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FUSO INSULAR 2021 – 27 a 31 de Outubro

29 Outubro, 19h30 
Igreja do Colégio, Ponta Delgada

 

LABORATÓRIO IMAGEM EM MOVIMENTO

O Laboratório Imagem em Movimento é um programa de residência integrado ao FUSO INSULAR; um espaço/tempo dedicado à criação de obras em vídeo.

Durante o verão, entre encontros teóricos e práticos, estimula-se a reflexão sobre a imagem em movimento como expressão artística transversal a todas as práticas, cruzando linguagens do filme experimental, da performance, da fotografia e do cinema. 

Em 2021, sob orientação teórica de Susana de Sousa Dias e acompanhamento prático de André Laranjinha, oito artistas residentes nos Açores – Carolina Rocha, Diogo Sousa, João Amado, Madalena Correia, Mariana Medeiros, Nina Medeiros, Rodrigo Mota e Sara Brum, propuseram ideias, criaram guiões e filmaram na ilha de São Miguel e na Terceira. 

Autobiográficas ou ficcionais, as obras refletem de forma crítica, mas também afetiva, as relações dos artistas com o território, sua gente e costumes.

A memória que desvanece, mas que queremos preservar; a nostalgia de viver numa terra isolada; a condição humana perante uma sociedade opressora; a peregrinação por uma paisagem em transformação são alguns dos temas que marcam a segunda edição do Laboratório Imagem em Movimento.

E há também o prazer de uma fruta fresca…

O Laboratório Imagem em Movimento tem co-produção do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas.

CORRENTE – Carolina Rocha

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
(…)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Excertos do poema Ode Triunfal
Álvaro de Campos
Junho, 1914


GONE GONE – Diogo Sousa

Dois fragmentos divididos em dois actos pouco descritivos contrastam anacrónicamente. Primeiro um pequeno desespero ilustrativo da condição humana em relação à paisagem. Segundo uma conversa “semi-monólogo” sobre o cinema, pão e um corpo de trabalho.


UM MELÃO NUMA NOITE DE VERÃO – João Amado

Não há nada melhor do que uma fruta certa para o momento adequado.


SEM NOME – Madalena Correia

A partir do texto a Alegoria da Caverna de Platão, surge a ideia para este trabalho. Relacionando este texto com uma sociedade opressora (“aquilo ou aquele que impõe força sobre o mais fraco, que causa opressão”), e a comunidade LGBTQIA+ que ainda se sente oprimida e sofre constantemente de preconceito, decidi articular a ideia da caverna com o género não-binário (“que abarca várias identidades diferentes dentro de si”).

Este trabalho recria a parede da caverna, onde “as pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não projetam sombras, mas sim os objetos que carregam”, onde o prisioneiro da sociedade acredita que a sombra é a sua realidade, não existindo outra.

Uma realidade opressora, destrutiva, padronizada e preconceituosa.


A VACA QUE SE PERDEU DO RESTO DA MANADA – Mariana Pacheco de Medeiros

As vacas movem-se devagar porque são pesadas. Aprecio a forma como movem os ossos das ancas quando andam pelas estradas, e como te olham nos olhos, sem se desviarem. Tu passas devagar também, quase pedindo desculpa por interromperes a sua travessia. Nunca apites; podem perder o leite. Quando cheguei perto da vaca percebi que ela se transformava numa nuvem, e depois a forma indefinida deu lugar a um corpo de mulher, a mulher-anjo. Estamos frente a frente, sinto o seu cheiro e respiração. Olhamo-nos nos olhos, abraço-a com força e sinto o nosso corpo a derreter, a transformar-se num líquido brilhante que se espalha pelo chão. Olho para o céu e vejo a luz que ilumina o monte. É por isso que eu estou aqui. 


KAKOPHONÍA – Nina Medeiros

O que é lembrado sobrevive.

Partindo de um acorde em ré menor, a narrativa desdobra-se numa linha sequencial entre uma memória distante que se afasta com o passar do tempo. As pessoas, os objectos, os espaços e os enquadramentos espaciais que se mostram no filme estimulam o acto de recordar e estabelecem um argumento nostálgico, mas nonsense a partir da cumplicidade entre a imagem e o som.

Projecta-se uma kakophonía estridente que procura justificações. Ou não.


NASCI NA FOZ E MORRI  NA NASCENTE – Rodrigo Mota

A água que outrora corria nas ribeiras deixou cicatrizes permanentes na terra. Cicatrizes essas que formaram caminhos de todas as formas. Este filme é uma peregrinação, começando na foz de uma ribeira seca e continuando por este corpo desprovido da sua alma.


ÀS PALMAS DAS MÃOS NÃO SE MENTE – Sara Brum

Como sobreviver à nostalgia, à ausência na terra isolada?
Só entrando no corpo, abrindo espaço.

