Uma biblioteca de imagens
Ar.Co
O programa apresentado pelo Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação reúne uma seleção de trabalhos realizados pelos alunos do Curso de Cinema/Imagem em Movimento que responderam ao desafio de pensar a ideia de “diversidade global”, mote da edição do FUSO 2020. Os sete trabalhos selecionados revelam tanto uma vasta riqueza visual, como ensaiam respostas críticas aos paradigmas de um mundo tendencialmente global que, de modo paradoxal, se apresenta pouco permeável à diversidade.
Neste programa muitos dos filmes usam o que Harun Farocki definiu como “imagens operativas”, ou seja, imagens que foram produzidas sem pretensão artística e que pertencem na sua maioria à esfera das tecnologias de informação. E o modo como estas são apropriadas por estes filmes expõe a sua finalidade técnica, como nos evidencia o seu papel de mediação nos dispositivos que controlam a atividade humana.
Sobre o fluxo imparável de imagens que acompanha este movimento globalizante, Stan Vanderbeek — na década de 1960 — propunha a criação de “Movie-Dromes”, espaços de recepção e de projecção de imagens em que o cinema era pensado enquanto uma arte performativa. Os artistas, segundo Vanderbeek, seriam os mais qualificados em operar estes arquivos imagéticos e a realizar as associações entre as imagens que chegariam do mundo inteiro a esses terminais. Conseguindo os artistas, através das suas recombinações, tanto facilitar a compreensão lógica como penetrar a níveis inconscientes, usando uma vasta biblioteca de imagens, que seria uma câmara de descompressão cultural. A seleção destes sete vídeos, realizados por jovens artistas, pretende ser um contributo para que se pense o modo como a imagem em movimento ainda subsiste, tal como Vanderbeek proclamava, enquanto um influente intercomunicador cultural.
passarinho assobio de água _ Ana Vala, 1’10’’, 2017
O assobio de água mimetiza o chilrear dos pássaros, passarinho assobio de água.
BIO
Ana Vala (1992, Peniche) estudou Design Industrial e Design de Produto na ESAD.CR (2011-2017). Durante esse percurso sentiu necessidade de fundir no mesmo processo de trabalho referências e metodologias de diferentes disciplinas: Design, Cinema, Antropologia. Neste momento frequenta o 2º ano do Curso Cinema/Imagem em Movimento no Ar.Co.
No. _ Marcus Silva, 3’, 2020
Shabbat, domingo, segunda, pedicure, banho, depressão, isolamento, real, imaginário, colorido, cinzento, poluído, limpo… Tudo é o que é, e não é o que parece ser. Um retrato da solidão nos dias atuais, onde ninguém pode ser o que se quer ser, mas que, entretanto, deve ser o que se deve parecer ser.
BIO
Marcus Silva, nascido e criado no interior do Brasil, é estudante do curso de cinema e imagem em movimento do Ar.Co. Advogado por formação, após iniciar um curso de fotografia e cultura visual, desistiu da carreira jurídica de modo a emanar todas as suas forças em prol da sua paixão pela fotografia e pela sétima arte.
LIGHT PROMISES _ GAIATO, 1’43’’, 2020
A tua luz não é igual à minha, mas estamos os dois no escuro.
BIO
Nascida nos anos 90 em Paris, juntou à sua experiência em teatro (ESAD.CR), a dança, a performance, a escrita (Massa Com Atum) e mais recentemente o cinema (Ar.Co).
Dream Body _ Felipe Andrat, 4’13’’, 2020
No processo de transferência da minha vivência real para o virtual através de um jogo online encontrei um lugar para um escapismo e uma procura por um senso de normalidade. Entretanto reconheço as problemáticas da realidade dentro da simulação: a representação dos géneros é falocentrada, o feminino é hiperssexualizado, a persistência do binarismo, entre outros. Acredito que mais do que nunca a discussão sobre inclusão deve transpor os limites entre o real e o virtual.
BIO
Felipe Andrat é um artista brasileiro de 25 anos, natural de Santa Catarina. Atualmente frequenta o Curso de Cinema/Imagem em Movimento no Ar.Co em Lisboa. O artista utiliza a videoarte como seu principal dispositivo.
long time call _ Margarida Albino, 2’40’’, 2020
A envia uma frequência. duas forças tendem-se a unir!
B constrói um obstáculo. insistimos em resistir…
C recebe A com o obstáculo de B e devolve a frequência de novo a A. feedback
O ABC será provavelmente sempre ambíguo. Vamos dar isso como certo. As fronteiras, imprevisíveis. resiliência resiliência resiliência. A imaginação como resistência.
BIO
Margarida Albino nasceu em 1998. Começou os seus estudos artísticos na Escola Artística António Arroio. Desde aí tem frequentado cursos tanto teóricos como práticos nas áreas do cinema, da fotografia e do som e mais recentemente participado nalgumas residências artísticas. Encontra-se neste momento a concluir o 3º ano do Curso de Cinema / Imagem em Movimento no Ar.Co em Lisboa.
Íntimo e Perene _ Julia Nogueira, 4’28’’, 2020
Um filme-carta em que memórias felizes se chocam com a saudade de casa. Só um destinatário seria possível para entender a nostalgia do que ainda não se vivenciou.
BIO
Nascida no cerrado brasiliense, agora exploradora das terras lusitanas, se enamorou pela luz lisboeta. Eterna estudante, formada pela universidade de Brasília em Geografia, e agora aluna no Ar.Co no curso de Cinema/Imagem em movimento, e integrante do coletivo Atômica|Coletiva, 28 voltas ao sol.
