“EMÍDIO AGRA: JARDINS DES OISEAUX”

Curadoria de Paula Parente Pinto

EXPOSIÇÃO – 4 a 20 de Abril, 2024
5ª a sábado, das 16h às 20h

O título da exposição de Emídio Agra toma o nome de uma das suas criações, Jardin des oiseaux, sugerindo a memória de um espaço cuja realidade já não é possível fixar. 

Compostas com restos de botas, malas, palavras, arames, fios coloridos, cruzetas, fita-cola, fronhas, calças, relógios pintados, fósforos, guarda-chuvas, caixas de fruta, botões ou embalagens perdidas, as construções de Emídio Agra não se parecem com nada que conheçamos. Encadeiam-se produzindo variações, transformações, permutas. Dobram-se e desdobram-se, despertando múltiplas memórias. O mesmo objecto pode assumir-se como uma peça suprematista, desdobrar-se num lençol de cama onde se podem observar as estrelas ou as horas partidas, ou transformar-se no vestido de uma fantasma; e a bisnaga do creme de barbear pode transformam-se numa guilhotina. São composições de objectos, de fragmentos arrancados do quotidiano, espectros de coisas reconhecíveis, ultrapassadas pelas próprias histórias e usos, que deambulam no imaginário. 

Raramente vistos, estes objectos-poemas são accionados em performances e mostrados em diálogo com os filmes realizados por Ana Pissarra e José Nascimento, numa exposição com curadoria de Paula Parente Pinto. Articulando múltiplas diferenças e afinidades, pretende-se formar uma “comunidade plural”, propõe-se um espaço onde possamos ver, sentir, distinguir e pensar quem somos e o que nos acontece no presente (Fina Birulés, Hannah Arendt: el món en joc). Trata-se, assim, de construir um mundo comum, onde o cinema e as artes plásticas possam ser vistos autonomamente, mas também numa teia de relações, num espaço onde nos podemos comprometer através das histórias que contamos, onde voltam as memórias que pensávamos terem sido apagadas.

São objectos de vários tamanhos, atados com fios quebradiços, finas linhas azuis ou amarelas; que se sopram, espreitam, tocam ou, simplesmente, se olham; que emitem ruídos, estrépitos de maquinaria, mas também assobios, gorjeios, chilros, grasnos; que se colocam no nariz ou nas orelhas, ligam e desligam, desenrolam, enrolam e guardam-se em malas, caixas e gavetas sem fundo. Deslocação contínua entre uma “história individual” e uma “história comum”, estes objectos descartados, frágeis, saem de um amontoado de caixas e malas de viagem trazendo as marcas da experiência histórica, vestígios de oportunidades imaginadas, de oportunidades perdidas. Parecem dizer: ainda podemos escapar à catástrofe.

EMÍDIO AGRA (Viana do Castelo, 1968) é doutorado em Filosofia (Estética) pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Barcelona e licenciado em Artes Plásticas-Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Realizou a exposição individual “L’éternité par les astres” (Sismógrafo, 2019), que deu origem a uma publicação com o mesmo título. É curador do ciclo de conferências “Imagens de Pensamento” no Sismógrafo desde 2020, editor e tradutor dos Cadernos Imagens de Pensamento.