“ESTE PEIXE É UM ROBALO”

Cristóvão Cunha e António Alvarenga

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Como mergulhar no “novo” e ficar por ali, como uma criança, a ver o mundo pela primeira vez? Como nos maravilharmos com a profundidade e a repetição, encontrando significados “apenas” a partir do gesto. Como nos apaixonarmos porque fingimos estar apaixonados. Se fingirmos mesmo bem, o Pinóquio transforma-se em criança, a ficção “é”.
Não sabemos nada sobre robalos. Mas não é grave pois não sabemos nada sobre quase tudo. Se dedicarmos uma vida a um assunto, talvez possamos passar de não saber nada a saber muito pouco. Não sabemos nada sobre robalos, mas comemos robalos. Há biliões de robalos no mundo, milhões de pescadores de robalo, milhares de pessoas cujas vidas giram em torno do robalo, das suas caraterísticas e do seu corpo. É um jogo, mas não é uma brincadeira.
O que comemos? O que fazemos quando comemos? Qual a forma da nossa boca? O que vêem os outros quando comemos? Comem connosco? O robalo será servido, comido e digerido, mas, desta vez, por um ator que tudo sabe sobre ele. Que conhece todos os robalos do mundo.
Assistiremos a esse momento único em que passamos a saber pouco sobre um assunto do qual não sabíamos nada. Um ator, uma dramaturgia, uma mesa, pratos e talheres, vídeo e som ajudarão a fixar esse momento.
“Este peixe é um robalo” é um espetáculo sobre o não-saber. Sobre a possibilidade de um não-saber ativo que nos permita, literal e provisoriamente, olhar o mundo pela primeira vez. Um não-saber que nos ponha o coração a bater mais forte, enquanto espera.
O coração bate mais forte precisamente porque sabemos que vai chegar, mas não sabemos quando. Sabemos que vai terminar, mas não sabemos quando nem como. É isso que nos anima. Acreditar que virás, mas não saber exatamente quando.
“Este peixe é um robalo” é um espetáculo sobre o que vemos todos os dias e nos passa pelas mãos, sobre o que nos entra pelo corpo adentro e desconhecemos. Sobre o que engolimos sem saber: a cauda, o filete, a cabeça e as espinhas; o acontecimento, o padrão/tendência, o sistema em movimento e a meta-estrutura. E a inevitabilidade da confiança.

Bios

António Alvarenga (n. 1974) trabalha em Prospetiva, Estudos do Futuro e Planeamento por Cenários, com ligações (por vezes inesperadas, mas fortes) a outras áreas, com ênfase particular nas artes performativas. Parece que o seu foco é o futuro, mas, na verdade, trabalha sobre o presente, em particular sobre a forma como a experiência e as expectativas se materializam em decisões, e sobre os matizes da interação entre “nós” e o “nosso contexto”. É Professor Associado Convidado na Nova SBE (“Strategic Foresight and Scenario Planning”) e fundador da ALVA R&C, tendo trabalhado, nos últimos anos, com +100 organizações nacionais e internacionais. Integra, como investigador, o Centro de Estudos de Gestão do IST (U. Lisboa), sendo ainda investigador associado do Instituto de História Contemporânea (FCSH – U. Nova Lisboa). Conta com múltiplas contribuições para livros e publicações em revistas internacionais de referência. É doutorado em Ciências da Gestão (Lyon 3), licenciado em Economia (FEP – U. do Porto), Mestre em Estudos Económicos Europeus (Colégio da Europa – Bruges) e Pós‑Graduado em Estratégia (ISCSP – U. de Lisboa). Está a trabalhar na peça “Como/Solitude” e, sob diversas formas, em “Conselhos para colocar as coisas no seu devido lugar errado” (escreveu 426 até ao momento). Com João Fiadeiro, criou o projeto “(soft) Skills for (hard) Decisions (SfD)”, protagonizou a reposição da conversa-performance “O que eu sou não fui sozinho” (2018) e participou, como performer, na versão expandida da peça “O Que Fazer Daqui Para Trás” (2019). Nos últimos anos, entre outras intervenções, criou ou co-criou: “A Fragilidade de Estarmos Juntos” (com Miguel Castro Caldas e Sónia Barbosa); “Madame – conversas privadas em espaço público” (com Leonor Barata); “Do meu lugar, eu vejo-te” (com Leonor Barata); “Nada Pode Ficar” (co-responsável pelo argumento e ideia original); “Fluxodrama” (co‑criador; peça da Amarelo Silvestre); “Neighbouring” (série de diálogos cumulativos). Tem formação em teatro, poesia vocal, fotografia e cinema e escreveu para fotografia e sobre cinema. Foi Diretor do Departamento de Estratégias e Análise Económica da Agência Portuguesa para o Ambiente, Relator do Compromisso para o Crescimento Verde do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Diretor do Departamento de Inovação e Sectores Estratégicos da Câmara Municipal de Lisboa e Diretor de Serviços de Prospetiva Estratégica do Departamento de Prospetiva e Planeamento. Tem duas filhas cada vez menos pequenas. Corre.

