“FUSO 2016 – 23 a 28 de Agosto“
Programa
27 Agosto, 23h15
Museu Arqueológico do Carmo
Desejo e Memória
Curadoria de Thierry Destriez
Duração da sessão 71’
Criado em 1975 por um coletivo de artistas, Heure Exquise! é uma instituição especializada na promoção, disseminação, preservação e distribuição de vídeo arte e documentário criativo.
Memória e desejo são os temas deste programa concebido especificamente para o festival FUSO 2016. Esta sessão apresenta, a partir do nosso catálogo de distribuição, obras marcantes de autores cujo trabalho é reconhecido internacionalmente.
Do desejo de amantes separados pelas normas sociais no filme de Carlos Motta, à memória do desejo em Between Time de Kika Nicolela, que decorre no antigo Museu Judaico em Bruxelas, tendo servido de prisão durante a ocupação Nazi e de terreno para recentes ataques terroristas.
Desejo pela transgressão no Darkening Process de Mounir Fatmi repetindo incansavelmente os gestos de um engraxador, simbolizando a ação do escritor e ativista John Griffin que queria exilar-se da sua própria pele ao “tornar-se preto”.
Desejo por uma memória de violência de guerra e memória de um lugar que tem resistido ao poder da bomba atómica em 200 000 Phantoms, agora símbolo de recordação e paz.
Finalmente, a memória de Ulisses numa empolgante jornada pelo tempo e literatura na brilhante narração de O Retrato de Ulisses de João Cristóvão Leitão.
Carlos Motta, Deseos (Desejos), EUA, 2015, 32’
Deseos (Desejos) expõe as formas como a medicina, o direito e a religião moldaram os discursos de corpos sem género através da narração de duas histórias: Martina, que vivia na Colômbia no século XIX e que foi julgada por ser hermafrodita, e Nour que vivia em Beirut durante o Império Otomano e foi forçada a casar com o irmão da sua amante. Parte documentário e parte ficção, o filme apresenta a correspondência entre duas mulheres que enfrentaram as consequências de desafiar as normas sexuais e de género.
Argumento Maya Mikdashi e Carlos Motta
Financiamento e Produção Council (França)
Coprodução Hordaland Kunstsenter (Noruega), MALBA, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Argentina), Röda Sten Konsthall (Suécia), Galeria Filomena Soares (Portugal), Mor.Charpentier Galerie (França)
Apoio Ashkal Alwan (Libano), DICRéAM (França), Göteborg International Biennal for Contemporary Art (Suécia)
Consultoria de guião Pablo Bedoya
Vozes Maya Mikdashi (Nour), Laura Riveros Sefair (Martina)
Com Maya Mikdashi (Nour), Jennifer Lorena Jiménez (Martina)
Câmara Mateo Guzmán (Colômbia), Mark Khalife (Libano)
Edição de vídeo Carlos Motta
Consultoria de edição de vídeo Irit Batsry
Design de som Zachary Dunham e Geoffrey Wilson
Produção Julián Grijalba (Colômbia), Jowe Harfouche (Libano)
Pós-produção e Correção de cor Margarida Lucas
Assistentes de câmara Juan Carlos Bernal (Colômbia), Hatem Chayna (Libano)
Técnicos de som Carolina del Mar Fernández (Colômbia), Chadi Abi Chacra (Libano), Ian Turner (vozes)
Assistentes de produção Alexander Rozo (Colômbia), Houssam Abdallah (Libano), Hadi Bou Ayash (Libano)
Tradução Osama Esber, Hazem Jamjoum, Maya Mikdashi, Carlos Motta, Cora Sueldo
Kika Nicolela, Entre-temps, Bélgica, 2006, 12’57’’
Entre-temps foi filmado no vazio espaço do antigo prédio do Museu Judaico da Bélgica, que aguarda pela sua destruição. Este prédio está carregado de uma pesada história: mansão transformada em escola, foi posteriormente ocupado pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial – que utilizaram a cela onde o vídeo foi filmado como prisão. Recentemente, o museu foi alvo de um ataque terrorista que provocou 4 mortos. Em Entre-temps, um corpo feminino, os seus movimentos e os seus sons estabelecem um diálogo com a arquitetura, a história e a energia específica do prédio. A cela vazia encontra-se à espera da sua destruição iminente; é um prédio que pulsa no limbo, em suspensão. O vídeo conta com a performance da atriz e bailarina Anna Tenta e música de Gauthier Keyaerts.
