“FATORES HUMANOS”
Joana Pimenta
Uma cadeira contorce-se para lhe aparar a queda. A sua estrutura ergonómica tem a capacidade de girar em qualquer direção. Ouve-se o som subtil das teclas de um computador, o borbulhar de uma máquina de café. Uma mulher apoia-se numa standing desk, acompanhando o ritmo mareante do movimento circular da mobília. O espaço está dividido por partições, diferentes ecrãs que definem zonas de ação. Ao longe, alguém dispara agrafos contra as largas janelas de vidro inquebrável.
Estamos em Lisboa em 2011, num escritório habitado por atores. Corpos altamente treinados para o movimento e intensidade da performance habituam-se agora ao ritmo da inércia. Deslocados para este espaço em consequência do fecho temporário dos seus lugares de atividade, trocam treino por função, aperfeiçoamento da técnica por serviços técnicos, cenários e figurinos por secretárias habitadas por objetos de papelaria, e a atenção do público pela dedicação da mobília ergonómica que pretende servir com eficiência a rotina dos seus movimentos.
Mas os corpos que ali se expõem nunca servem inteiramente o sonho utilitário do espaço e da mobília pelos quais circulam. Falham em eficiência e funcionalidade, obstruem os normais processos de rotina, dão outras formas aos locais e objetos. Constroem uma linguagem própria para a ocupação de funções que antes lhes eram estranhas, tão necessárias quanto redundantes, e encontram formas para se relacionarem com o movimento repetitivo da inação.
FATORES HUMANOS empresta o seu título do primeiro manual de ergonomia – que regula os objetos que têm como missão o suporte dos corpos enquanto estipula o treino repetitivo necessário para responder às suas exigências – e opera no espaço que é criado quando ambos falham.
Ficha técnica
Vídeo-instalação
Ano 2014
Apoio Programa de Apoio às Artes Visuais Artes Visuais da Fundação Calouste Gulbenkian
“FATORES HUMANOS”
Joana Pimenta
A chair contorts itself to prevent its fall. Its ergonomic structure has the ability to rotate in any direction. We hear the subtle sound of a computer keyboard, the bubbling of a coffee machine. A woman leans on a standing desk, following the sea-like rhythm of the circular motion of the furniture. The space is divided by partitions, different screens that define action areas. In the distance, someone shoots staples against large shatterproof glass windows.
We are in 2011 Lisbon, in an office inhabited by actors. Bodies highly trained for movement and intensity of performance are now getting accustomed to the rhythm of inertia. Displaced to this space as a consequence of the temporary closure of their places of activity, they exchange training for function, improving technique for technical services, sets and costumes for desks inhabited by stationary objects, and public attention for the dedication of ergonomic furniture meant to serve efficiently the routine of their movements.
But the bodies that are exposed there never fully serve the utilitarian dream of the space and furniture in which they move. They fail in efficiency and functionality, obstruct the normal routine processes, provide other forms to places and objects. They build a proper language for the occupation of functions that were unknown to them before, as necessary as redundant, and they find ways to relate to the repetitive motion of inaction.
FATORES HUMANOS borrows its title from the first ergonomic manual – which regulates the objects whose mission is the support of bodies as it stipulates the repetitive training necessary to meet their requirements – and it operates in the space that is created when both fail.
Credits
Video-installation
Year 2014
Support Programa de Apoio às Artes Visuais da Fundação Calouste Gulbenkian