ENGLISH

“FUSO 2019 – 27 Agosto a 1 Setembro

31 Agosto, 22h 
Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga

Programa de MOACIR DOS ANJOS (Brasil)
DISTRIBUIÇÃO DE CORPOS E REPRESENTAÇÃO DAS SOBRAS
Duração: 50’

 

O Brasil é um país fundado em actos de violência cometidos pelos colonizadores europeus contra os povos indígenas e contra a população negra trazida à força da África e escravizada. É um país que se institui ancorado no racismo. Essa violência, sempre actualizada, promove uma assimétrica distribuição de corpos brancos, negros e mestiços em lugares de lazer, moradia e trabalho, na qual os primeiros possuem poder de movimento e de mando, enquanto os demais são submetidos, por meios diversos, a um regime de circulação regrada e de obediência às ordens dadas. Distribuição hegemónica de corpos por muito tempo reproduzida e confirmada na produção e na composição do campo das artes visuais no Brasil. Criações recentes sugerem, contudo, estar-se a constituir, naquele campo excludente, e em sintonia com transformações em curso noutros cantos, uma representação das sobras, a qual nomeia danos e reclama a condição de parte para aquilo que é considerado resto, redistribuindo, em novos lugares simbólicos, os corpos que habitam o país e o mundo. De modos distintos, os três trabalhos aqui reunidos contribuem para essa mudança, indicando que a sustentabilidade – social, ética, política e cultural – de uma comunidade depende também do combate radical e continuado ao racismo entranhado nas suas instituições, bem como nas falas e gestos dos que dela fazem parte.

 

BIO

Moacir dos Anjos (Recife, 1963) é investigador da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, onde coordena o projecto de exposições Política da Arte. Foi director do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (2001-2006), Recife, e investigador visitante no centro de pesquisa Transnational Art, Identity and Nation, University of the Arts London (2008-2009). Foi curador do pavilhão brasileiro (Artur Barrio) na 54ª Bienal de Veneza (2011) e curador da 29ª Bienal de São Paulo (2010). Foi curador das mostras Cães sem Plumas (2014), no MAMAM, A Queda do Céu (2015), no Paço das Artes, São Paulo, Emergência (2017), no Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Quem não luta tá morto. Arte democracia utopia (2018), no Museu de Arte do Rio e Raça, classe e distribuição de corpos (2018), na Fundação Joaquim Nabuco. É autor dos livros Local/Global. Arte em Trânsito (2005), ArteBra Crítica (2010) e Contraditório. Arte, Globalização e Pertencimento (2017), além de editor de Pertença, Caderno_SESC_Videobrasil 8, São Paulo (2012).

http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoam/moacir-dos-anjos

_ JONATHAS DE ANDRADE (BR) // O Caseiro, 2016, 8’

O Caseiro cria um fluxo de imagens paralelo ao criado por Joaquim Pedro de Andrade no filme O mestre de Apipucos (1959), sincronizando as duas narrativas como se fossem uma peça única. No lugar que fora do sociólogo Gilberto Freyre no filme original, há agora um homem negro que é, supostamente, o encarregado por zelar pela casa onde aquele morava. O trabalho sugere as assimetrias de posições atribuídas aos corpos brancos e pretos naqueles lugares e, por extensão, na sociedade brasileira. 

 

BIO

Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió) vive e trabalha no Recife, Brasil. Utiliza fotografia, instalação e vídeo para atravessar a memória colectiva e a história, recorrendo a estratégias que misturam ficção e realidade. De Andrade colecciona e cataloga arquitectura, imagens, textos, histórias de vida e recompõe uma narrativa pessoal do passado. As suas últimas exposições a solo incluem o Museu de Arte de São Paulo (2016-17); The Power Plant, Toronto (2017); e o MCA Chicago (2019). Exposições colectivas incluem a 32ª Bienal de São Paulo, São Paulo (2016); Unfinished Conversations: New Work from the Collection, MOMA, Nova Iorque (2017); e Padiglione d’Arte Contemporanea, Milão (2018).


_ ANA PI (BR) // NoirBLUE: deslocamentos de uma dança/NoirBLUE: displacements of a dance, 2017, 27’

Em NoirBLUE: deslocamentos de uma dança, a voz pausada da autora é guia dos vários trajetos que, sem alarde, ela e o filme fazem (literal ou simbolicamente) entre territórios e tempos distintos aproximados pelo racismo que por séculos estrutura o mundo. No filme, corpos pretos recordam movimentos atávicos que resistiram a tudo e inventam outros novos que os fortalecem para seguir adiante. É trabalho que afirma, em tons baixos, mas firmes, como gestos e falas reconhecem ou criam lugares de pertencimento. 