Performance Anna Tenta
Produção, Imagem e Montagem Kika Nicolela
Música Gauthier Keyaerts
Mounir Fatmi, Darkening Process, França, 2014, 9’35’’
M. Fatmi estuda no seu filme experimental Darkening Process (2014), a tentativa do escritor e ativista John Howard Griffin de se exilar na sua própria pele.
Ao “tornar-se preto” ele queria submeter-se às injustiças, sofridas pelos seus companheiros Afro-Americanos em 1950-1960. O único trabalho onde foi aceite apesar das suas qualificações foi um trabalho como engraxador. Mounir filma o ritual de engraxar para encontrar os gestos de Griffin.
Jean-Gabriel Périot, Nijuman No Borei (200 000 Phantoms), França, 2007, 10’
A-Bomb Dome (Cúpula Genbaku ou Cúpula da Bomba Atómica) é o nome de um antigo centro de negócios japoneses que se tornou num símbolo da destruição de Hiroshima pela bomba atómica americana de 1945.
Construído em 1915, este é o único edifício mais perto do ponto de impacto da explosão que ainda se mantém em pé. A-Bomb Dome nunca foi restaurada, mantendo-se como ficou no dia do bombardeamento; tornando-se no monumento memorial das centenas de milhares de mortes do dia 6 de Agosto de 1945.
“O meu trabalho artístico é um trabalho sobre violência, não na sua essência, mas como uma componente do homem civilizado. A sociedade humana é constituída, ao mesmo tempo, pela rejeição da violência interpessoal e pela sua supressão na relação estado/grupo, social/indivíduos. Mas como em qualquer processo de supressão, pode ressurgir quando o equilíbrio está em perigo. O desastre torna-se um elemento regulador da sociedade”. (Jean-Gabriel Périot)
Produção Envie de Tempête
João Cristóvão Leitão, O Retrato de Ulisses, 2015, 5’30’’
O Retrato de Ulisses é uma vertiginosa viagem pelo tempo e pela literatura. Uma viagem onde Ulisses se encontra enclausurado pelo mecanismo que é o loop, o qual opera a nível narrativo, a nível espácio-temporal (dada a utilização de um único plano-sequência) e a nível visual (mediante a reutilização constante do mesmo material imagético).
No fundo, O Retrato de Ulisses não é mais do que um questionamento sobre a identidade humana aquando do seu confronto com a possibilidade da circularidade do tempo e com as durações objetiva e subjetiva deste. Ulisses é Ulisses. No entanto, tal não significa que também não seja Cervantes, Pierre Menard, Alexandre Magno, César, Homero, Tchekhov, Nietzsche, Borges e, indubitavelmente, eu próprio.
“FUSO 2016 – August 23 to 28“
Program
August 27, 11:15pm
Museu Arqueológico do Carmo
Desire and Memory
Curatorship by Thierry Destriez
Total running time 71’
Created in 1975 by a collective of artists, Heure Exquise! specializes in the promotion, dissemination, preservation and distribution of video art and creative documentary.
Memory and desire are the themes of this program conceived specifically for the FUSO 2016 festival. It presents, from our distribution catalogue, strong works by authors internationally recognized.
From lovers’ desire separated by normative social standards in the film by Carlos Motta, to the memory of desire in Kika Nicolela’s Between Time, which takes place in the old Jewish Museum in Brussels, having served as a prison under the Nazi occupation and as the ground of the recent terrorist attack.
Desire for transgression in Mounir Fatmi’s Darkening Process tirelessly repeating the gestures of a shoe shiner in order to symbolize the action of the writer and activist John Griffin who wanted to exile himself from his own skin by “becoming black”.
Desire for a memory of war violence and the memory of a place that has withstood the power of an atomic bomb in 200,000 Phantoms, now a symbol of remembrance and peace.
Finally, the memory of Ulysses in a breathtaking journey through time and literature in the brilliant narration of João Cristóvão Leitão’s Ulysses’ Portrait.
Carlos Motta, Deseos (Desires), USA, 2015, 32’
Deseos (Desires) exposes the ways in which medicine, law and religion shaped discourses of bodies without gender through the narration of two stories: Martina’s, who lived in Colombia in the 19th century and was prosecuted for being a hermaphrodite, and Nour’s, who lived in Beirut during the Ottoman Empire and was forced to marry to her female lover’s brother. Both documentary and fiction, the film presents a correspondence between two women who faced the consequences of defying gender and sexual norms.