Cristóvão Cunha (n. 1978). Faz da sua curiosidade a base da sua vida multifacetada em vários domínios, cruzando áreas e funções no mundo das artes performativas. Licenciado em Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Viseu (IPV) e Comunicación Audiovisual em Salamanca (Facultad Ciencias Sociales, Universidad Salamanca). Começou como ator e produtor no Teatro da Academia de Viseu em 97 (enquanto estudante e jogador de basquetebol do Académico de Viseu) e iniciou o percurso profissional no Teatro Viriato em 2000 e na Companhia Paulo Ribeiro em 2001. Colaborou como desenhador de luz de vários criadores de dança ou teatro como Paulo Ribeiro, Nuno Nunes, Rui Catalão, Madalena Vitorino, Romulus Neagu, Patrick Muryes, Pieter Michael Dietz, Leonor Keil, Giacomo Scalisi, Sónia Barbosa, Eric Moed, Teatro do Vestido, Teresa Gentil, Amarelo Silvestre, Miguel Castro Caldas, Ruben Sabandini, La Ribot e Vera Mantero para o grupo Dançando com a Diferença, entre outros. Foi diretor técnico e desenhador de luz da Circolando entre 2006 e 2012. Colaborou pontualmente nas digressões de Marlene Monteiro Freitas.Actualmente também é director técnico digressões da Playfalse, Yola Pinto e Simão Costa Transdutctions, Graeme Pullyen, Escola de Dança Lugar Presente, operação e montagem luz, na Companhia Paulo Ribeiro desde 2002, e director técnico e desenhador de luz dos Jardins Efémeros em Viseu de 2011 até atualidade. Já percorreu, enquanto diretor técnico, muitos países conhecendo vários teatros e festivais internacionais de dezenas de cidades e localidades de 4 continentes. Membro do Cine Clube de Viseu desde 1997 (Presidente entre 2002 e 2006) sendo atual vogal do Conselho Fiscal. Como ator, esteve no Teatro da Academia (Teatro Universitário) de 1997 a 2001 em peças de Jorge Fraga. Noutra vida, a nível profissional trabalhou com John Mowat (Auto da Barca para a Companhia Paulo Ribeiro 2002), Viriato de Diogo Freitas Amaral e encenação Jorge Fraga/Teatro da Trindade 2003, Penelope/Teatro Mais Pequeno do Mundo de Graeme Pullyen (2011 a 2014). Membro fundador do Fórum Teatro Universitário 1998. Encenador de peças e director artístico do festival Palco para Dois ou Menos para a NACO (Núcleo de Animação Cultural de Oliveirinha, Carregal do Sal) de 2005 à atualidade. Membro Fundador da associação Ritual de Domingo com Sónia Barbosa em 2016 onde desempenha as funções de vice-presidente, produtor executivo e director técnico/desenhador de luz. Três filhos. Fez o seu primeiro vinho com o irmão em 2019.

Ficha Técnica

Criação, dramaturgia e ideia original: António Alvarenga
Co-criação, interpretação, luz e direção técnica: Cristóvão Cunha
Participação especial: Sofia Dinger
Criação vídeo: Kátia Sá e Paulo Morais – Sámorais
Desenho de som: José Marques
Apoio à coreografia: João Fiadeiro
Consultadoria gastronómica: Rosário Pinheiro
Design e comunicação: Nuno Rodrigues
Assistência à produção: António Barbosa
Contabilidade: Contraponto
Produção: Ritual de Domingo – Associação Artística
Apoios: Fundação Calouste Gulbenkian, Festival Temps D’Images, Núcleo de Animação Cultural de Oliveirinha (NACO), Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE), União Europeia – Fundo Social Europeu: Iniciativa Emprego Jovem, Portugal 2020, Mercado do Rato/Dona Ajuda/Praça, Bienal Cultura e Educação#1 – Retrovisor – República Portuguesa.
Agradecimentos: Município de Viseu, Círculo de Criação Contemporânea de Viseu – Polo1, António Simões, Adriano Filipe, Sónia Barbosa e Helena Botelho.