Produção, Fotografia e Montagem: Ana Pi

 

BIO

Ana Pi (Belo Horizonte, 1986) é coreógrafa, artista visual, investigadora em danças urbanas, bailarina contemporânea e pedagoga. A sua práctica situa-se entre as noções de trânsito, deslocamento, pertencimento, sobreposição, memória, cores e gestos comuns. Baseada em Paris, divide o seu tempo entre várias cidades do mundo. De entre os seus principais projectos, incluem-se Le Tour du Monde des Danses Urbaines e Corpo Firme: danças periféricas, gestos sagrados. NoirBLUE é o seu primeiro filme.


_ THIAGO MARTINS DE MELO (BR) // bárbara balaclava, 2016, 14’37’’, animação

Numa edição vertiginosa de imagens e sons, a animação bárbara balaclava exibe cenas de conflito na história do Brasil. Atesta a longevidade dos processos de expropriação violenta de riquezas materiais e simbólicas das populações nativas do país e expõe mecanismos de subjugação corporal e psíquica imputados às negras e negros escravizados no passado do Brasil e aos seus descendentes. Em simultâneo, mobiliza memórias, crenças e tudo que resiste à morte para contar histórias de insurreição daqueles povos.

Realização, Argumento e Pinturas: Thiago Martins de Melo | Montagem, Efeitos sonoros e Banda sonora: Guilherme Fogagnoli | Tarot: Viviane Vazzi Pedro

 

BIO

Thiago Martins de Melo. São Luís, Brasil, 1981. É um artista visual brasileiro. Vive e trabalha entre São Luís (Brasil) e Guadalajara (México).

De entre as exposições que participou constam: 31ª Bienal de São Paulo (2014), 12ª Bienal de Lyon (2013), 12ª Bienal de Dakar (2016), 10ª Bienal do Mercosul em 2015. O seu trabalho integra as colecções permanentes de museus como: MASP – Museu de Arte de São Paulo; Aros Aarhus Kunstmuseum, Aarhus (Dinamarca); Rubell Family Colection, Miami (E.U.A); Astrup Fearnley Museum of Modern Art, Oslo (Noruega); Pérez Art Museum Miami, Miami (E.U.A), entre outros.

“FUSO 2019 – August 27 to Septembre 1

 

August 31, 10pm
Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga

Program by MOACIR DOS ANJOS (Brazil)
DISTRIBUTION OF BODIES AND REPRESENTATION OF WHAT REMAINS
Running Time: 50’

 

Brazil is a country founded on acts of violence, committed by European colonizers against the indigenous peoples and against the black population brought by force from Africa and enslaved. It is a country which institutes itself anchored in racism. This violence, which is constantly upgraded, encourages an asymmetrical distribution of white, black and mixed race bodies in leisure, living and work spaces, in which the first possess power of movement and command, while the others are submitted, by various means, to a regime of regimented circulation and obedience to the given rules. A hegemonic distribution which has been reproduced and confirmed in production and composition within the field of the visual arts in Brazil. Recent creations suggest; however, that there is being constituted, within this exclusionary field, and in alignment with transformations taking place in other niches, a representation of the leftovers, which names damages and reclaims the condition of a part of that which is considered left over, redistributing, in new, symbolic places, the bodies that inhabit the country and the world. The three works gathered here contribute to this change in different ways, indicating that the sustainability – social, ethical, political and cultural – of a community, also depends on the radical and continuous struggle against the racism entrenched in its institutions, and in the words and gestures of those that belong to it. 

