“NADA. VAMOS VER.”

Gustavo Ciríaco

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Este é um trabalho meticuloso, um artesanato de representação performativa que assenta no domínio dos tempos cénicos e das tensões dramáticas.

 

Em Nada. Vamos ver. as convenções de um espetáculo de dança são desafiadas através do diálogo direto estabelecido com o espectador, através de um registo de atuação naturalista cuja força reside na genuinidade e no despojamento pessoal dos intérpretes. Instala-se então uma ambiência algures situada entre a ficção e a realidade em que o processo criativo é partilhado com o público em jeito de histórias contadas. A oficina do artista sobe à cena, como se se tratasse de uma visita guiada pela síntese daquilo que é especificamente teatral. Sem excessos nem efeitos, são mínimos os recursos que proporcionam uma experiência que se promete intensa, um encontro essencial. A arte é meio, é pretexto. Não se lhe deve impor demasiadas verdades.

 

Algumas histórias. A do público. A do performer. Um ponto de encontro: a sala de espetáculo. Um espaço de expectação, de convivência, de evasão. Um espaço de códigos compartilhados. Nada. Vamos ver. começou com uma questão: como tornar visível aquilo que está presente e constitui a situação de um espetáculo de dança em um teatro. Como explicitar o óbvio, o já acordado, porém já esquecido na relação público-performer?

Num desenho chamado Nada. Ello dirá. (Nada. Vocês verão.), onde um cadáver escreve a palavra “Nada” numa pedra, o pintor espanhol Goya faz uma alusão à expectativa diante da morte, da evasão do mundo material e da ausência de divino, de um nada ao qual todos estaríamos destinados. Um mundo sem Deus. Sem além.

De modo estranhamente similar, o lugar físico do teatro está associado a uma série de expectativas que produzem um certo além, um certo transpor de realidade, de evasão mesmo, onde há a criação de dois tempos, dois campos aparentemente separados, na claridade da cena e na escuridão da plateia.

Gustavo Ciríaco

 

 

 

 

Ficha técnica

 

Conceção e Coreografia Gustavo Ciríaco

Criação e Performance Francini Barros, Gustavo Ciríaco, Ignacio Aldunate, Milena Codeço, Leo Nabuco

Assistência de direção e Colaboração Artística Flávia Meireles

Bailarina convidada Dyonne Boy

Vídeos Leo Nabuco, Ignacio Aldunate e Gustavo Ciríaco

Bailarino virtual Leo Nabuco e Gustavo Ciríaco

Banda sonora Rodrigo Marçal

Desenho de luz José Geraldo Furtado

Consultor cenográfico Joelson Gusson

Professores de dança Flavia Meirelles, Maria Alice Poppe, Renata Reiheimmer, Joelson Gusson

Administração e Produção executiva Fomenta Produções, Carla Mullulo, João Braune

Coprodução Culturgest, SESC São Paulo

Residência Centre International d’Accueil et d’Éxchanges Des Récollets, com apoio do Centre National de la Danse – CND (accueil studio) e do Mica Danses – Paris

Teatro Gláucio Gil, parte do projeto de ocupação Orquestra Improviso, com apoio do Panorama de Dança – Rio de Janeiro

Apoio para pesquisa Prémio Klauss Vianna, Funarte

 

Nada. Vamos ver. estreou no SESC, São Paulo, em Fevereiro de 2009.

“NADA. VAMOS VER.”

Gustavo Ciríaco

 

 

This is a meticulous work, a crafwortk of performative representation that relies on the mastery of scenic beats and dramatic tensions.

 

Em Nada. Vamos ver. the conventions of a dance show are challenged through a direct dialogue established with the spectator by a register of naturalistic performance whose strength lies in the genuineness and the performers’ personal divestment. An ambience is established somewhere between fiction and reality in which the creative process is shared with the audience in the way of storytelling. The artist’s atelier rises to the scene, as if it were a guided tour by the synthesis of what is specifically theatrical. Without excesses or effects, the resources which provide an intense experience are minimal, an essential encounter. Art is medium, it is pretext. Not too much truth should be imposed on it.

 

A few stories. From the audience. From the performer. A meeting point: the show room. A space of expectation, of coexistence, of evasion. A shared-code space. Nada. Vamos Ver. began with a question: how to make visible what is presented and constitutes a dance performance’s situation in a theater. How to explain the obvious, the mutually agreed, but already forgotten in the performer-audience relationship?

In a drawing called Nada. Ello dirá. (Nada. Vocês verão.), where a corpse writes the word “Nothing” on a stone, the Spanish painter Goya makes an allusion to death’s expectation, to the material world’s avoidance and to the absence of the divine, to an absence which we all would be destined. A world without a God. With no future.

Strangely similar, the theatre’s physical place is associated with a series of expectations which produce a certain beyond, a certain transposition of reality, even evasion, where there is the creation of two times, two apparently separate fields, in the clarity of the scene and in the darkness of the audience.

Gustavo Ciríaco

 

 

 

Credits

 

Conception and Choreography Gustavo Ciríaco

Creation and Performance Francini Barros, Gustavo Ciríaco, Ignacio Aldunate, Milena Codeço, Leo Nabuco

Direction assistance and Artistic collaboration Flávia Meireles

Guest dancer Dyonne Boy

Videos Leo Nabuco, Ignacio Aldunate and Gustavo Ciríaco

Virtual dancers Leo Nabuco and Gustavo Ciríaco

Soundtrack Rodrigo Marçal

Lighting design José Geraldo Furtado

Scenography consultant Joelson Gusson

Dance teachers Flavia Meirelles, Maria Alice Poppe, Renata Reiheimmer and Joelson Gusson

Administration and Executive production Fomenta Produções, Carla Mullulo and João Braune

Co-production Culturgest and SESC São Paulo

Residency Centre International d’Accueil et d’Éxchanges Des Récollets, with the support of Centre National de la Danse – CND (accueil studio) and Mica Danses – Paris

Gláucio Gil Theatre integrates the occupational project Orquestra Improviso, with the support of Panorama de Dança – Rio de Janeiro

Research support Prémio Klauss Vianna, Funarte

 

Nada. Vamos ver. premiered at SESC, São Paulo in February 2009.