“LÂMINA DA LUA

Curadoria de Ana Rito & Hugo Barata

EXPOSIÇÃO – 21 de Maio a 18 de Junho, 2025
5ª a sábado, das 16h às 20h

No seguimento do programa curatorial Videologias, que se materializou nas exposições Arquivo em Cena I, Anarchival Frames, The Touch of the Wound e Arquivo em Cena II – The Embodied Vision (Re-enactement), projetos expositivos que interpelaram o arquivo da DuplaCena a partir de uma seleção de autores representativos da sua extensa programação e produção num diálogo dinâmico com obras convidadas, neste ano de 2025, Ana Rito & Hugo Barata apresentam um novo programa de exposições.

A primeira exposição deste ciclo investiga a ideia de Ritual. Stanley Cavell, em The World Viewed, oferece um ponto de vista assente no ecrã enquanto véu – uma superfície paradoxal que tanto mostra, quanto oculta, permitindo a quem observa, olhar o mundo sem ser observado. Este entendimento do aparato técnico permite que consideremos a relação com a imagem a partir de um distanciamento fenomenológico, um estado limiar de consciência, entre a ausência e a presença, uma membrana entre o sonho e a realidade. Esta vertente tecno-ritualística procura pesquisar condições e experiências que recuperem a visão imaginante, muitas vezes perdida pela tecnologização como antagonista dos processos constitutivos da memória desde Platão, com Fedro. 

A ideia de ritual desloca-se do seu enquadramento clássico, muitas vezes ligado ao religioso, ao cerimonial, para assumir novos modos de manifestação que se inscrevem no contemporâneo e nos regimes imagéticos pós-digitais. Neste contexto, convoca-se uma prática que recupera e procura recontextualizar uma afetação sensível, solicitando estados quase hipnagógicos (entre a vigília e o sono) e contemplativos. Num tempo de super-estimulação, o ritual ganha nova relevância como forma de contra-temporalidade: uma prática que interrompe o fluxo acelerado, propondo um lugar de experiência reflexiva e lenta. 

Lâmina da Lua concentra um conjunto de pequenas cerimónias e distintos “ecrãs”, “véus”, que, na interseção entre o simbolismo ritualístico e o acontecimento da imagem, conectam narrativas universais e particularizadas de transformação e renovação: antídoto e veneno; objetos xamânicos animados por espíritos; alucinações, sonhos que habitam os lugares e os corpos; signos que se repetem como num mantra; desenhos que nascem das entranhas como que nascendo de um qualquer transe; feiticeiras e feiticeiros que convocam cosmologias sagradas e profanas; ritos diários materializados em gestos – o ritual do arquivo ou o arquivo enquanto ritual; mãos que curam, sangrando para que o feitiço se dê.

 

Enquanto dupla de artistas-curadores, Ana Rito & Hugo Barata têm vindo a colaborar com a DuplaCena desde 2009. One Woman Show (Coleção Berardo/MAC-CCB, 2009), There is no world when there is no mirror (Carpe Diem – Arte e Pesquisa, Festival Temps d’Images, 2010), Sucking Reality (BES Arte & Finança, FUSO – Anual Internacional de Videoarte, 2011), The Embodied Vision: performance para a câmara (Museu Nacional de Arte Contemporânea, Festival Temps d’Images, 2013), ou mais recentemente Magical World (FUSO – Anual Internacional de Videoarte, 2022), são alguns dos momentos.

ARTISTAS
Francisco Novais, Francisco Rodrigues, Lia Falcão, Lula Pena, Mafalda Ar, Margarida Nuno Oliveira, Rita Barqueiro, Tomás Saraiva

 

]CURATORIAL STUDIO[
Ana Rito & Hugo Barata, 2024

Assumindo diversos espaços de apresentação de arte contemporânea enquanto recetáculo de heterocronias várias, e o formato expositivo enquanto lugar para a inclusão histórica, cultural, política e educativa, o Curatorial Studio pretende promover um conjunto de desarticulações conceptuais e uma série de ações contingentes. Na sequência do projeto Constelações: uma coreografia de gestos mínimos (MCB/CCB, 2019-2022), o presente estúdio de curadoria procura sublinhar o estremecimento dos tempos históricos estabilizados, descontinuando ou desassossegando a sua imobilidade, aproximando-lhe cortes, novas geometrias e ligações, temporalidades evenementais ou mais dilatadas. Através de várias ações produzidas em diálogo com diferentes estruturas (como a DuplaCena), pretende-se promover a produção de reflexão e de teoria no campo das práticas curatoriais recentes sobre os mais diversificados temas, implementando um modelo laboratorial aplicável a distintos formatos de apresentação, divulgação e investigação.