“OS MORTOS TÊM TODOS AS MESMAS PENAS”
Truta no Buraco
Ao longo do tempo das nossas vidas humanas há um ponto em que sentimos claramente que o chão começa a puxar, devagarinho, o corpo começa a ganhar peso.
Então atiramos os olhos para cima, as mãos erguidas em flor a abocanhar o céu, a implorar tréguas à gravidade.
Para uns é assim que se encontra Deus, para outros é assim que se descobrem as aves.
Em 1813, o famoso ornitólogo John James Audubon relatou ter assistido a um bando migratório de biliões de pombos-passageiros no Kentucky, tão compacto que por três dias “a luz do meio-dia foi obscurecida como por um eclipse”.
O último exemplar desta espécie chamava-se Martha e morreu em 1914 no jardim zoológico de Cincinatti.
É sobre o céu que nos inclinamos nesta peça, para que possamos, antes que seja tarde demais, aprender algo com os que, realmente, cagam de alto.
Bio
Truta no Buraco é uma companhia formada por um bando de gentes que foi, nos últimos anos, consolidando um estilo e uma equipa artística, com o objectivo de pensar socialmente a vida e a cultura, despertos para a clarividência de que a nossa condição assim o exige. A solidão a nós não nos privilegia.
O nome surge de uma mítica entrevista de José Mourinho em 2018 em que o mesmo cita o filósofo Hegel para explanar a máxima ” The truth is in the whole” que, no seu inglês macarrónico nos soou a “the trout is in the hole”.
Ora, é precisamente sobre a reflexão do todo que o nosso trabalho pretende incidir, construindo uma perspectiva histórica a partir da sua sombra.
Andreia Farinha, formada em teatro em parceria com João Melo vindo do cinema, em colaboração contínua com José Smith Vargas, Manuel Bivar, e mais recentemente com Raphael Soares, Anafaia Supico, João Ayton, Ricardo Donas, e Francisca Bagulho, formam esta quadrilha.
Abrigamos a convicção de que este grupo está genuinamente empenhado em produzir pensamento crítico sobre o mundo através de uma cultura mais acessível e menos apelintrada e piegas politicamente. E assim, quixotescamente, temos vindo a aprimorar-nos nos meandros das artes a que, para mal dos nossos pecados, decidimos dedicar-nos.
Neste tempo de Ubus gostaríamos de aproveitar, enquanto o sangue ainda é inflamável, para o desperdiçar no teatro. É tudo.
Andreia Farinha (1984, Lisboa) é licenciada pela ESTC em Teatro, Realização Plástica do Espetáculo, tendo passado pela Visoka Skola Muzickych Uméni, em Bratislava, e completado o seu estágio final com a companhia “Terreira da Tribo”, em Porto Alegre, Brasil. Trabalhou como actriz, dramaturga e professora de práticas teatrais em diversos projectos de carácter social e comunitário, tanto no cinema, com Terratreme ou Filmtopia, como na área do teatro associativo, com a Fundação Aga Khan. É co-fundadora da Companhia Truta no Buraco.
Ficha Técnica
Concepção e Encenação: Andreia Farinha, João Melo, Anafaia Supico e Raphael Soares
Texto: Andreia Farinha
Vídeo: João Melo
Sonoplastia: Raphael Soares
Música: José Smith Vargas e Raphael Soares
Figurinos: Anafaia Supico
Espaço Cénico: Andreia Farinha e João Calixto
Assistência Cenografia: Catarina Sousa e Rafael dos Santos
Interpretação: Andreia Farinha e João Ayton, com participação de Anafaia Supico, João Melo, Raphael Soares e Francisca Bagulho
Interpretação Musical: Laura Farinha
Operação de Som e video: Raphael Soares
Produção e Comunicação: Francisca Bagulho e Anafaia Supico
Design Gráfico comunicação: Begoña Claveria
Conteúdos gráficos e memes: Ricardo Donas
Apoios: Fundação GDA, Temps D’Images/ Dupla Cena, Self-Mistake, Damas, ARS-ID Associação de Investigação e Desenvolvimentos, Cão Solteiro, RDA69, Câmara Municipal de Lisboa / Pólo Cultural Gaivotas Boavista
Agradecimentos: CERAS centro de estudo e de recuperação de animais selvagens (Quercus – Beira Baixa), Campo de Alimentação de aves necrófagas – Monte Barata (Quercus – Beira Baixa), Estúdio Fetra, Balaclava Noir, Rodrigo Amado e familiares de Manuel Amado, Pedro Rita, Manuel Bívar
“FROM A BIRD’S-EYE-VIEW, THE DEAD ALL LOOK ALIKE”
Truta no Buraco
There is a point in our human lives when we clearly feel that the ground is slowly pulling us down. So, we look up, hands raised like a flower devouring the sky, begging to gravity for a truce. For some, this is how they find God, for others this is how they discover birds. In this performance we lean over from the sky, so that we can, before it is too late, learn something from those patronising know-it-alls.
Bio
Truta no Buraco is a company formed by a bunch of people who, as an artistic team, have been consolidating a style while reflecting about social and cultural issues, trying to gain insight into what is expected from our work. Loneliness does not favor us. The name comes from a mythical interview with José Mourinho in 2018, in which he quotes the philosopher Hegel, “The Truth is in the Whole”, which, in his broken English, sounded like “the trout is in the hole” (Truta no Buraco). It is precisely on the reflection of the whole that our work intends to focus, constructing a historical perspective from its shadow. We embrace the conviction that this group is genuinely committed to producing critical thinking about the world through a more accessible and less politically based culture. And so, quixotically, we have been trying to navigate our way through the intricacies of the arts to which (for our sins) we have decided to devote ourselves. In this time of Ubus we don’t want to let our blood, while we can still ignite it, go to waste. We will pour it onto the stage. That’s all. The Truta no Buraco gang are: Andreia Farinha and João Melo (founding members), José Smith Vargas, Manuel Bivar, and more recently Raphael Soares, Anafaia Supico, João Ayton, Ricardo Donas, and Francisca Bagulho.
Credits
Concept and direction: Andreia Farinha, João Melo, Anafaia Supico and Raphael Soares
Text: Andreia Farinha
Music: José Smith Vargas e Raphael Soares
Costume designer: Anafaia Supico
Set designer: Andreia Farinha
Assistant Set designer: João Calixto e Catarina Sousa
Interpreters: Andreia Farinha and João Ayton, with the participation of Anafaia Supico, João Melo and Raphael Soares
Sound recording, mixing and editing: Raphael Soares
Video recording and editing: João Melo
Visual contents for the video and the set: Ricardo Donas
Sound operation: José Marques
Lighting and video operation: João Melo
Production and PR: Francisca Bagulho e Anafaia Supico
Graphic design for the press kit: Begoña Claveria
Funding: Fundação GDA, Temps D’Images/ Duplacena, Self-Mistake, Damas, ARS-ID Associação de Investigação e Desenvolvimentos, Cão Solteiro, RDA69, Municipality of Lisbon / Polo Cultural Gaivotas, Boavista.
Acknowledgments: CERAS centro de estudo e de recuperação de animais selvagens (Quercus – Beira Baixa), Campo de Alimentação de aves necrófagas – Monte Barata (Quercus – Beira Baixa), Estúdio Fetra, Rodrigo Amado, the family of Manuel Amado, Pedro Rita, Manuel Bívar.