“ZONA DE ORDENAÇÃO ABERTA”
Catarina Botelho
A é cidade ordenada, rica e limpa, demasiado limpa, não é nem bonita nem feia. Caminho na tentativa de pertencer às ruas e que as ruas me pertençam ao andar. Ando longe das zonas turísticas e do centro histórico. O sol quente bate-me nas costas. Ao subir uma colina, encontro um bairro constituído por blocos de habitação, uma combinação de edifícios para a classe média com habitação social, construído nas últimas décadas. O espaço público é preenchido por pátios, parques, campos de jogos e caminhos pedonais. Observo as pessoas a jogarem, conversarem, fazerem compras, de um lado para o outro nas suas rotinas diárias. É um bairro apropriado e vivido pelos seus habitantes. Continuo a andar. Encontro esquinas coloridas, monocromáticas ou de duas cores, que me parecem zonas de respiração. Invadem-me e ao mesmo tempo tenho vontade de as engolir. Esquinas, cantos, cruzamentos – lugares de encontro, visões privilegiadas no tecido urbano. Implantadas em zonas pedonais, a ideia de dentro e fora confunde-se.
Alguém me disse que as esquinas de edifícios sempre lhe tinham parecido proas de barcos.
Ficha técnica
“ZONA DE ORDENAÇÃO ABERTA”
Catarina Botelho
A is an ordered city, rich and clean, too clean, neither beautiful nor ugly. I walk in the attempt to belong to the streets and in the hope that those streets belong to me while walking over them. I am far from the tourist areas and the historical center. The burning sun hits me on the back. While climbing a hill, I find a neighborhood consisting of housing blocks, a combination of buildings for the middle class with social housing, built in the last decades. The public space is filled with courtyards, parks, playgrounds and footpaths. I watch people playing, talking, shopping, back and forth in their daily routines. It is an appropriate neighborhood and lived by its inhabitants. I keep walking. I find colored, monochromatic or two-color corners that look like breathing zones. They invade me and at the same time I feel like swallowing them. Corners, intersections – meeting places, privileged views of the urban area. Located in pedestrian zones, the idea of inside and outside is confused.
Someone told me that the corners of buildings had always resembled boat bows.
Credits