ENGLISH

FUSO 2022 – 23 a 28 de Agosto

28 Agosto, 22h00 
Museu da Marioneta

 

JOAN JONAS: PERFORMANCE / FILME / VÍDEO
Lori Zippay

 

Joan Jonas é uma aclamada artista multimédia cuja obra engloba filmes, vídeos, instalações e performances. É uma pioneira da videoarte e do cinema experimental. Com uma prática artística multifacetada, que se estendeu ao longo de sete décadas, Jonas criou uma singular teatralidade do gesto, do som e dos objectos, que é tão enigmática quanto emblemática. O seu extenso corpo de trabalho em vídeo monocanal e em instalações multimédia é um dos mais reconhecidos na arte contemporânea.

Formada em história da arte e escultura, Jonas é, desde meados dos anos 1960 e início dos anos 1970, uma figura central do movimento das artes performativas, criando obras que integram elementos da dança, do teatro moderno, das artes visuais e das convenções do teatro japonês Noh e Kabuki. Foi influenciada por cineastas experimentais como Jack Smith, que nas décadas de 1960 e 1970 estavam a testar os limites da forma e conteúdo cinemáticos.

Começa a utilizar o vídeo na performance Organic Honey’s Visual Telepathy (1972), na qual a gravação ao vivo e um monitor funcionam como espelho e dispositivo de mascaramento, como forma de transformar imagens, espaço e tempo. A sobreposição de espelhos e de imagens reflectidas é uma marca distintiva e uma das estratégias empregues por Joan Jonas. Aparecendo mascarada ou coberta por véus, Jonas usa frequentemente nas suas performances disfarces ou representações como forma de estudar a topografia do gesto feminino; os seus desenhos adicionam densidade à textura das imagens. Recorrendo a encontros face a face e em close-up com a câmara e com o espetador, Jonas abre novos caminhos à linguagem do vídeo para criar um teatro íntimo do ser e do corpo.

Os primeiros trabalhos da artista estabelecem o cânone da videoarte, mas os seus filmes em 16mm são menos conhecidos, muito embora o filme Wind, de 1968, preceda em quatro anos o uso do vídeo. Jonas trabalhava geralmente sozinha no estúdio, mas os seus filmes, parecem criar um movimento contrário, celebrando os espaços urbanos vazios de Lower Manhattan e do ambiente circundante, no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.

Os filmes são colaborativos, enérgicos e divertidos, e Jonas envolve os seus amigos da comunidade artística da cena downtown nova-iorquina; é como se eles irrompessem do estúdio para entrar naquele teatro ao ar livre que é o mundo natural, tanto o urbano como o rural.

Trabalhando nos interstícios entre o cinema, o vídeo e a performance, Jonas utiliza um vocabulário pessoal e idiossincrático de gestos ritualizados e objectos totémicos, que contêm em si significados elusivos, mas poderosos.

O programa inclui dois dos primeiros filmes de Joan Jonas, Wind (1968) e Songdelay (1973), recentemente restaurados, e registos da sua performance de 1973, Organic Honey’s Vertical Roll, na Galeria Leo Castelli, bem como o vídeo de 2003, Waltz, raramente exibido.

WIND – Joan Jonas

O filme Wind, de 1968, exibido numa cópia recentemente restaurada, é a primeira tentativa da artista de traduzir para filme as suas performances ao vivo. Rodado numa praia deserta no Estuário de Long Island, Wind é o registo de uma performance de Joan Jonas com um pequeno grupo de artistas e amigos (Judy Padow, Eve Covey e Keith Hollingworth) na qual atravessam uma paisagem agreste, assolada pelo vento. O silêncio e as imagens a preto e branco em 16mm evocam os primórdios do cinema, ao mesmo tempo que situam a acção no minimalismo dos anos 60, quer na dança quer nas artes visuais. Tal como em Songdelay, um outro filme de uma performance no início da carreira de Joan Jonas, está também patente a intenção em depurar o medium trazendo para primeiro plano o corpo e os seus movimentos ritualísticos (na sua relação com o espaço). A Natureza é um elemento essencial e imprevisível no filme: os performers, com os seus casacos esvoaçantes, debatem-se contra as fortes rajadas de vento, mas no silêncio e na invisibilidade que caracterizam esta obra.

Câmara: Peter Campus. Montagem: Peter Campus, Joan Jonas.

(Filme) restaurado pelos Anthology Film Archives através do programa National Film Preservation Foundation’s Avant-Garde Masters Grant e a The Film Foundation. Financiado por George Lucas Family Foundation.


ORGANIC HONEY’S VERTICAL ROLL – Joan Jonas

Neste registo de uma performace na Leo Castelli Gallery em 1973, Jonas usa uma máscara de uma figura feminina com um esgar estático estampado. A performance tem muitos dos dispositivos característicos do trabalho da artista: espelhos, máscaras, desenho, e a utilização do vídeo para criar sobreposições espaciais, temporais e psicológicas. Com a sua máscara de boneca e kimono bordado, Jonas usa leques e cocares de penas como adereços para enfatizar símbolos da identidade feminina. O público tem, aqui, uma antevisão das acções que seriam mais trade integradas num dos seus mais icónicos vídeos mono-canal, Vertical Roll.

