“A MORTE NOS OLHOS”

Alexandre Pieroni Calado, João Ferro Martins, Carlota Lagido

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Medusa abre ainda um sorriso sedutor e imobilizante. A persistência desta figura ambígua através das épocas, em poemas e vasos, moedas e colunas, mosaicos e pinturas e esculturas, em romances e filmes de distintos géneros e mesmo em jogos de computador, indicia a dimensão axiomática da experiência humana que nela se coagula.


As suas representações e os episódios mitológicos em que está envolvida são atravessados pela marca da ambivalência – animal e humano, mulher e homem, virgem e monstro, força mortífera e potência de criação – e talvez seja esta mesma ambivalência que a tenha tornado operador no âmbito de discursos contemporâneos sobre a linguagem, a identidade e as artes.

Alexandre Pieroni Calado e João Ferro Martins propõem um trabalho de criação em colaboração com a coreógrafa Carlota Lagido, assente na reescrita das fontes antigas do mito de Medusa e Perseu. Entre os escombros diversos da cultura, querem confrontar a fábula com a sua violenta actualidade: desagregação da linguagem simbólica, horror provocado pelo homem capaz de matar, caos informe de onde teimamos nos apartar, sem sucesso. Ouvem-se os termos do repto e as descrições das provas, cruzam-se episódios da saga, talvez banal, de um rapaz que afirma a sua idade adulta; escutam-se os gritos e os cânticos dolorosos e o riso das Górgonas. Já se vêem tijolos de cimento empilhados, um muro; algures inscritos caracteres numa grafia difícil de identificar, gregos ou árabes, mediterrânicos com certeza: será “coral” ou “serpente” ou “cavalo alado” escrito a sangue? Areia. Uma arquitectura pobre banhada a quente e a frio ao mesmo tempo: o corpo à mostra, a luz fixa.

 

Biografias dos criadores

Alexandre Pieroni Calado nasceu em Lisboa (1975), faz e investiga teatro. Tem trabalhado com artes performativas, visuais e sonoras, tendo criado nos últimos anos os espectáculos A Parede (2019) e A Morte e a Donzela. Dramas de Princesas (2015), com textos de Elfriede Jelinek, Woyzeck 1978 (2014), a partir de Georg Büchner, Quarteto (2013), de Heiner Müller, e Pregação (2012), entre outros. Desenvolveu a peça de auto-teatro Kaspar: Palavra Soprada (2017), a partir de texto de Peter Handke. Actuou em Tartufo, de Rogério de Carvalho (TM Almada, 2014) e participou como actor nos filmes Ramiro, de Manuel Mozos (2017) e Como Fernando Pessoa Salvou Portugal, de Eugéne Green (2018), tendo também colaborado em trabalhos de artes visuais como Interiores, de Rubene Palma Santos (Atelier 289, Faro 2018) e Debaixo do Vulcão, de Hugo Canoilas (MNAC, Lisboa 2017). 

 

João Ferro Martins licenciou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design (IPL Caldas da Rainha). Trabalha como artista visual, sonoro e performativo. As suas exposições individuais mais recentes incluem Sottile sfumatura di rumore (2017), Resonant Events (2016), La cosa che vuoi dirmi è bella o brutta? (2014), Mellow (2014), Reprise (2014), Contínuo (João Ferro Martins e Miguel Palma, 2013), Ficção Científica (2012), Ana Santos e João Ferro Martins (2011), F.O.R.M.E.L. (2011), From L to L and back again (João Ferro Martins e Ruth Proctor, 2011), Suite per vino solo (2011). Desenvolveu temas sonoros originais para Quarteto (2013), Woyzeck 1978 (2014), Dramas de Princesas (2015), criou uma instalação sonora para o projecto Parole Soufflée (2016) e fez direção musical para A Parede (2019), projectos de Alexandre Pieroni Calado. Também com Alexandre P. Calado criou o espectáculo O Declive e a Inclinação – fragmentos do mito de Sísifo (2016). Concebeu o espaço cénico e figurinos para a peça O Limpo e o Sujo de Vera Mantero (2016). Com o Colectivo A kills B que criou juntamente com Hugo Canoilas apresentou em Nam June Paik Art Center, Coreia do Sul (2008), Appleton Square, Lisboa (2010), CAM, Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian (2012), CCC, Collecting Collections and Concepts (2012), Fábrica ASA (2012), Palais de Tokyo, Paris (2013).

