“Tratado da Invenção das Coisas”
DANIEL MOUTINHO
Tratado da Invenção das Coisas é a invenção de coisas na minha pele através de tatuagens.
Quando dizemos coisas podemos estar a referir-nos a muita coisa. As coisas são de alguma forma inomináveis, indefinidas, sem ser por esse aglomerado genérico de serem coisas (objectos, contos, ideias, matérias, imagens, projectos adiados, pensamentos, etc.). O Tratado da Invenção das Coisas é essa acumulação de pequenas narrativas tatuadas no meu corpo à medida em que fui me inventando e compreendendo.
Interessava-me o acto de inventar, inventar o meu corpo percebendo nele o que é a História Tatuagem, a minha autobiografia e a natureza das coisas, pressupondo que o que existe tinha uma natureza anterior à nossa invenção delas (pessoal e global).
Estranha invenção, esta, feita de dor.
A invenção de mim próprio, feita com agulhas e tinta.
Não existiria este corpo se não fossem estas feridas que inventei. Este corpo tatuado com os meus afectos e afectações, reais e ficcionais.
Pensava, enquanto era tatuado, que esta inscrição no meu corpo era uma forma de compreensão de mim próprio e da minha vida, mas simultaneamente uma leitura do mundo.
Posso reclamar um significado simbólico pelas imagens na minha pele, mas não estou seguro que me caiba a mim decidir. Eu não diria que sou dono das minhas tatuagens; elas estão simultaneamente em mim e para além de mim, como imagens, com histórias e conotações que o meu corpo não pode inteiramente definir.
Tratado da Invenção das Coisas é uma performance que vem dessa experiência do corpo.
Tratado da Invenção das Coisas é essa invenção de uma vida, enquanto construção de um cenário, uma enciclopédia viva do meu entendimento das coisas. (Daniel Moutinho)
Bio
Daniel Moutinho nasceu em Lisboa, em 1989.
Licenciado em Teatro pela Universidade de Évora (2007-2010). Pós- Graduado em Artes da Escrita na FCSH (2011-2013). Mestre em Arte Multimédia, especialização em Audiovisuais pela FBAUL (2014-2018). Frequentou workshops com Manuel Vason, Hancock & Kelly; Cia. Phillipe Genty e Guillermo Gomez Peña.
Criador das performances Absolutamente Falso, apresentado no FIKE em 2009; Cravo, apresentado no Festival Escrita na Paisagem em 2011; Outra Lição de Anatomia, apresentada na Exposição Internacional Tadeusz Kantor, em Évora, na exposição Máquina Tadeusz Kantor no SESC Consolação em São Paulo, e na Settimana Kantoriana, em Salerno, em 2015; e A Fila Para o Pão, apresentado em Évora, em 2020.
Foi co-criador e intérprete na peça Filhos do Retorno, do Teatro do Vestido (2017-2018).
Foi assistente de dramaturgia e tradutor de Kaite OʼReilly e Philipp Zarrilli no Festival Escrita na Paisagem 2010.
Foi assistente de encenação da peça Ocupação do Teatro do Vestido em 2019.
Curador da plataforma From My Window, com Nuno Veiga, em 2020. Formador no workshop Auto-Retrato de um Reflexo Nebuloso: entre a escrita autobiográfica e a imagem do corpo confinado, com Samara Azevedo, no 9º Festival de Artes Cénicas de Bauru, no Brasil, em 2020.
Ficha Técnica
Criação, direcção, texto e interpretação:
Daniel Moutinho
Apoio à dramaturgia:
Lara Mesquita
Vídeo:
Vera Bibi
Cenografia:
Carla Martinez
Assistente de cenografia:
Isabelle Ivone Denken
Ambiente sonoro:
Nuno Veiga
Desenho de luz:
Carlos Ramos
Figurinos:
Miu Lapin
Produção executiva:
Cláudia Teixeira
Tatuagens por:
Binho Onze, Bruna Prazeres, Mirna Garcia, Sofia Nabais, Molin
Residência de criação:
Trust Collective; Companhia Casa Cheia
Acolhimento:
Karnart C.P.O.A.A.
