“OUT OF FRAME/ FORA DE CAMPO“
Artista – Alípio Padilha
Curadoria de Ana Rito & Hugo Barata
EXPOSIÇÃO – 17 de Setembro a 4 de Outubro, 2025
5ª a sábado, das 16h às 20h
No seguimento do programa curatorial Videologias, que se materializou nas exposições Arquivo em Cena I, Anarchival Frames, The Touch of the Wound, Arquivo em Cena II – The Embodied Vision (Re-enactement) e Lâmina da Lua, projetos expositivos que interpelaram o arquivo da DuplaCena a partir de uma seleção de autores representativos da sua extensa programação e produção num diálogo dinâmico com obras convidadas, neste ano de 2025, Ana Rito & Hugo Barata apresentam um novo programa de exposições.
Out of Frame, a segunda exposição deste ciclo, pretende relacionar a experiência das artes performativas e a sua remediação a partir de diversos media, como o filme, o vídeo ou a fotografia funda-se não poucas vezes na noção de partilha do sensível já enunciada por Jacques Rancière. Autores como Fischer-Lichte, Hans-Thies Lehmann, Jean-Luc Nancy, Georges Didi-Huberman entre muitos outros, exploram em variados ensaios uma teoria da estética do performativo, enfatizando a noção de teatro pós-dramático, dissolução da narrativa directa e miscigenação de linguagens. Esta tomada de posição dialoga fortemente com as práticas da imagem, seja a imagem movente ou a imagem fixa. Filme, vídeo e fotografia são meios que possibilitam o prolongamento da teatralidade, transformando o instante efémero em matéria e releituras infinitas, acumulando perspetivas, fragmentando a linearidade e convocando-nos para um exercício de montagem activa e corporizada, convergindo com práticas em que a cena se expande para além do palco e o olhar do espectador se torna a verdadeira boca-de-cena. É neste contexto que o trabalho de Alípio Padilha se move e se dá a ver: o seu pensamento sobre partilha e comunidade oferece-nos um alicerce conceptual para pensar uma exposição como espaço de convivência – um palco de várias temporalidades, um ecrã de múltiplas inscrições entre a fotografia e o vídeo, convergindo e unindo o palco e o seu reverso – os bastidores – que adquirem estatuto de territórios equivalentes de visibilidade. Aqui, o acto performativo não se encerra em si mesmo, mas prolonga-se nos registos diários e nas reinscrições temporais que dele derivam. Os corpos e os espaços expandem-se, assim, para além da imediaticidade da representação, configurando-se como zonas políticas e estéticas em múltiplas camadas onde a obra se torna continuamente negociada entre palco, arquivo e espectador. O seu trabalho não se enquadra enquanto mero registo documental, mas como dispositivo estético-político que redistribui o visível. A fotografia torna-se um campo de montagem sensível, capaz de revelar dimensões ocultas e de prolongar experiência do palco, dirigindo o seu olhar para os instantes de fragilidade que antecedem ou sucedem a representação, dos corpos em espera, silêncios, olhares hesitantes, em que todos os gestos, mesmo os mais naturais, possuem força conceptual. A fotografia de Alípio Padilha dá visibilidade ao que permanece invisível durante a performance, reinscrevendo no espaço comum a dimensão vulnerável de corpos e figuras, funcionando como montagem de tempos heterogéneos. Não se regista apenas um momento transitório, mas condensa-se neste a tensão entre o quotidiano e o extraordinário, entre o gesto privado e o espaço público. Através desse olhar, o fotógrafo mostra que o teatro começa muito antes do palco e continua muito depois dele.
Enquanto dupla de artistas-curadores, Ana Rito & Hugo Barata têm vindo a colaborar com a DuplaCena desde 2009. One Woman Show (Coleção Berardo/MAC-CCB, 2009), There is no world when there is no mirror (Carpe Diem – Arte e Pesquisa, Festival Temps d’Images, 2010), Sucking Reality (BES Arte & Finança, FUSO – Anual Internacional de Videoarte, 2011), The Embodied Vision: performance para a câmara (Museu Nacional de Arte Contemporânea, Festival Temps d’Images, 2013), ou mais recentemente Magical World (FUSO – Anual Internacional de Videoarte, 2022), são alguns dos momentos.
]CURATORIAL STUDIO[
Ana Rito & Hugo Barata
Assumindo diversos espaços de apresentação de arte contemporânea enquanto recetáculo de heterocronias várias, e o formato expositivo enquanto lugar para a inclusão histórica, cultural, política e educativa, o Curatorial Studio pretende promover um conjunto de desarticulações conceptuais e uma série de ações contingentes. Na sequência do projeto Constelações: uma coreografia de gestos mínimos (MCB/CCB, 2019-2022), o presente estúdio de curadoria procura sublinhar o estremecimento dos tempos históricos estabilizados, descontinuando ou desassossegando a sua imobilidade, aproximando-lhe cortes, novas geometrias e ligações, temporalidades evenementais ou mais dilatadas. Através de várias ações produzidas em diálogo com diferentes estruturas (como a DuplaCena), pretende-se promover a produção de reflexão e de teoria no campo das práticas curatoriais recentes sobre os mais diversificados temas, implementando um modelo laboratorial aplicável a distintos formatos de apresentação, divulgação e investigação.