 

Carlota Lagido. De 1998 a 2014 criou LILITH (Black-box CCB, 1998), HISTÓRIAS QUE A MINHA MÃE NUNCA ME CONTOU (Festival X, 2000), NOTFORGETNOTFORGIVE (Eira, T. Carlos Alberto, Museu Berardo-1999-2009), DISNASTIDOG, em colaboração com Vítor Rua e João Galante (FestivalX, Lux, Danças na Cidade, 2001), BB e BB2 (ACARTE, Eira, Serralves em Festa 2004), UGLY (Eira, Citemor, Temps d’Images, MC/IA, 2003), SELF-UM AUTORETRATO EM 39 PARTES (Eira, Casa d’os dias da Água, MC/IA, 2004), MONSTER (Eira, 2009), THE IMPORTANCE OF NOTHING (Pogo Teatro, Festival SuperStereo, Teatro Maria Matos, 2012), A ROOM FULL OF DIRT, em colaboração com Miguel Bonneville (Temps d’Images, FCG, Negócio/ZDB, 2013), RO.GER (Temps d’Images, Mala Voadora, 2014). Em 2015 dirigiu a peça de teatro HOTEL FLAMINGO. Em 2016 criou 50 TONELADAS (Rua das Gaivotas 6, Temps d’Images, TAGV, malavoadora.porto, DGARTES). Estreou o seu novo espectáculo JUNGLE RED no DDD em 2018. Trabalhou como bailarina com Meg Stuart e Joana Providência, no início dos anos 90 e durante 20 anos dançou nas peças mais emblemáticas de Francisco Camacho. Faz design de figurinos e cenografia para espectáculos de dança e teatro, desde 1989. Colaborou com Vera Mantero, Lúcia Sigalho, Francisco Camacho, Paula Castro, Filipa Francisco, Meg Stuart, Clara Andermatt, Amélia Bentes, Paulo Ribeiro, João Fiadeiro, João Galante, Nuno M. Cardoso, Aldara Bizarro, Teresa Sobral, Companhia Inestética, Tiago Cadete, Raquel André, Rui Catalão, Jonas&Lander, Wagner Borges e Tiago Bôto e Leonor Keil. Foi assistente de guarda-roupa em vários filmes publicitários entre 2004 e 2006. Iniciou a sua formação em dança clássica com Margarida de Abreu, prosseguindo nos Cursos de Formação Profissional do Ballet Gulbenkian e mais tarde no Peridance Center em Nova Iorque. Estudou desenho na New York Academy of Arts. É mestranda no Curso de Teatro, na especialização de Design de Cena na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

 


Ficha técnica

Concepção, Dramaturgia Luz e Interpretação Alexandre Pieroni Calado

Concepção, Design de Cena, Música e Interpretação João Ferro Martins

Direcção Coreográfica Carlota Lagido

Direcção Técnica João Chicó_Contrapeso

peração técnica: Flávio Martins

Registo e Edição Vídeo Nuno Barroso

Fotografia Nuno Direitinho_Widegris

Design de Comunicação Miguel Pacheco Gomes

Produção: [A+  ] Artes e Engenhos

Apoios e Agradecimentos Departamento de Ciências Sociais Aplicadas / Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Centro Juvenil / Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Latoaria, Escola da Noite, Bar Damas, Edições Senhora do Monte, Antena 2, Rádio África e Rádio Universidade de Coimbra

“A MORTE NOS OLHOS”

Alexandre Pieroni Calado, João Ferro Martins, Carlota Lagido

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Medusa abre ainda um sorriso sedutor e imobilizante. A persistência desta figura ambígua através das épocas, em poemas e vasos, moedas e colunas, mosaicos e pinturas e esculturas, em romances e filmes de distintos géneros e mesmo em jogos de computador, indicia a dimensão axiomática da experiência humana que nela se coagula.


