“O CAM E A CULTURA PORTUGUESA DOS ANOS 80”

Nuno Grande

ENGLISH

 

O ano de 1983 representou um momento rico e paradoxal na cultura portuguesa. Nele realizou-se a nostálgica “XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura do Conselho da Europa”, enquanto, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, um grupo de criadores, liderados pelo galerista Luís Serpa, lançava a irreverente exposição “Depois do Modernismo”, curiosamente, no mesmo período em que a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) inaugurava um novo Centro de… Arte Moderna (CAM). Como vemos, vivia-se então um verdadeiro “curto-circuito” entre uma modernização tardia e uma aculturação pós-moderna, tão típica desse Portugal pós-revolucionário. E depois, juntemos a notável ação da Madalena Azeredo Perdigão, os Encontros ACARTE, as grandes exposições como a “Diálogos”, as apresentações do Living Theatre no auditório, e toda a imensa experimentação feita dentro do CAM, e fora dele, nos jardins da FCG, e conseguimos perceber a sua seminal importância nesse Portugal, simultaneamente moderno e pós-moderno, das décadas de 1980/90.

Se a isso tudo acrescentarmos, ainda, o modo como o projeto do Leslie Martin evoca a experimentação museológica (tipo Hangar) então em fim de moda, podemos dizer que devemos ao CAM quase tudo o que havia a descobrir na época, apesar das contradições e até do anacronismo do seu espaço.

Foi isto que descrevi na tese de Doutoramento “Arquiteturas da Cultura. Génese dos Grandes Equipamentos Culturais da Contemporaneidade Portuguesa” (Universidade de Coimbra, 2009), e é também com base nisso que proponho celebrar-se os 30 anos de CAM, convidando diversos intervenientes, de várias áreas disciplinares, para debater o edifício, o ACARTE e outras (pós)modernices de que Lisboa já tem saudades.

Nuno Grande, arquiteto e coordenador do evento

“O CAM E A CULTURA PORTUGUESA DOS ANOS 80”

Nuno Grande

 

The year 1983 represented a rich and paradoxical moment in the Portuguese culture. The “XVII Art, Science and Culture Exhibition of the Council of Europe” took place at the National Society of Fine Arts, a group of artists, led by the gallery owner Luís Serpa, launched the irreverent exhibition “After Modernism”, curiously, in the same period in which the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG) inaugurated a new Center of… Modern Art (CAM). As we can see, there was a real “electrical dead short” between a late modernization and a postmodern acculturation, so typical of this post-revolutionary Portugal. And then, lets sum the remarkable work of Madalena Azeredo Perdigão, the ACARTE Meetings, the great exhibitions such as “Diálogos”, the Living Theatre presentations in the auditorium, and all the immense experimentation done inside and outside the CAM, in the gardens of FCG, and we can perceive its seminal importance in this Portugal, simultaneously modern and postmodern, from the decades of 1980/90.

If we add to this the way in which Leslie Martin’s project evokes museum experimentation (Hangar type) almost outdated, we can say that we owe to CAM almost everything there was to discover at the time, despite the contradictions and even the anachronism of their space.

This is what I described in my PhD thesis “Arquiteturas da Cultura. Génese dos Grandes Equipamentos Culturais da Contemporaneidade Portuguesa” (Universidade de Coimbra, 2009), and it is also on this basis that I propose to celebrate the 30 years of CAM, with various guests from multiple disciplinary areas to debate the building, the ACARTE meetings and other (post)modernisms of which Lisbon already misses.

Nuno Grande, architect and coordinator of the event