Performance na Leo Castelli Gallery, Nova Iorque. Edição Electronic Arts Intermix.


SONGDELAY – Joan Jonas

Neste filme, recentemente restaurado, filmado a preto e branco em 16mm, Jonas coreografa, num teatro ao ar livre, movimento, som e espaço, com a paisagem urbana de Lower Manhatten como elemento do filme. Baseado na acção performática Delay Delay, uma das suas raras performances feitas ao ar livre, Songdelay adapta ao espaço cinemático a linguagem muito original e enigmática da artista, aplicada ao gesto e ao som. Jonas dá aos seus performers, oriundos da comunidade artística, e amigos próximos da autora (Gordon Matta-Clark, Steve Paxton, Carol Gooden, Robin Winters), uma série de intruções – ritmos inesperados no espaço e na escala, e áudio delays – e de objectos, ou adereços simbólicos, a partir dos quais os performers podem criar a suas próprias interpretações: o resultado final é, simultaneamente, coreografado com precisão e improvisado com humor. Recorrendo a gestos ristualísticos e ao uso de objectos totémicos, tais como espelhos e máscaras, Songdelay reflecte os temas e imagens que integram o trabalho de Joan Jonas ao longo dos anos.

Câmara: Robert Fiore. Edição: Robert Fiore, Joan Jonas. Técnico de som: Kurt Munkacsi. Performers: Ariel Bach, Marion Cajuri, James Cobb, Carol Gooden, Randy Hardy, Michael Harvey, Glenda Hydler, Joan Jonas, EP Kotkas, Gordon Matta-Clark, Michael Oliver, Steve Paxton, Penelope, James Reineking, Robin Winters.

Filme restaurado pelos Anthology Film Archives através do programa National Film Preservation Foundation’s Avant-Garde Masters Grant e a The Film Foundation. Financiado por George Lucas Family Foundation.


WALTZ – Joan Jonas

Em 2003, Joan Jonas foi convidada pelo New Museum, em Nova Iorque, para criar uma obra para a antologia Point of View: An Anthology of the Moving Image. Filmado na costa rochosa da Nova Escócia, onde Jonas passa seus verões, Waltz é uma homenagem ao teatro francês ao ar livre do século XVIII, incorporando mitologia e ações que ocorrem espontaneamente na narrativa. Numa performance feita numa paisagem natural, para a qual conta com um elenco de amigos e artistas, Waltz é simultaneamente misterioso e descontraído; os actores comunicam entre si numa linguagem de acções e objectos ritualizados, que só eles parecem entender. Jonas usa espelhos e outras superfícies reflectoras de forma intensa: a sua função é criar uma sobreposição de imagens e espaços que, tal como num momento semelhante em Songdelay, funcionam como um feixe de luz, uma fonte de luz resplandecente. Dançando com os movimentos bruscos de uma marionete, a sós na costa rochosa, Jonas, usando uma máscara, deixa imagens assombrosas que ressoam no tempo.

Música: The Hundred Year Waltz by Otis A. Tomas. Câmara: Joan Jonas. Edição: Joan Jonas, Erik Moskowitz, Assistente de Produção: Jeri Coppola. Performers: Geoffrey Hendricks, Joan Jonas, Alice McKinnon, Sur Rodney Sur, Mitchell Timmons, Zena.

FUSO 2022 – August 23rd to 28th

August 28th, 10pm 
Lisbon Puppet Museum

 

JOAN JONAS: PERFORMANCE / FILM / VIDEO
Lori Zippay

 

An acclaimed multi-media, installation and performance artist, Joan Jonas is also a pioneering figure in video art and experimental film. Throughout a multifaceted artistic practice that has spanned seven decades, Jonas has created a unique theatrical language of gesture, sound, and objects that is as enigmatic as it is emblematic. Her extensive body of single-channel video and multi-media installations is among the most esteemed in contemporary art.

Trained in art history and sculpture, Jonas was a central figure in the performance art movement of the mid-1960s and early 1970s, creating works in which she integrated elements of dance, modern theater, the visual arts, and conventions of Japanese Noh and Kabuki theater. She was also influenced by experimental filmmakers, such as Jack Smith, who in the 1960s and 70s were pushing the boundaries of cinematic form and content.

Jonas first began using video in performance in Organic Honey’s Visual Telepathy (1972), in which a live camera and monitor functioned as mirror and masking device, a means of transforming images, space and time. The layering of mirrors and mirrored images is one of Jonas’s signature strategies. Performing masked or veiled, Jonas often uses disguise or masquerade to study a topography of female gesture; her use of drawing adds a rich density of texture. In close-up, face-to-face encounters with the camera and the viewer, Jonas broke new ground in using video to create an intimate theater of the self and body.