As suas representações e os episódios mitológicos em que está envolvida são atravessados pela marca da ambivalência – animal e humano, mulher e homem, virgem e monstro, força mortífera e potência de criação – e talvez seja esta mesma ambivalência que a tenha tornado operador no âmbito de discursos contemporâneos sobre a linguagem, a identidade e as artes.

Alexandre Pieroni Calado e João Ferro Martins propõem um trabalho de criação em colaboração com a coreógrafa Carlota Lagido, assente na reescrita das fontes antigas do mito de Medusa e Perseu. Entre os escombros diversos da cultura, querem confrontar a fábula com a sua violenta actualidade: desagregação da linguagem simbólica, horror provocado pelo homem capaz de matar, caos informe de onde teimamos nos apartar, sem sucesso. Ouvem-se os termos do repto e as descrições das provas, cruzam-se episódios da saga, talvez banal, de um rapaz que afirma a sua idade adulta; escutam-se os gritos e os cânticos dolorosos e o riso das Górgonas. Já se vêem tijolos de cimento empilhados, um muro; algures inscritos caracteres numa grafia difícil de identificar, gregos ou árabes, mediterrânicos com certeza: será “coral” ou “serpente” ou “cavalo alado” escrito a sangue? Areia. Uma arquitectura pobre banhada a quente e a frio ao mesmo tempo: o corpo à mostra, a luz fixa.

 

Biografias dos criadores

Alexandre Pieroni Calado nasceu em Lisboa (1975), faz e investiga teatro. Tem trabalhado com artes performativas, visuais e sonoras, tendo criado nos últimos anos os espectáculos A Parede (2019) e A Morte e a Donzela. Dramas de Princesas (2015), com textos de Elfriede Jelinek, Woyzeck 1978 (2014), a partir de Georg Büchner, Quarteto (2013), de Heiner Müller, e Pregação (2012), entre outros. Desenvolveu a peça de auto-teatro Kaspar: Palavra Soprada (2017), a partir de texto de Peter Handke. Actuou em Tartufo, de Rogério de Carvalho (TM Almada, 2014) e participou como actor nos filmes Ramiro, de Manuel Mozos (2017) e Como Fernando Pessoa Salvou Portugal, de Eugéne Green (2018), tendo também colaborado em trabalhos de artes visuais como Interiores, de Rubene Palma Santos (Atelier 289, Faro 2018) e Debaixo do Vulcão, de Hugo Canoilas (MNAC, Lisboa 2017). 

 

João Ferro Martins licenciou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design (IPL Caldas da Rainha). Trabalha como artista visual, sonoro e performativo. As suas exposições individuais mais recentes incluem Sottile sfumatura di rumore (2017), Resonant Events (2016), La cosa che vuoi dirmi è bella o brutta? (2014), Mellow (2014), Reprise (2014), Contínuo (João Ferro Martins e Miguel Palma, 2013), Ficção Científica (2012), Ana Santos e João Ferro Martins (2011), F.O.R.M.E.L. (2011), From L to L and back again (João Ferro Martins e Ruth Proctor, 2011), Suite per vino solo (2011). Desenvolveu temas sonoros originais para Quarteto (2013), Woyzeck 1978 (2014), Dramas de Princesas (2015), criou uma instalação sonora para o projecto Parole Soufflée (2016) e fez direção musical para A Parede (2019), projectos de Alexandre Pieroni Calado. Também com Alexandre P. Calado criou o espectáculo O Declive e a Inclinação – fragmentos do mito de Sísifo (2016). Concebeu o espaço cénico e figurinos para a peça O Limpo e o Sujo de Vera Mantero (2016). Com o Colectivo A kills B que criou juntamente com Hugo Canoilas apresentou em Nam June Paik Art Center, Coreia do Sul (2008), Appleton Square, Lisboa (2010), CAM, Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian (2012), CCC, Collecting Collections and Concepts (2012), Fábrica ASA (2012), Palais de Tokyo, Paris (2013).