Apoio:
República Portuguesa – Cultura I DGARTES – Direcção-Geral das Artes,
Fundação GDA, Self-Mistake
Uma produção:
Parrotrecord – associação cultural
Agradecimentos:
Fundação Calouste Gulbenkian, teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser
“Tratado da Invenção das Coisas”
DANIEL MOUTINHO
Tratado da Invenção das Coisas (Treaty of the Invention of Things) is the invention of things on my skin with tattoos. When we say things, we can be referring to lots of things. Things are somehow nameless, undefined, apart from this generic cluster we call things — objects, tales, ideas, materials, images, postponed projects, thoughts, and many others. Tratado da Invenção das coisas is this accumulation of small narratives tattooed on my body as I was inventing and understanding myself.
I was interested in the act of inventing, in inventing my body, and understanding from within the History of Tattoo, my autobiography and the nature of things. Strange invention, this one; made of pain. The invention of myself, made with needles and ink. My body would not exist, if it weren’t for these wounds I invented. This body is tattooed with my affections and with what affects me, whether they are real or fictional. While I was getting tattooed, I was thinking that this inscription on my body was a way of understanding myself and my life, and simultaneously a way of seeing the world. I can claim a symbolic meaning from the images on my skin, but I’m not sure it is up to me to decide. I cannot say that I own my tattoos; they’re simultaneously in me and beyond me, as images with stories and connotations that my body cannot fully define. Tratado da Invenção das coisas is a performance anchored on this experience of the body. Tratado da Invenção das coisas is this invention of a life, a living encyclopedia of my understanding of things.
Bio
Daniel Moutinho was born in Lisbon in 1989. He holds a graduate degree in Theatre from the University of Évora (2007-2010), a postgraduation in Writing Arts from FCSH (2011-2013), and a Master’s degree in Multimedia Art, with a specialization in Audiovisuals, from FBAUL (2014-2018). He attended workshops with Manuel Vason, Hancock & Kelly; Cia. Phillipe Genty and Guillermo Gomez Peña. Moutinho created the performances Absolutamente Falso, presented at FIKE (2009); Cravo, presented at the Festival Escrita na Paisagem (2011); Outra Lição de Anatomia, presented at the Tadeusz Kantor International Exhibition in Évora, at the exhibition Machine Tadeusz Kantor at SESC Consolação in São Paulo, and at Settimana Kantoriana in Salerno (2015), and also A Fila Para o Pão, presented in Évora (2020). He is co-creator with Teatro do Vestido, and performer in the play Filhos do Retorno (2017-2018). Assistant dramaturg and translator for Kaite O’Reilly and Philipp Zarrilli at the Festival Escrita na Paisagem (2010). Curator, with Nuno Veiga, of the platform From My Window (2020). Conducted, with Samara Azevedo, the workshop Self-portrait of a Hazy Reflection: between autobiographical writing and the image of the confined body, at the 9º Festival de Artes Cénicas at Bauru, Brazil, 2020.
Credits
Creation, direction, text and interpretation: Daniel Moutinho
Assistant Dramaturg: Lara Mesquita
Video: Vera Bibi
Set design: Carla Martinez
Soundscape: Nuno Veiga
Light design: Carlos Ramos
Costumes: Miu Lapin
Executive production: Cláudia Teixeira
Tattoos by: Binho Onze, Bruna Prazeres, Mirna Garcia, Sofia Nabais, Molin
Creation residencies: Trust Collective; Companhia Casa Cheia
A production Parrotrecord – associação cultural
In association with Karnart
Funding: Direcção Geral das Artes | Ministério da Cultura, Fundação GDA, Self-Mistake