in Portuguese
EL SUR | Victor Erice
With Omero Antonutti, Sonsoles Aranguren, Iciar Bollain, Lola Cardona, Rafaela Aparicio
Spain, France, 1983, 95 minutes, electronically subtitled in Portuguese
Session length: 115 minutes, M/12
EL SUR is the second of the three feature films directed by Victor Erice. The film is seen through the eyes of a girl who is confronted with the mysteries of life unveiled to her, being revealed until she becomes a teenager and leaves the place where she had lived almost ever since before heading to south. The south we cannot see anymore, because Erice found impossible to complete the film as he would like due to production problems. The most “classic” film of the most “cinephile” of modern Spanish filmmakers. Opening the session, Pierre Léon’s latest film, inspired by Fritz Lang and Richard Wagner and, according to the director, a daydream leading us through an underground world filled with gods and monsters.