Barreiras Invisíveis _ Mariana Meneses, 46’’, 2020
Filme de arquivo que explora o conceito de Barreiras Invisíveis, sejam estas autoimpostas ou involuntárias, psicológicas, energéticas, emocionais, sociais ou físicas.
BIO
Mariana Meneses (2001). Aluna do Curso de Cinema/Imagem em Movimento do Ar.Co.
“FUSO 2020 – August 27th to 30th
August 30th
Uma biblioteca de imagens
Ar.Co
The programme presented by Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual – gathers together a selection of works created by students of the Cinema/Moving Image Course who responded to the challenge of reflecting on the idea of “global diversity”, the motto of FUSO´s 2020 edition. The seven pieces selected not only reveal a vast visual richness, but also test critical responses to the paradigms of a tendentially global world which, paradoxically, presents itself as not very susceptible to diversity.
In this programme, many of the films use what Harun Farocki defined as “operational images”, that is, images produced without artistic pretension, which mostly belong to the sphere of information technologies. And the manner in which they are appropriated by these films, reveals their technical objective, as evidenced by their mediation role as tools which control human activity.
With regards to the unstoppable flux of images which accompanies this globalizing movement, Stan Vanderbeek — in the 60s — proposed the creation of “Movie-Dromes”, spaces for image reception and projection, in which cinema was conceived as a performative art. According to Vanderbeek, artists would be more qualified to operate these image archives and to direct the associations between images that would arrive from the entire world to these terminals. Through their re-combinations, artists would be able to not only facilitate logical understanding, but penetrate at unconscious levels, using a vast library of images, which would be a cultural decompression chamber. The selection of these seven videos, directed by young artists, aims to be a contribution to rethinking the manner in which the moving image still subsists, as Vanderbeek proclaimed, as an influential cultural inter-communicator.
passarinho assobio de água _ Ana Vala, 1’10’’, 2017
Water’s whistling mimics the twittering of birds, little bird water whistle.
BIO
Ana Vala (1992, Peniche) studied Industrial Design and Product Design at ESAD.CR (2011-2017). During that time, she felt the need to merge references and methodologies from different disciplines with her work process: Design, Cinema, Anthropology. Currently she is in the 2nd year of the Cinema/Moving Image Course at Ar.Co.
No. _ Marcus Silva, 3’, 2020
Shabbat, Sunday, Monday, pedicure, bath, depression, isolation, real, imaginary, coloured, grey, polluted, clean… Everything is what it is, and not what it appears to be. A portrait of solitude in current times, in which no one can be what they want to be but, meanwhile, must be what one must appear to be.
BIO
Marcus Silva, born and raised in inland Brazil, is a student in the cinema and moving image course at Ar.Co. A qualified lawyer, Marcus quit his legal career after beginning a course in photography and visual culture, in order to emanate all his forces through his passion for photography and the seventh art.
LIGHT PROMISES _ GAIATO, 1’43’’, 2020
Your light is not the same as mine, but we are both in the dark.
BIO
Born in the 90s, in Paris, the artist added theatre experience (ESAD.CR) to dance, performance, writing (Massa Com Atum) and, more recently, cinema (Ar.Co).
Dream Body _ Felipe Andrat, 4’13’’, 2020
During the transference of my real-life to the virtual world, through an online game, I found a place to escape and search for a sense of normality. However, I identified the problematics of reality within the simulation: gender representation is phallocentric, the feminine is hyper-sexualized, the persistence of the binary, among others. I believe that, more than ever, the discussion around inclusion should bridge the limits between the real and the virtual.
BIO
Felipe Andrat is a 25-year old Brazilian artist from Santa Catarina who is currently enrolled in the Cinema/Moving Image Course at Ar.Co in Lisbon. The artist utilizes video art as their primary tool.
long time call _ Margarida Albino, 2’40’’, 2020
A emits a frequency. two forces have a tendency to unite!
B builds an obstacle. we insist on resisting…
C receives A with B’s obstacle and returns the frequency to A once again. feedback
The ABC will probably always be ambiguous. We will take that as a certainty. The borders, unpredictable. resilience resilience resilience. The imagination as resistance.
BIO
Margarida Albino was born in 1998, and began her artistic studies at the Escola Artística António Arroio. Since then she has attended both theoretical and practical courses in the areas of cinema, photography and sound and, more recently, has participated in some artistic residencies. She is currently finishing her 3rd year in the Cinema/Moving Image Course at Ar.Co in Lisbon.
Íntimo e Perene _ Julia Nogueira, 4’28’’, 2020
A film-letter in which happy memories clash with the nostalgia for home. One recipient alone could possibly understand the nostalgia for what has not yet been lived.
BIO
Born in the Brazilian Cerrado, and now an explorer of Lusitanian lands, the artist fell in love with Lisbon’s light. Eternal student, with a degree in Geography from the University of Brasilia, now a student in the Ar.Co Cinema/Moving Image Course, and part of the collective Atômica|Coletiva, 28 voltas ao sol.
Barreiras Invisíveis _ Mariana Meneses, 46’’, 2020
Archival film which explores the concept of Invisible Barriers, be they self-imposed or involuntary, psychological, energetic, emotional, social or physical.
BIO
Mariana Meneses (2001). Student in the Cinema/Moving Imagem Course at Ar.Co.