While Jonas’s early video art works are recognized as canonical, her 16mm films are less well known, although the 1968 film Wind predates her use of video by four years. In contrast to Jonas’s videos, which she typically shot alone in the studio, the films seem to celebrate the open, empty urban spaces of Lower Manhattan and the surrounding environment in the late 1960s and early 1970s. The films are collaborative, energetic, and playful, featuring performers drawn from the Downtown New York community of artists and Jonas’s friends; it’s as if they have burst out of the studio and into an open-air theater of the natural world, both urban and rural.

Across film, video and performance, Jonas’s work shares an idiosyncratic, personal vocabulary of ritualized gesture and totemic objects that resonates with elusive but powerful meaning.

This program features two of Jonas’s early films, Wind (1968) and Songdelay (1973), which have been recently restored, along with documentation of her 1973 performance Organic Honey’s Vertical Roll at Leo Castelli Gallery, and the rarely seen 2003 video Waltz.

WIND – Joan Jonas

The 1968 piece Wind, which was recently restored, is Jonas’s first effort to translate her live performance actions to the medium of film. Shot on an empty beach on the Long Island Sound, Wind captures Jonas performing with a small group of young artists and friends—Judy Padow, Eve Covey, and Keith Hollingworth—as they move through the stark, windswept landscape. The silent, black and white 16mm film evokes early cinema, while its content locates it in the spare minimalism of late 1960s dance and visual art. As in Songdelay, another early performance film, Jonas is concerned with stripping down the medium and foregrounding the figure and its ritualistic movements in space. Nature, too, is an essential, unpredictable element in the film: The performers struggle over and over with their fluttering coats, battling the gusts of a wind which, though soundless and invisible, defines the contours of this piece.

Camera: Peter Campus. Editors: Peter Campus, Joan Jonas.

Preserved by Anthology Film Archives through the National Film Preservation Foundation’s Avant-Garde Masters Grant program and The Film Foundation. Funding provided by the George Lucas Family Foundation.


ORGANIC HONEY’S VERTICAL ROLL – Joan Jonas

In this documentation of a 1973 performance at the Leo Castelli Gallery, Jonas performs as “Organic Honey,” a masked female figure with a smile frozen in place. The performance includes many of the artist’s signature devices: mirrors, masks, drawing, and the use of video to create spatial, temporal, and psychological layering. In her doll’s mask and embroidered kimono, employing props such as fans and a feathered headdress, Jonas foregrounds emblems of female identity. The viewer watches Jonas as she performs many of the actions that would be integrated into one of her most iconic single-channel video works, Vertical Roll.

Performance at Leo Castelli Gallery, New York. Edited at Electronic Arts Intermix.


SONGDELAY – Joan Jonas

In this new restoration of a 1973 black-and-white 16mm film, Jonas choreographs an open-air theater of movement, sound, and space, with the urban landscape of Lower Manhattan in a featured role. Based on Jonas’s 1972 performance action Delay Delay and one of only a few outdoor performances, Songdelay adapts the artists’ highly original, enigmatic language of gesture and sound to the cinematic space. Jonas and her performers—drawn from a close community of friends and artists, including Gordon Matta-Clark, Steve Paxton, Carol Gooden, and Robin Winters—play with emblematic props, unexpected rhythms of space and scale, and audio delays. Jonas gave her performers a series of instructions and objects, from which they then created their own interpretations; the resulting film appears at once precisely choreographed and playfully improvised. With its ritualistic gestures and use of totemic objects such as mirrors and masks, Songdelay resonates with themes and images that recur throughout Jonas’ performance work.

Camera: Robert Fiore. Editors: Robert Fiore, Joan Jonas. Sound Technician: Kurt Munkacsi. Performers: Ariel Bach, Marion Cajuri, James Cobb, Carol Gooden, Randy Hardy, Michael Harvey, Glenda Hydler, Joan Jonas, EP Kotkas, Gordon Matta-Clark, Michael Oliver, Steve Paxton, Penelope, James Reineking, Robin Winters.

Preserved by Anthology Film Archives through Film Archives the National Film Preservation Foundation’s Avant-Garde Masters Grant program and The Film Foundation. Funding provided by the George Lucas Family Foundation.


WALTZ – Joan Jonas

In 2003, Jonas was commissioned by the New Museum in New York to create a work for the anthology Point of View: An Anthology of the Moving Image. Set on the rocky coast of Nova Scotia, where Jonas spends her summers, Waltz is Jonas’s homage to 18th-century French open-air theater, incorporating mythology as well as spontaneously occurring events into the narrative. Performed with a cast of friends and artists in a natural landscape, Waltz is at once playful and mysterious; the performers seem to be communicating in a language of ritualized actions and objects that only they understand. Jonas employs mirrors and other reflective surfaces to powerful effect; they serve to layer images and space, and, recalling a similar moment in Songdelay, function as a beacon, a brilliant source of light. Dancing with the jerky movements of a marionette, alone on the rocky shore, a masked Jonas presents hauntingly resonant images.

Music: The Hundred Year Waltz by Otis A. Tomas. Camera: Joan Jonas. Editing: Joan Jonas, Erik Moskowitz, Production Assistant: Jeri Coppola. Performers: Geoffrey Hendricks, Joan Jonas, Alice McKinnon, Sur Rodney Sur, Mitchell Timmons, Zena.