“THIS FISH IS A SEA BASS”

Cristóvão Cunha and António Alvarenga

This fish is a sea bass. In fact “sea bass” is the common name for a genus of the Percidae family, the labrax perch, much appreciated for its meat. Delicious meat. The longer it takes for a sea bass to bite, the more delicious it tastes. We eat so many things. We know so little about them.

Bios

António Alvarenga (b. 1974) works in strategic foresight and scenario planning, with strong and sometimes unexpected intersections with other fields, especially the performing arts. Although his work seems to focus on the future, he is, in reality, dealing with the present, specifically on how experience and expectations materialise into decisions and the nuances of the interaction between “us” and “our context”. Alvarenga is guest assistant professor in Strategic Foresight and Scenario Planning at Nova School of Business and Economics (NOVA SBE), Carcavelos, and founding member of ALVA Research&Consulting. He has collaborated, over a number of years, with more than one hundred national and international organizations. He is researcher at the Centre for Management Studies (CEG-IST) at Instituto Superior Técnico (IST), Lisbon, as well as associate researcher at the Institute of Contemporary History (HIS), at the School of Social Sciences and Humanities (FCSH), Lisbon. He contributed articles to several specialized publications at both national and international levels. Alvarenga holds a PhD in Management Science (Lyon 3), a Bachelor’s degree in Economy (FEP – School of Economics and Management, University of Porto), an MSc in European Economics Studies (College of Europe, Bruges), and a Postgraduate Diploma in Strategic Studies (ISCSP – Institute of Social and Political Sciences (University of Lisbon). Alvarenga directed the Department of strategies and economic analysis of the Portuguese Environment Agency (APA). He was rapporteur to the Ministry of Environment, Spatial Planning and Energy on the Agenda for Sustainable Development. Director of the Department of Innovation and Strategic Sectors of the Municipality of Lisbon – Directorate of Economics and Innovation, and Head of Division of Policy Planning and Strategic Foresight.  In the last few years, Alvarenga has created, co-created and directed a number of performative works, most of them collaborative projects with choreographers, dramaturgs, theatre, and film directors and other artists, such as João Fiadeiro, Leonor Barata, Maria João Guardão/João Nunes, Marta Wengorovius, Miguel Castro Caldas, Sofia Moura/Dennis Xavier and Sónia Barbosa.  He is presently working on the performance Conselhos para colocar as coisas no seu devido lugar errado, having written, up to this date, 426 aphorisms-advice (conselhos) which constitute the basis for an ongoing series of talks, performances, and collaborations with other artists. Alvarenga has two daughters that used to be small. He runs.

Cristóvão Cunha (b. 1978) is a creative Light Designer and Technical Director working with awarded dance and theater companies in Portugal and across Europe, with a background as Artistic director, Actor and Producer in professional theater groups. Founder and Artistic Director of “Stage for Two or Less”, Festival for two or less actors, Cristóvão was also Director of Cine Clube de Viseu, the 2nd oldest in activity in Portugal. After years traveling and working around the world, Cristóvão began Project Llull, of which he is Coordinator and Executive Producer, This project joins companies from Lisbon, Santiago Compostela and Barcelona, and is supported by the Portuguese Government, Instituto Ramon Llull, Lapa Lobo Foundation (Carregal do Sal), ACERT, and the Center for Intercultural Dialogue, Washington DC. Project Llull is cited in the 2014 UNESCO Report as an example of working through differences. Recent projects include Jardins Efémeros, a Festival that gathers musicians, architects and visual artists from all over world to discuss modern cities. He organized the commemoration of the 20th birthday of Companhia Paulo Ribeiro, one of the most renowned choreographers in Portugal.  He has three children. Cunha is a winemaker, and he launched his first wine in 2019.