Num contexto de experimentação e pluridisciplinaridade, a DuplaCena não poderia deixar de ser o quarto elemento na criação deste espetáculo juntamente com Vasco Mendonça, Gonçalo M. Tavares e Luís Miguel Cintra, tendo-se aventurado pela primeira vez na produção de uma ópera.
A ópera Jerusalém é o resultado de uma confrontação de diferentes linguagens e abordagens artísticas. Um espetáculo cuja coerência artística e conceptual é o resultado direto e compósito de um processo de contaminação entre os vários discursos (musical, dramático, cénico) que lhe dão origem. A escolha da adaptação do livro homónimo de Gonçalo M. Tavares é particularmente pertinente. É possível, em Jerusalém, observar a forma como o autor se movimenta entre os territórios da ficção e o ensaio, num equilíbrio delicado, desenhando personagens de uma forma mais ou menos caricatural, evocando universos mais ou menos identificáveis, em suma, movimentando-se entre uma minuciosa observação do detalhe físico e poderosas (por vezes homéricas) incursões ao universo das ideias. Por outro lado, é interessante observar que essa alternância entre registos encontra um eco na sua abordagem formal, em que interrompe de uma forma brusca a narrativa principal com episódios externos. Estes episódios, apercebidos como o passado dessa narrativa, polarizam o presente, criando inevitavelmente uma intensidade dramática, libertada no final – potenciando, assim, uma narrativa expressionista através de uma estrutura mecânica, de grande rigor formal.
Música
Vasco Mendonça
Libreto
Gonçalo M. Tavares
Encenação
Luís Miguel Cintra