“OLHAR DIA, APÓS DIA, APÓS DIA”

Leslie Thornton

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“Os cinco filmes de Leslie Thornton da série Let Me Count The Ways, apresentados este ano no MNAC-MC, no âmbito do Festival Temps d’Images, constituem uma abordagem, sempre incompleta, sobre a violência e de forma mais ampla sobre a história do comportamento humano. Realizados em 2004, um ano após a invasão dos EUA do Iraque, a artista trabalha a memória e o passado como mecanismos de reavaliação do presente.


A artista tem utilizado como modelo de trabalho as séries fílmicas sobre determinado tema, muito embora estas nunca se completem, afirmando deste modo a cumplicidade entre a ideia e o seu processo criativo. As suas obras revelam uma aproximação ao próprio corpus da história, as suas contradições e cumplicidades.

No trabalho Let Me Count the Ways Minus 10, 9, 8, 7, a artista aborda o momento histórico do lançamento da bomba de Hiroshima, que o próprio título evoca através de uma contagem decrescente, utilizando found footage, filmagens originais, dados históricos, testemunhos e texto. Em 4 capítulos fílmicos são evocadas memórias pessoais e testemunhos históricos sobre os efeitos colaterais do lançamento da bomba e do clima de Guerra Fria que se lhe seguiu. 

Em Let Me Count The Ways 10, um filme doméstico, realizado nos arredores de Los Alamos, a cidade onde o projeto de fabrico das primeiras bombas atómicas foi iniciado e no qual o seu pai participou enquanto físico nuclear, é justaposto por um filme militar e por uma entrevista a uma sobrevivente (hibakusha) do ataque nuclear. Ambos os filmes são ligados pela palavra Dad (Pai) colocando o seu passado familiar no cerne de uma tragédia e um trauma históricos. 

Minus 9 apresenta uma narrativa poética em que o testemunho é entrecortado pela representação de um elemento que sugere mutação, e Minus 8 e 7 são excertos de um documentário The Growth of Plants, interrompido por um texto que descreve as mutações genéticas e botânicas através da radiação.

Finalmente em Minus 6, as famosas imagens de estúdio de Hitler ensaiando a sua teatralidade discursiva, realizadas pelo seu fotógrafo oficial Heinrich Hoffmann, em 1927, são contrapostas a excertos de um discurso do líder do partido nazi, Herman Göring, apelando ao extremismo político.”

Emília Tavares – Curadora do Museu Nacional de Arte Contemporânea

 

LET ME COUNT THE WAYS: MINUS 10, MINUS 9, MINUS 8, E MINUS 7 (2004)

20 minutos, cor, som

Let Me Count the Ways… inaugura a nova série de trabalhos de Thornton. Como na sua recentemente completa série Peggy and Fred, Thornton explora os efeitos sociais das novas tecnologias e meios de comunicação, mas aqui ela aproxima-se ainda mais do território autobiográfico para sugerir as formas em que todos estamos implicados nestas mudanças. Justapondo filmagens aéreas militares, dados científicos sobre mutação genética, o testemunho de áudio sobre o bombardeamento de Hiroshima, e um filme caseiro do seu pai, piloto da Força Aérea na II Guerra Mundial, quando foi enviado para essa cidade, Thornton cria uma densa e persuasiva meditação sobre a violência.

 

LET ME COUNT THE WAYS: MINUS 6 (2006)

2 minutos, P&B, som

Minus 6 é o quinto de uma contínua série de vídeos intitulada Let Me Count the Ways. 

Thornton escreve: “Estou interessada nos paralelos entre o uso calculado dos meios de comunicação por Hitler, a sua formação teatral, e a disposição cínica dos meios de comunicação de massas em travar atuais políticas e guerras. A imagem de Hitler causa sempre horror. Observá-lo a ensaiar para a câmara é arrepiante pois sabemos que é o que está a acontecer hoje.”

“OLHAR DIA, APÓS DIA, APÓS DIA”

Leslie Thornton

 

The five films of Leslie Thornton’s Let Me Count The Ways series, presented this year at the MNAC-MC as part of the Temps d’Images Festival, is an incomplete approach, on violence and more broadly on the history of human behavior. In these works, made in 2004, one year after the US invasion of Iraq, the artist is using memory and the past as mechanisms to review the present.


The artist has used as a working model the film series about a certain subject, even though they may never be complete, thereby asserting the complicity between the idea and the creative process. Her works reveal an approach to the very corpus of history, its contradictions and complicities.

In Let Me Count the Ways Minus 10, 9, 8, 7, the artist addresses the historical moment of the atomic bombing of Hiroshima, evoked through a countdown by the title itself, using found footage, original footage, historical data, testimonies and text. Personal memories and historical testimonies about the side effects of the bomb dropping and the Cold War atmosphere that followed are evoked in four filmic chapters.

In Let Me Count The Ways 10, a home movie made near Los Alamos, the city where was initiated the project of manufacturing the first atomic bombs in which the artist’s father participated as a nuclear physicist, is juxtaposed with a military movie and with an interview with a survivor (hibakusha) of the nuclear attack. Both films are connected by the word Dad, placing the artist’s family past at the core of a historical tragedy and trauma.

Minus 9 presents a poetic narrative in which the testimony is intersected by the representation of an element that suggests mutation, and Minus 8 and 7 are excerpts from the documentary The Growth of Plants, interrupted by a text that describes the genetic and botanical mutations through radiation.

And finally, in Minus 6, the famous images of Hitler in his studio, rehearsing his discursive theatricality, captured by his official photographer Heinrich Hoffmann in 1927, are juxtaposed with excerpts of a speech by the leader of the Nazi party, Hermann Göring, calling for political extremism.

Emília Tavares – Curator, National Museum of Contemporary Art

 

LET ME COUNT THE WAYS: MINUS 10, MINUS 9, MINUS 8, AND MINUS 7 (2004)

20 minutes, colour, sound

Let Me Count the Ways… inaugurates a new work series by Thornton. As in her recently completed Peggy and Fred series, Thornton explores the social effects of new technologies and media, but here she goes even further into autobiographical territory to suggest the ways in which we are all implicated in these changes. Juxtaposing aerial military footage, scientific data on genetic mutation, audio testimony about the bombing of Hiroshima, and a home movie of her father, a pilot of World War II’s Air Force, as he was dispatched to that city, Thornton creates a dense and compelling meditation on violence.

 

LET ME COUNT THE WAYS: MINUS 6 (2006)

2 minutes, B&W, sound

Minus 6 is the fifth film of the ongoing series of videos titled Let Me Count the Ways.

Thornton writes: “I am interested in the parallels between the calculated use of the media by Hitler, his theatrical training, and the cynical deployment of the mass media in waging present day politics and warfare. The image of Hitler is always horrifying. Observing him rehearse his dramatics for the camera is chilling because we know that is what is happening today.”