 

BIO

Moacir dos Anjos (Recife, 1963) is a researcher at Fundação Joaquim Nabuco, Recife, where coordinates the exhibition project Política da Arte. He served as director of the Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (2001-2006), Recife, and was a visiting research fellow at the Transnational Art, Identity and Nation research centre at the University of the Arts, London (2008-2009). He was curator of the Brazilian Pavillion (Artur Barrio) at the 2011 Venice Biennale and of the 2010 São Paulo Biennial. He also curated the exhibitions Cães sem Plumas (2014), at MAMAM, A Queda do Céu (2015), at Paço das Artes, São Paulo, Emergência (2017), at Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Quem não luta tá morto. Arte democracia utopia (2018), at Museu de Arte do Rio and Raça, classe e distribuição de corpos (2018), at Fundação Joaquim Nabuco. He published the books Local/Global. Arte em Trânsito (2005), ArteBra Crítica (2010) and Contraditório. Arte, Globalização e Pertencimento (2017), besides having edited Pertença, Caderno_SESC_Videobrasil 8, São Paulo (2012).

http://www.iea.usp.br/pessoas/pasta-pessoam/moacir-dos-anjos

_ JONATHAS DE ANDRADE (BR) // The Caretaker, 2016, 8’

The Caretaker (O Caseiro) creates a flux of images which parallel those created by Joaquim Pedro de Andrade in the film The Master of Apipucos (1959), synchronizing both narratives as if they were a single piece. Taking the place of the sociologist Gilberto Freyre in the original film, there is now a black man who is, supposedly, in charge of caring for the house where the former lived. The work suggests the asymmetries of the positions attributed to white and black bodies in those places and, by extension, in Brazilian society.

 

BIO

Jonathas de Andrade (b. 1982, Maceió) lives and works in Recife, Brazil. He uses photography, installation and video to cross the collective memory with history, drawing upon strategies which mix fiction with reality. De Andrade collects and catalogues architecture, images, texts, life stories, and recomposes a personal narrative of the past. His latest solo exhibitions include the São Paulo Museum of Art (2016-17); The Power Plant, Toronto (2017); and the MCA Chicago (2019). Collective exhibitions include the 32nd Biennale of São Paulo, São Paulo (2016); Unfinished Conversations: New Work from the Collection, MOMA, New York (2017); and the Padiglione d’Arte Contemporanea, Milan (2018).


_ ANA PI (BR) // NoirBLUE: deslocamentos de uma dança/NoirBLUE: displacements of a dance, 2017, 27’

In NoirBLUE: displacements of a dance, the paused voice of the author is a guide for the various trajectories which, without much fuss, she and the film take (literally or symbolically) between different territories and times, brought closer together by the racism which has for centuries structured the world. In the film, black bodies evoke atavistic movements which resisted everything, and invent other, new ones, which give them the strength to keep going. It is a work which affirms, in low, but firm tones, how gestures and speech recognise and create places of belonging. 

Production, Image and Editing: Ana Pi

 

BIO

Ana Pi (Belo Horizonte, 1986) is a choreographer, visual artist, researcher in urban dances, a contemporary dancer and a pedagogue. Her practice is situated between the notions of transit, displacement, belonging, overlapping, memory, colours and common gestures. Based in Paris, she shares her time between several cities around the globe. Among her main projects are included Le Tour du Monde des Danses Urbaines and Corpo Firme: danças periféricas, gestos sagrados. NoirBLUE is her first film.


_ THIAGO MARTINS DE MELO (BR) // bárbara balaclava, 2016, 14’37’’, animation

In a vertiginous editing of images and sounds, the animated film bárbara balaclava shows scenes of conflict in the history of Brazil. It is a testament to the longevity of the processes of violent expropriation of material and symbolic riches of the country’s native populations, and exposes the mechanisms of corporeal and psychic subjugation imputed on the enslaved Negros in Brazil’s past and on their descendants. At the same time, it mobilizes memories, beliefs and everything that resists death to tell the stories of those peoples’ insurrections.

Direction, Script and Art: Thiago Martins de Melo | Editing, Sound effects and Soundtrack: Guilherme Fogagnoli | Tarot: Viviane Vazzi Pedro

BIO

Thiago Martins de Melo. São Luís, Brazil, 1981. Is a Brazilian visual artist. Lives and works between São Luís (Brazil) and Guadalajara (Mexico). Among the exhibitions he participated in are: the 31st Biennial of São Paulo (2014), the 12th Lyon Biennial (2013), 12th Biennial of Dakar (2016), 10th Mercosur Biennial in 2015. His work integrates permanent collections of museums such as: MASP – Museum of Art of São Paulo (Brazil); Aros Aarhus Kunstmuseum, Aarhus (Denmark); Rubell Family Collection, Miami (U.S.A.); Astrup Fearnley Museum of Modern Art, Oslo (Norway); Pérez Art Museum Miami, Miami (U.S.A.), among others.