CONTO APENAS ALEGRIA PARA COM A VIDA
Inês Garrido
A imagem real e cronológica de uma mulher desde que ela nasce até que ela morre, 1957 — 2022. Esta imagem, de diferentes formatos e meios, acompanha a rápida evolução da fotografia e registo vídeo dos últimos 60 anos.
Esta mulher nunca teve um quarto dela. Quando vivia com os pais, dormia no quarto de costura de sua mãe, numa cama dobrável, num colchão de folhelho. Depois disso, o quarto dela foi sempre o seu quarto com o marido. No final, morreu num quarto com mais sete camas. Um morredouro que não deixava entrar uma brisa de ar nos dias quentes de Agosto.
A morrer, escreve num caderninho com uma letra torta e débil: “conto apenas alegria para com a vida”.
Quando ela morre, de todos os lados chegam histórias sobre o quanto ela transformou vidas à sua volta.
Ser mulher é também isto: não ser visível na transformação do mundo. A esta mulher não lhe foi dada uma campa — ela não quereria. Antes, seguem vivos epitáfios inscritos em todos os corações que ela, tirando de si mesma, fez crescer.
E olha, Mãe, que bonita é a antecipação do sonho!
Bio
Inês Garrido tem vindo enquanto criadora, a estabelecer um caminho artístico que se debruça sobre os lugares da Mulher e sobre as relações entre as estruturas de poder e desigualdades sociais, explorando o contraste de uma impressão afectiva com as consequências visíveis de desigualdades.
1992. Actriz e criadora, formou-se como actriz pela Academia Contemporânea do Espectáculo, Porto (2014) e, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Lisboa (2017).
Ficha Técnica
Criação e Interpretação
Inês Garrido (Performance, Vídeo, Texto, Espaço Cénico)
Co-Criação
Miguel F (Videografia)
Consultoria Artística
Diogo Mendes, Leonardo Outeiro, André Loubet, Rita Loureiro
Produção
Ermo do Caos
Apoios
Temps d’Images e Ermo do Caos
Agradecimentos
Marília Teixeira
CONTO APENAS ALEGRIA PARA COM A VIDA
Inês Garrido
The real and chronological image of a woman from birth to death, 1957–2022. This image, in different formats and media, accompanies the rapid evolution of photography and video recording over the last 60 years.
This woman never had a room of her own. When she lived with her parents, she slept in her mother’s sewing room, on a folding bed with a straw mattress. After that, her room was always the bedroom she shared with her husband. In the end, she died in a room with seven other beds. A deathbed that did not let in a breath of air on hot August days.
As she lay dying, she wrote in a little notebook in crooked, weak handwriting: ‘I count only joy in life’. When she died, stories came from all sides about how much she had transformed the lives of those around her. Being a woman is also this: not being visible in the transformation of the world. This woman was not given a grave — she would not have wanted one. Instead, epitaphs inscribed in all the hearts that she, drawing from herself, made grow, live on.
And look, Mother, how beautiful is the anticipation of the dream!
Bio
Inês Garrido
1992. Actress and creator, she trained as an actress at the Academia Contemporânea
do Espectáculo, Porto (2014) and at the Escola Superior de Teatro e Cinema, Lisbon (2017).
As a creator, Inês Garrido has been establishing an artistic path that focuses on
women’s places and the relationships between power structures and social inequalities, exploring the contrast between an emotional impression and the visible consequences of inequalities.
Credits
Creation and Performance
Inês Garrido (Performance, Vídeo, Texto, Espaço Cénico)
Co-Creaton
Miguel F (Videography)
Artistic Consultancy
Diogo Mendes, Leonardo Outeiro, André Loubet, Rita Loureiro
Production
Ermo do Caos
Support
Temps d’Images e Ermo do Caos
Acknowledgements
Marília Teixeira