FUSO INSULAR 2021 – 27 a 31 de Outubro
29 Outubro, 21h30
Igreja do Colégio, Ponta Delgada
A VIDEOARTE CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA
Curadoria: Jean-François Chougnet
Pode-se pensar que neste ano de 2021 haveria um aumento no número de “obras de confinamento” na produção contemporânea da videoarte Portuguesa. No entanto, esta categoria está, à primeira vista, totalmente ausente nas obras que apresentamos neste programa. Numa primeira análise, porque se voltarmos a olhar para eles, se o confinamento não é um assunto, os temas escolhidos muitas vezes estão ligados com a relação com o mundo, com o meio ambiente. São temas que a pandemia covid-19 tornou mais significativas e mais angustiantes do que nunca.
Salvo raras excepções, o humor está totalmente (ou quase) ausente deste panorama subjectivo. A pesquisa puramente formal também, como se o estado do mundo empurrasse os criadores (de todas as gerações, convém lembrar, dos 20 aos 60 anos) a uma certa urgência, a um certo imediatismo.
É, portanto, a prestar atenção à fabricação de imagens e às vezes à possível reciclagem delas que esses artistas nos convidam. Como disse recentemente a videoartista alemão Hito Steyerl, “já existem tantas imagens que muitas vezes não há necessidade de fazer novas. Muitas das imagens produzidas hoje são desnecessárias.”
Jean-François Chougnet
EQUINOX – Bruno Carnide
Algures nos subúrbios de Tóquio, sempre que os dias são iguais às noites, o amor perde mais uma batalha.
RIO NEGRO – Cristina Ataíde
Realizado, durante a residência artística LABVERDE – Art Immersion Program in the Amazon, em Agosto de 2019, este vídeo resulta de um profundo fascínio pelo momento de encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Entre as fronteiras do visível e do invisível, o filme é uma pequena interpretação de uma experiência inesquecível de um lugar no mundo onde uma floresta está a ser sistematicamente destruída pelo Homem e de um rio, fronteira da Natureza, sempre em constante mutação.
LA ERMITA – Eduardo Brito
Uma voz interpela o viajante: tu nunca foste a La Ermita, mas eu tenho a certeza que já lá estiveste. Quando?
SEMPRE ACHEI QUE FOSSE UMA PESSOAS DE CIDADE – Ema Ramos
Uma reflexão dos últimos dois anos, a mudança de acabar o secundário, sair da adolescência e da Covid-19.
QUELIMANE – Francisco Miguel
Será a imagem em movimento capaz de nos aproximar de um espaço que desconhecemos? Pode o vídeo funcionar como um meio de transporte? É em Quelimane que Francisco Miguel espelha o seu imaginário, cidade de onde provém a sua família mas cuja nunca teve oportunidade de visitar. Através da simbiose plástica e motora da imagem com o som, Quelimane é uma sinfonia visual que abraça a experimentação e a possibilidade como passo em frente e questiona as fronteiras que o vídeo consegue ultrapassar.
TRANSHUMANCE – Helena Inverno, Verónica Castro e Bouchra Ouizguen
A partir de um sistema de acção transdisciplinar em corpo nómada, TRANSHUMANCE junta léxicos, co-habita pesquisas, partilha caminhos – formando um ponto de encontro entre três artistas imersas nas suas práticas correntes, onde confluem dança, som e imagem em movimento.
Polinizam-se conteúdos, matérias e sensações; enquanto rio, vento, dunas, e um pássaro e uma pedra, respiram.
CAFÉ CENTRAL – Nuno Nunes-Ferreira
2500 recortes de jornais em 3 minutos.
COREOGRAFIA NUMA PERDEIRA – Renata Bueno
Trabalhadores e máquinas de uma pedreira mudam por instantes sua rotina e junto com a artista desenham no espaço uma coreografia nunca por eles imaginada.
O CAMINHO AO ATÉ – Sally Santiago
O vídeo ‘O caminho ao até’ desafia fronteiras humanas contemporâneas no abordar da valorização de processos vividos ao longo da vida—processos que geram aprendizado— em contraste a valorização única dos resultados alcançados, os aprendizados já “digeridos”. Estabelece uma passagem subconsciente entre um viver automático e ansioso para um viver de lentidão e de apreciação no presente.
LAPSO – Sofia Arriscado e Costanza Givone
“Lapso” é o espaço da dúvida e o tempo no qual as fronteiras que separam o interior e o exterior do corpo entram em queda. Um mergulho onírico na realidade deixa-nos furar o corpo e chegar às camadas mais profundas, onde a intimidade e a partilha deixam as vísceras à mostra e as barreiras à superfície.
