“CINEMATOGRAFIA – MUSICALIDADE”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
Se nas edições anteriores a ideia de coreografia no cinema não se reduzia às comédias musicais ou às cenas dançadas, nem a teatralidade no cinema à representação do teatro ou à presença visível do teatro dentro do filme, trata-se agora de abordar a musicalidade como ela se revela nos diferentes aspetos da mise-en-scène dos filmes.
Isso leva-nos a abordar a musicalidade cinematográfica não apenas pela utilização que pode ser feita da música nos filmes mas também, e sobretudo, pelo tratamento cinematográfico do tempo, quer seja pela montagem, o movimento, o contraponto imagem-som, as ruturas cronológicas, o ritmo, o leitmotiv, a alternância das luzes, etc.
Desde os primórdios do cinema que os realizadores reivindicaram uma forma cinematográfica mais próxima da musicalidade do que da narrativa. Foi nomeadamente o caso das avant-garde francesas, mas também das alemãs dos anos 20, ainda na época do cinema mudo, que procuravam libertar o cinema das reproduções teatrais ou literárias. Desconstrução da narrativa pela fragmentação, o estilhaçar do tempo, a procura de um ritmo fora de um contexto narrativo.
Mas a musicalidade no cinema não se esgota evidentemente com o fim das suas pesquisas formais. Com a chegada do cinema sonoro, a banda sonora, vai participar nisso muito fortemente: a relação entre ruídos e sons naturais, a textura das vozes, os silêncios…
Esta primeira edição dedicada às relações cinematografia-musicalidade abre pistas que serão desenvolvidas posteriormente nas próximas edições, daí a grande variedade de filmes propostos, desde os filmes mudos aos filmes contemporâneos, passando por filmes de animação, por filmes conhecidos ou desconhecidos.
Esta programação procura, desde a sua primeira edição, levar o espectador a abordar os filmes – mesmo aqueles que já conhece – com um novo olhar (e um novo ouvido) e a redescobri-los graças à simples alteração do ponto de vista, desta vez através da musicalidade. Mas procura ainda dar a descobrir novas obras ou propor filmes pouco vistos (e pouco conhecidos) em Portugal.
São assim apresentados filmes de Dimitri Kirsanoff, Jean Grémillon, Gregory Markopoulos, Kenneth Anger, Viking Eggelin, mas também filmes de Humphrey Jennings, Peter Nestler, Jean-Marie Straub, Jean Epstein, ou ainda de Jacques Tourneur, Boris Barnet, Max Ophuls, Satyajit Ray; em Portugal, João Pedro Rodrigues, Paulo Rocha, Fernando Lopes, e muitos outros.
Como acontece desde a sua primeira edição, é a relação entre os filmes escolhidos, o catálogo, constituído por textos em grande parte originais, e o encontro com os autores dos textos, realizadores, críticos, escritores, encenadores, atores, músicos etc., o que constitui a base e a matéria que determina este programa.
Para além da equipa de coordenação que formamos com Ricardo Matos Cabo, participou ativamente neste programa, Bernard Eisenschitz, Cyril Neyrat, Stéfani de Loppinot, Marcos Uzal, Pierre Léon, Renaud Legrand, Luís Miguel Oliveira, com quem temos vindo a criar um diálogo em torno das relações entre o cinema e as outras artes. Para além dos nomes já citados e que estarão connosco contamos ainda com a presença de outros cineastas e autores que virão apresentar e dialogar sobre os filmes, como Regina Guimarães, João Pedro Rodrigues, Alberto Seixas Santos, António Rodrigues, Diogo Dória, que escreveram textos originais sobre alguns dos filmes deste programa.
Pierre-Marie Goulet e Teresa Garcia
“CINEMATOGRAFIA – MUSICALIDADE”
O cinema à volta de cinco artes, Cinco artes à volta do cinema
If in previous editions the idea of choreography in the cinema was not confined to musical comedies or dance scenes, nor theatricality in the cinema to theater representation or to the visible presence of theater within the film, now it is the time to approach musicality as it is revealed in the different aspects of the films’ mise-en-scène.
This leads us to approach the cinematic musicality not only by the use that can be made of the music in films but also, and above all, by the cinematographic treatment of time, whether by the editing, the movement, the image-sound counterpoint, the chronological breaks, the rhythm, the leitmotiv, the alternation of lights, etc.
From the beginnings of the cinema, filmmakers have claimed a cinematic form closer to musicality than narrative. This was notably the case of the French avant-garde, but also of the Germans of the 1920s, still in the silent film era, who sought to liberate the cinema from theatrical or literary reproductions. Deconstruction of the narrative by fragmentation, the shattering of time, the search for a rhythm outside a narrative context.
But the musicality in the cinema is not exhausted evidently with the end of its formal investigations. With the arrival of sound in the cinema, the soundtrack will strongly participate in this: the relationship between noises and natural sounds, the texture of voices, the silences…
This first edition dedicated to the relationship between cinematography-musicality brings us other proposals which will be developed later in the next editions, what justifies the great variety of films proposed, from the silent films to the contemporary ones, passing through animation films, known films or even the unknown ones.
Since its first edition, this program aimed to get the viewer to approach the films – even those who already know them – with a new look (and a new ear) and to rediscover them thanks to the simple change of point of view, this time through musicality. But it also aims to discover new works or propose films that are less seen (and less known) in Portugal.
The films presented are directed by Dimitri Kirsanoff, Jean Grémillon, Gregory Markopoulos, Kenneth Anger and Viking Eggelin, as well as films by Humphrey Jennings, Peter Nestler, Jean-Marie Straub, Jean Epstein, Jacques Tourneur, Boris Barnet, Max Ophuls, Satyajit Ray; in Portugal, João Pedro Rodrigues, Paulo Rocha, Fernando Lopes, and many others.
As it happens since its first edition, it is the relationship between the chosen films, the catalog, consisting of largely original texts, and the encounter with the authors of the texts, filmmakers, critics, writers, directors, actors, musicians, which is the basis and subject matter of this program.
In addition to the coordination team we have formed with Ricardo Matos Cabo, also participated actively in this program Bernard Eisenschitz, Cyril Neyrat, Stéfani de Loppinot, Marcos Uzal, Pierre Léon, Renaud Legrand and Luís Miguel Oliveira, with whom we have been creating a discussion around the relationship between cinema and other arts. Furthermore, we also count on the presence of other filmmakers and authors who will come to present and dialogue about the films, such as Regina Guimarães, João Pedro Rodrigues, Alberto Seixas Santos, António Rodrigues and Diogo Dória, who wrote some of the texts in this program.
Pierre-Marie Goulet and Teresa Garcia