“A VOZ HUMANA”

Carlos Pimenta

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Dantes as pessoas viam-se. Podíamos perder a cabeça, esquecer as promessas feitas, arriscar o impossível, convencer aqueles que adorávamos através de um beijo ou de um abraço. Um olhar podia mudar tudo. Mas, com este aparelho, o que acabou, acabou.

Jean Cocteau

 

Do seu quarto em desordem uma mulher telefona ao amante que acaba de a abandonar. O telefone chama uma voz sem corpo, sem local, mas plena de presença sonora. Desde logo uma voz apanhada numa rede de comunicações, sujeita a interferências, linhas cruzadas e terminações abruptas. O que procuramos encontrar na voz? Uma ligação direta ao humano?! No entanto essa ligação perde-se cada vez mais no advento da tecnologia e o homem vai-se transformando num simulacro inorgânico de si próprio. A voz já não nos devolve a imagem de um rosto. Transformada em sinais eletroacústico tornou-se disfarce da realidade. Ainda seremos capazes de reconstruir o corpo ignorando esta outra dimensão do real?

Carlos Pimenta e Raquel Castro

 

 

Ficha técnica

Texto Jean Cocteau

Tradução Alexandra Moreira da Silva

Conceção e Encenação Carlos Pimenta

Conceção, Som e Imagem Raquel Castro

Figurinos Bernardo Monteiro

Música original Dead Combo

Desenho de luz José Álvaro Correia

Intérprete Emília Silvestre

Coprodução Ensemble, São Luiz Teatro Municipal, DuplaCena/Festival Temps d’Images

“A VOZ HUMANA”

Carlos Pimenta

 

People used to see each other. We could lose our minds, forget the promises made, risk the impossible, convince those we worshiped through a kiss or a hug. One gaze could change everything. But with this device, what ended, is over.

Jean Cocteau

 

From her messy bedroom, a woman calls her lover who has just abandoned her. The phone calls a voice without body, without place, but full of sound presence. Firstly, a voice caught in a communications network, subject to interference, crossed lines and abrupt terminations. What do we expect to find in the voice? A direct link to the human being?! However, this connection is lost even more in the advent of technology and the human being is becoming an inorganic simulacrum of himself. The voice no longer returns us the image of a face. Transformed into electroacoustic signals it became a cover of the reality. Will we still be able to rebuild the body by ignoring this other dimension of reality?

Carlos Pimenta and Raquel Castro

 

 

Credits

Text Jean Cocteau

Translation Alexandra Moreira da Silva

Concept and Staging Carlos Pimenta

Concept, Sound and Image Raquel Castro

Costumes Bernardo Monteiro

Original soundtrack Dead Combo

Lighting design José Álvaro Correia

Interpreter Emília Silvestre

Co-production Ensemble, São Luiz Teatro Municipal, DuplaCena/Festival Temps d’Images