FUSO INSULAR 2021 – October 27th to 31st

October 29th, 7.30pm 

Igreja do Colégio – Ponta Delgada

MOVING IMAGE LABORTORY

The Moving Image Laboratory is a residency program integrated into the FUSO INSULAR event; a space/time dedicated to the creation of video works.
During the summer, between theoretical and practice meetings, reflection on the moving image is stimulated as an artistic expression, transversal to all practices, crossing languages of experimental film, performance, photography and cinema.

In 2021, under the theoretical guidance of Susana de Sousa Dias and practical monitoring by André Laranjinha, eight artists living in the Azores – Carolina Rocha, Diogo Sousa, João Amado, Madalena Correia, Mariana Medeiros, Nina Medeiros, Rodrigo Mota and Sara Brum, proposed ideas, created scripts and filmed on the islands of São Miguel and Terceira.

Autobiographical or fictional, the works reflect in a critical but also affective way, the relation of the artists with the territory, its people and their customs.
The memory that fades, but that we want to preserve; the nostalgia for living in an isolated land; the human condition before an oppressive society; the pilgrimage through a landscape in transformation, are some of the themes that mark the second edition of the Moving Image Lab. And there is also the pleasure of a fresh fruit…

The Moving Image Laboratory is co-produced by the Archipelago – Center for Contemporary Arts.

FLOW – Carolina Rocha

O wheels, O gears, eternal r-r-r-r-r-r!
Strong restrained spasm of furious mechanism!
In fury within and without myself,
Through all my nerves dissected, outside,
My nipples distended with everything I feel!
I have dry lips, O great modern noises,
From listening to you much too closely,
And my head burns, wanting to sing you
With an excessive expression of all my feelings,
An excess contemporaneous with you, O machines!

(…)

Ah, to be able to express myself wholly the way a motor expresses itself!
Without completion, like a machine!
To go through life triumphantly like a late-model auto!
To at least be physically penetrated by all this,
Rend myself totally, open myself completely, make myself permeable
To the perfume of oil and heat and coal
Given off by this stupendous, black, artificial, insatiable flora!

Excerpts of the poem “Ode Triunfal” (Triumphal Ode), by Álvaro de Campos, June 1914
Translation: Richard Zenith


GONE GONE – Diogo Sousa

Two fragments divided into two barely descriptive acts contrast anachronistically. First a small despair illustrating the human condition in relation to the landscape. Then, a “semi-monologue” conversation about cinema, bread, and a body of work.


A MELON IN A SUMMER NIGHT – João Amado

There’s nothing better than the right fruit at the right moment.


SEM NOME (UNTITLED) – Madalena Correia

The idea for this work comes from Plato’s “The Allegory of the Cave”. By relating this text to an oppressive society (“that or those who exert force on the weakest, who cause oppression”), the LGBTQIA+ community that still feels oppressed and constantly suffers from prejudice, I decided to articulate the idea of the cave with the non-binary gender (“which encompasses several different identities within itself”).

This work recreates the cave wall, where “The people walk behind the wall so their bodies do not cast shadows for the prisoners to see, but the objects they carry do”, where the prisoner of society believes that the shadow is their reality, and no other.

An oppressive, destructive, standardized, and prejudiced reality. 


THE COW THAT GOT LOST FROM THE REST OF THE HERD – Mariana Medeiros

Cows move slow because they are heavy. I like the way they move their hip bones when they walk down the road, and the way they look into your eyes, without looking away. You pass slowly too, almost apologizing for interrupting their path. Never whistle; they may lose their milk. When I got close to the cow, I realized that it turned into a cloud, and then the indefinite form gave way to a woman’s body, the angel-woman. We’re face to face; I can smell its scent and breath. We look into each other’s eyes, I hold her tight, and I feel our bodies melting, turning into a glowing liquid that spreads across the floor. I look up at the sky and I see the light that illuminates the hill. That’s why I’m here.


KAKOPHONÍA – Nina Medeiros

What is remembered survives.

Starting from a chord in D minor, the narrative unfolds in a sequential line from a distant memory that slips away with the passing of time. The people, the objects, the spaces, and the spatial frameworks shown in the film stimulate the act of remembering and establish a nostalgic dialogue, albeit nonsensical, from the complicity between image and sound.

A strident kakophonía is projected, looking for justifications. Or not.


I WAS BORN AT THE MOUTH OF A RIVER AND DIED AT THE SOURCE – Rodrigo Mota

The water that once flowed in the streams left permanent scars on the earth. Scars that formed paths of all forms. This film is a pilgrimage, starting at the mouth of a dry stream and continuing through this body devoid of its soul.


THE PALMS OF THE HANDS DON’T LIE – Sara Brum

How can we survive the nostalgia, the absence in the isolated land?
Only by getting inside the body, creating a space