 

Carlota Lagido. De 1998 a 2014 criou LILITH (Black-box CCB, 1998), HISTÓRIAS QUE A MINHA MÃE NUNCA ME CONTOU (Festival X, 2000), NOTFORGETNOTFORGIVE (Eira, T. Carlos Alberto, Museu Berardo-1999-2009), DISNASTIDOG, em colaboração com Vítor Rua e João Galante (FestivalX, Lux, Danças na Cidade, 2001), BB e BB2 (ACARTE, Eira, Serralves em Festa 2004), UGLY (Eira, Citemor, Temps d’Images, MC/IA, 2003), SELF-UM AUTORETRATO EM 39 PARTES (Eira, Casa d’os dias da Água, MC/IA, 2004), MONSTER (Eira, 2009), THE IMPORTANCE OF NOTHING (Pogo Teatro, Festival SuperStereo, Teatro Maria Matos, 2012), A ROOM FULL OF DIRT, em colaboração com Miguel Bonneville (Temps d’Images, FCG, Negócio/ZDB, 2013), RO.GER (Temps d’Images, Mala Voadora, 2014). Em 2015 dirigiu a peça de teatro HOTEL FLAMINGO. Em 2016 criou 50 TONELADAS (Rua das Gaivotas 6, Temps d’Images, TAGV, malavoadora.porto, DGARTES). Estreou o seu novo espectáculo JUNGLE RED no DDD em 2018. Trabalhou como bailarina com Meg Stuart e Joana Providência, no início dos anos 90 e durante 20 anos dançou nas peças mais emblemáticas de Francisco Camacho. Faz design de figurinos e cenografia para espectáculos de dança e teatro, desde 1989. Colaborou com Vera Mantero, Lúcia Sigalho, Francisco Camacho, Paula Castro, Filipa Francisco, Meg Stuart, Clara Andermatt, Amélia Bentes, Paulo Ribeiro, João Fiadeiro, João Galante, Nuno M. Cardoso, Aldara Bizarro, Teresa Sobral, Companhia Inestética, Tiago Cadete, Raquel André, Rui Catalão, Jonas&Lander, Wagner Borges e Tiago Bôto e Leonor Keil. Foi assistente de guarda-roupa em vários filmes publicitários entre 2004 e 2006. Iniciou a sua formação em dança clássica com Margarida de Abreu, prosseguindo nos Cursos de Formação Profissional do Ballet Gulbenkian e mais tarde no Peridance Center em Nova Iorque. Estudou desenho na New York Academy of Arts. É mestranda no Curso de Teatro, na especialização de Design de Cena na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.

 


Ficha técnica

Concepção, Dramaturgia Luz e Interpretação Alexandre Pieroni Calado

Concepção, Design de Cena, Música e Interpretação João Ferro Martins

Direcção Coreográfica Carlota Lagido

Direcção Técnica João Chicó_Contrapeso

peração técnica: Flávio Martins

Registo e Edição Vídeo Nuno Barroso

Fotografia Nuno Direitinho_Widegris

Design de Comunicação Miguel Pacheco Gomes

Produção: [A+  ] Artes e Engenhos

Apoios e Agradecimentos Departamento de Ciências Sociais Aplicadas / Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Centro Juvenil / Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Latoaria, Escola da Noite, Bar Damas, Edições Senhora do Monte, Antena 2, Rádio África e Rádio Universidade de Coimbra