THE FACTORY (BAD MACHINES) – Susana Anágua
Fronteiras físicas que se tornaram metáforas através de uma imagem de formigas frenéticas em travessia do espaço. Da ordem ao caos, as fronteiras geográficas e humanas são sugeridas neste vídeo pelo movimento das formigas, pequenos insectos trabalhando numa fábrica na hora de ponta. Se alguma formiga circular no sentido contrário ela vai estabelecer a desordem, aumentar o esforço da comunidade e aumentar o valor de Entropia.
PASSAGEM – Tânia Dinis
Um filme-ensaio sobre o que fica para lá da memória que se perde, uma memória no corpo, talvez. Pensei nisso no dia em que o meu avô me deixou sozinha com a minha avó e percebi que ela já não me conhecia.
FUSO INSULAR 2021 – October 27th to 31st
October 29th, 9.30pm
Igreja do Colégio – Ponta Delgada
PORTUGUESE CONTEMPORARY VIDEO ART
Curator: Jean-François Chougnet
One might think that in this year 2021 there would have been an increase in the number of “confinement works”. However, this category is, at first sight, totally absent in the works we present in this program. At first glance, because if we look at them again, if confinement is not a subject, the themes chosen are often connected with the relationship with the world, with the environment, themes that the Covid-19 pandemic has made more significant and more distressing than ever.
With rare exceptions, the humour is absent (or almost) from this subjective panorama that FUSO brings to our fruition. The same applies to the purely formal research, as if the state of the world pushed the creators (of all generations, it should be noted, from the age of 20 to 60) to a certain urgency, to a certain immediacy.
It is, therefore, to pay attention to the manufacture of images and sometimes to the possible recycling of them that these artists invite us. As German video artist Hito Steyerl recently said, “there are already so many images that there is often no need to make new ones. Many of the images produced today are unnecessary.
EQUINOX – Bruno Carnide
Somewhere on the outskirts of Tokyo, whenever the days are as long as the nights, love loses yet another battle.
RIO NEGRO – Cristina Ataíde
The Video was made during the residency LABVERDE – Art Immersion Program in the Amazon area in August 2019. Those moving images are the result of a deep fascination for the moment where the waters of the Rio Negro and Solimões Rivers cross. Between the borders of the visible and the invisible, this video is a brief interpretation of an unforgettable experience of a place in the world where the forest is being systematically destroyed by Man, and a river as the frontier of Nature, always in constant mutation.
LA ERMITA – Eduardo Brito
A voice asks the traveller: you’ve never been to La Ermita, but I am sure you’ve been there. When?
SEMPRE ACHEI QUE FOSSE UMA PESSOAS DE CIDADE – Ema Ramos
A reflection of the past two years, the change of finishing High School, stop being a teenager and the Covid-19 pandemic.
QUELIMANE – Francisco Miguel
Can video bring us closer to a space that we do not know? Can video making function as a transport? Francisco Miguel explores this question while reflecting about Quelimane – the city where his family comes from but that he never had the opportunity to visit. Through the shared values and possibilities that emerge when video and music come together, Quelimane is a visual symphony that embraces experimentation as a step forward towards the unknown.
TRANSHUMANCE – Helena Inverno, Verónica Castro and Bouchra Ouizguen
A partir de um sistema de acção transdisciplinar em corpo nómada, TRANSHUMANCE junta léxicos, co-habita pesquisas, partilha caminhos – formando um ponto de encontro entre três artistas imersas nas suas práticas correntes, onde confluem dança, som e imagem em movimento.
Polinizam-se conteúdos, matérias e sensações; enquanto rio, vento, dunas, e um pássaro e uma pedra, respiram.
CAFÉ CENTRAL – Nuno Nunes-Ferreira
2500 newspaper clippings in 3 minutes.
COREOGRAFIA NUMA PERDEIRA – Renata Bueno
Workers and machines in a marble quarry change their routine for a glance and together with the artist they draw a choreography they never imagined in that space.
O CAMINHO AO ATÉ – Sally Santiago
The video ‘O caminho ao até’ challenges contemporary human frontiers in addressing the valuation of processes experienced throughout life—processes that generate learning—in contrast to the unique appreciation of the results achieved, the learning already “digested”. Establishing a subconscious passage between an automatic and anxious living to a living of slowness and appreciation in the present.
LAPSO – Sofia Arriscado and Costanza Givone
“Lapse” is the space of doubt and the time in which the boundaries separating the body’s interior and exterior collapse. A dreamlike dive into reality allows us to pierce the body and reach the deepest layers, where intimacy and sharing expose the viscera while pushing the barriers to the surface.
THE FACTORY (BAD MACHINES) – Susana Anágua
Physical borders that became metaphors through an image of frantic ants also crossing space.
From order to chaos, geographic and human borders are suggested in this video by the movement of ants, small insects working in a factory at rush hour. If any ant moves in the opposite direction it will establish disorder, increase effort community and increase the value of Entropy.
PASSAGEM – Tânia Dinis
A film-essay on what is beyond the lost memory, a memory in the body, maybe. I thought about it the day my grandfather left me alone with my grandmother and realized that she no longer knew me.