Script Maya Mikdashi and Carlos Motta
Financial support and Production Council (France)
Co-production Hordaland Kunstsenter (Norway), MALBA, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Argentina), Röda Sten Konsthall (Sweden), Galeria Filomena Soares (Portugal), Mor.Charpentier Galerie (France)
Support Ashkal Alwan (Lebanon), DICRéAM (France), Göteborg International Biennal for Contemporary Art (Sweden)
Screenwriting consulting Pablo Bedoya
Voices Maya Mikdashi (Nour), Laura Riveros Sefair (Martina)
With Maya Mikdashi (Nour), Jennifer Lorena Jiménez (Martina)
Camera Mateo Guzmán (Colombia), Mark Khalife (Lebanon)
Editing Carlos Motta
Video editing consulting Irit Batsry
Sound design Zachary Dunham and Geoffrey Wilson
Production Julián Grijalba (Colombia), Jowe Harfouche (Lebanon)
Post-production and Grading Margarida Lucas
Camera assistants Juan Carlos Bernal (Colombia), Hatem Chayna (Lebanon)
Sound technicians Carolina del Mar Fernández (Colombia), Chadi Abi Chacra (Lebanon), Ian Turner (voice)
Production assistants Alexander Rozo (Colombia), Houssam Abdallah (Lebanon), Hadi Bou Ayash (Lebanon)
Translation Osama Esber, Hazem Jamjoum, Maya Mikdashi, Carlos Motta, Cora Sueldo
Kika Nicolela, Entre-temps (Meantime), Belgium, 2006, 12’57’’
Entre-temps (Meantime) was shot in the empty space of the old building of the Jewish Museum of Belgium, which awaits its destruction. This building is loaded with a heavy history: first a mansion turned into school, it was later occupied by the Nazis during the Second World War – who used the cell where the video was shot as a prison. More recently, the museum has been the target of a terrorist attack killing four people. In Entre-temps, a female body, its movements and sounds establish a dialogue with the architecture, history and the building’s inner energy. The empty cell awaits its imminent destruction; it is a building pulsing in limbo, in suspension. The video includes the performance of the dancer and actress Anna Tenta, with music by Gauthier Keyaerts.
Performance Anna Tenta
Production, Image and Editing Kika Nicolela
Soundtrack Gauthier Keyaerts
Mounir Fatmi, Darkening Process, France, 2014, 9’35’’
M. Fatmi studies in his experimental film Darkening Process (2014), the attempt of the writer and activist John Howard Griffin to be exiled in his own skin.
By “turning black” he wanted to submit himself to the injustices suffered by his fellow African-Americans in 1950-1960. The only job where he was accepted despite his qualifications was one as a greaser. Mounir shoots the shining ritual to find Griffin’s gestures.
Jean-Gabriel Périot, Nijuman No Borei (200 000 Phantoms), France, 2007, 10’
The A-Bomb Dome is the name of a former Japanese business centre that became a symbol of the destruction of Hiroshima by the US atomic bomb in 1945.
Built in 1915, this is the only building left standing closer to the bomb’s point of impact. The A-Bomb Dome has never been restored; remaining as it was at the day of the bombing, it became the memorial for hundreds of thousands that died in August 6th, 1945.
“My artistic work is about violence, not in its essence but as a feature of the civilized man. Human society is constituted at the same time by the rejection of inter-personal violence and its suppression in the relation state/group, social/individuals. But as in any suppression process, its object may resurface when the balance is endangered. The disaster becomes a regulatory element of society”. (Jean-Gabriel Périot)
Production Envie de Tempête
João Cristóvão Leitão, O Retrato de Ulisses, 2015, 5’30’’
Ulysses’ Portrait is a giddy journey through time and literature. A journey where Ulysses is entrapped by the mechanism that is the loop, which operates at a narrative level, at a spatio-temporal level (due the use of a single sequence shot) and at a visual one (by constantly reuse the same footage).
After all, Ulysses’ Portrait is nothing more than an act of questioning human identity when confronting it with the possibility of time’s circularity and with its objective and subjective durations. Ulysses is Ulysses. However, that doesn’t mean that he isn’t, simultaneously, Cervantes, Pierre Menard, Alexander the Great, Caesar, Homer, Tchekhov, Nietzsche, Borges and, undoubtedly, myself as well.